Toda ação gera uma reação igual e oposta. Isaac Newton.
A lei de fluxo e refluxo, e da causa e efeito de Hermes Trismegistus, são a mesma coisa. E newton, era um grande admirador de Trismegistus.
Segundo a Terceira Lei de Newton, se um corpo A exerce uma força sobre um corpo B, o corpo B, consequentemente, exerce uma força de mesma intensidade sobre o corpo A. Essa força de interação resulta nas forças de ação e reação que possuem a mesma direção, porém os sentidos são diferentes.
É uma Lei Cósmica, que nem toda ação cria uma reação igual e oposta. Edson Exs
Questiono é que está é a lei que mais impera no Mundo,.por exemplo, se lanço uma bola de aço de Dez kilos contra uma de 3 kilos, a bola 1 lançará mais força-energia sobre a primeira do que o inversa, como propõe Newton, claro que estou vendo por vários.angulos de energias, desde a cinética, a das partículas..
Dois búfalos vão duelar são do mesmo porte-massa, estão a 20 metros de distância, correm em direção um do outro, no momento do impacto de suas cabeças, ondas de impacto percorrem seus corpos. Para Newton são 'ações e reações iguais', porem a terceira lei (Exs), o Buffalo que conseguir uma constante de velocidade mais que o outro, ou que, próximo do impacto, conseguiu ficar melhor suas patas no solo, dando lhe mais propulsão, seu impacto transmitirá mais onda de impacto, energia para o corpo do outro Buffalo, ou seja, houve 'ações e reações desiguais.
Em um jogo de futebol, dois times enfrentam-se. Mas o jogo terminou empatado, porem no decorrer do jogo, houve oscilações de Ações e Reações, porém, tecnicamente, um pode ter sido superior ao outro.
A ideia que toda ação cria uma reação igual e oposta. É muito difícil, tanto nos.planos físicos, químicos, emocionais, psicológicos, político financeiro...
Ou seja, a Terceira Lei (Exs) é um princípio Universal.
Vamos ver alguns exemplos, você pode amar uma pessoa mais do que ela te ama, tu pode odiar uma pessoa mais do que ela te odeia, um corpo tende a transmitir mais energia de um corpo para o outro, do que igualmente, as igualdades tendem a ser em sua maioria desigualdades, e sucessivamente.
O que se.pode fazer é, equilibrar os opostos, para gerar uma 'harmonia'. Edson Exs
A teoria da Relatividade e a Teoria X de Edson Exs
Esse vídeo abaixo provar uma das muitas visões da minha teoria X, em relação a teoria da Relatividade,
Que é baseada em altas velocidades , a da luz, onde ocorre o fenômeno de dilatação espaço-temporal, porem, minha teoria X, afirma que fenômenos espaço-temporais ocorrem em qualquer nível, até mesmo na 'inercia'. Vamos aos exemplos das duas teorias.
O Paradoxo dos Gêmeos da Relatividade.
O paradoxo dos gêmeos, é um experimento mental envolvendo a dilatação temporal, uma das consequências desse paradoxo, é que se um homem faz uma viagem ao espaço em uma nave em alta velocidade, ao retornar para a Terra, estará mais jovem do que o seu irmão que ficou em terra, movendo-se a velocidades cotidianas.
Os Gêmeos Sem Paradoxo da Teoria X de Edson Exs
Um gêmeo que passasse dez anos dormindo envelheceria menos do que o que o que passou 10 anos acordado, um gêmeo que passasse dez anos correndo envelheceria mais do que o que passou dez anos andando, um gêmeo que passasse dez anos vivendo no deserto escaldante envelheceria mais do que o que passou em zonas temperadas, um gêmeo que passasse dez anos alimentando-se regulamente envelheceria menos do que o que passou dez anos, alimentando-se desregulamente, um gêmeo que passa-se de, anos vivendo com uma mulher irriquieta, e briguenta, envelheceria mais, do que o que vivendo dez anos com uma mulher gentil, educada.
Na teoria X, de Edson Exs, um gêmeo que viaja para o espaço, é que pode retornar mais velho, do que o que ficou na Terra.
Como ocorreu em 2015-16. O gêmeo astronauta que ficou na espaço por 340 dias, voltou com muitos problemas de saúde, voltou mais 'velho que seu irmão astronauta que ficou 'estacionado' na Terra. Artigo completo abaixo.
Mc=ec: massa vezes conservação é igual a energia conservada e vice-versa.
“Conservar-se no espaço é viajar no tempo” Edson Exs.
O vídeo abaixo confirma a dilatação espaço-temporal conforme a teoria X, que eles ocorrem em qualquer nível, tanto na Terra como no Espaço. A teoria X diz que um gêmeo que cuidar mais do sono, envelhecera menos do que o outro que não valorizou seu sono.e isso o prejudicar em vários amigos desde do emocional psicológico, corporal. Ciensofia l de Edson Exs
o... Que geram reações iguais, ou opostas... Edson Exs
Ou seja, há 'Ações e reações' (em uma ação) não especicamente, 'Ação e reação'.
Isso acontece por causa da Lei Universal, da teoria X, que afirma:
'Para cada efeito, um emaranhado de causas unem para forma-lo, separam-se, para dissolve-lo' . Edson Exs
Tudo segue uma relação de causa e efeito, ou seja inferimos a existência de um objeto... Pela a existência de um outro objeto, porem não observamos que cada causa é formada de causas, e que cada efeito, é formado de efeitos. O plural formando o singular, e o singular formando o plural.
X
“Do pó viemos, e ao pó voltaremos”
É assim manas e manos: Nós fomos ensinados de trás para frente, para não compreendermos nada, estás a ver? Por isso até hoje temos imensas dificuldades de entender o mundo. E isto é tudo propositado... é importante que nós saibamos dessas coisas e isso não nos vai ser possível, estudando os estudos deles. Eles tiveram muito tempo para codificar tudo, usaram termos que só eles sabem decifrar, inventaram vários nomes para as mesmas coisas, nomeiaram-nas por letra, depois por números e depois por cores... tudo para dificultar a nossa compreensão.
O maior medo deles é ter de competir ao pé de igualdade com um negro que consiga recuperar todo conhecimento deixado pelos seus ancestrais. Eles temem isso, por isso tudo fazem para confundir os nossos conhecimentos.
Por exemplo, eles nunca te disseram que os relâmpagos vêm da terra né? Pois... é que, parte da energia que controla o cosmo são produzidos pelos minerais existentes na terra... estás a ver? Mas sobre isso eu vos falo em uma outra altura.
O que eu quero partilhar convosco é sobre a emblemática profecia: Do pó viemos e ao pó voltaremos.
Manos, vocês precisam estudar o conhecimento afrikano. Não há quaisquer conhecimentos iniciáticos que tenha escapado dos nossos ancestrais. Antes desta frase ser uma profecia, ela é uma verdade conhecida à milhões de anos pelos nossos ancestrais.
Foram os nossos ancestrais que descobriram que, o ser humano era composto da mesma matéria que compõe a terra e o cosmo. Imhotep foi o pai daquilo que hoje chamamos de An(atom)ia, que estuda o “atom”, que transmutou para Adom, que passou para Adão... o ser humano. Por isso você precisa estudar o teu corpo para compreender o cosmo. O seu cérebro é uma miniatura do cosmo, você sabia disso?
Na verdade, Adão é Atom, de átomos... ou seja, nós somos unidades básicas de uma matéria composta por átomos (onde seu núcleo são protões, neutrões e eletrões). Mas que matérias são essas dos quais somos feitos? Minerais manos... nós somos átomos de mi-ne-rais.
Nós, somos feitos de 102 dos 103 (ou 104) minerais encontrados na terra. Aquilo que conhecemos por tabela periódica, mas que muitos chamam erradamente de tabela química é, na verdade, uma tabela que representa os minerais existentes na terra, dos quais fizemos parte: o nosso corpo é feito de ouro, zinco, cobre, manganês, ferro, iodo, potássio, vanádio, bromo, mercúrio, chumbo, etc etc... os mesmos que encontramos na terra.
Nós e a terra, somos feitos da mesma matéria, só que, em diferentes níveis de átomos, qualidades e estados. Por exemplo, enquanto muitos desses minerais na terra aparecem em estado óxido, nós estamos em estado quelato ou orgânico, percebes?
Quando morremos, nós perdemos a qualidade orgânica e voltamos ao estado inicial de existência, e nos tornamos terra... PÓ (pequenos átomos de minerais). Nós e todos os seres vivos da terra, quando morremos voltamos ao pó por este motivo, percebeu agora?
Por isso é que, quando falamos em nu(núbios)+tri(corpo, mente e espírito)+ção (iniciar)=nutrição, significa voltar à dieta do homem original, dos núbios.
Os alimentos originais contém minerais e não essas coisas de vitaminas. Me diz ainda, você vê alguma vitamina aí nessa tabela? E eles nos dizem que a vitamina é tudo para a nossa saúde, né?
Nós precisamos de ferro, zinco, cobre e outros minerais que só os alimentos originais te poderão oferecer... e não vitaminas. Nós não somos feitos de vitaminas mano, por isso andamos todos anêmicos, por deixarmos de nós nutrir de ferro, em troca de vitaminas.✨🤦🏿♂️
Manos, fomos nós que começamos com a Química. Como achas que os kemeticos conseguiram criar argamassas, tintas orgânicas, bebidas, e outras coisas? A Química (do inglês, CHEMISTRY), foi tirada do termo KMT (de Kemet): CHEM = QUIM = KMT... entendes? É de lá onde veio todos esses conhecimentos. Os nossos ancestrais foram os pioneiros em todas essas ciências que hoje eles chamam de modernas.
O grande problema foi depois deles açambarcarem todos os conhecimentos deixados pelos nossos ancestrais, eles não conseguiram lidar com a espiritualidade que com as ciências andavam.
As ciências desenvolvidas pelos nossos ancestrais estavam intrinsecamente ligada à nossa espiritualidade. E, enquanto não aprendermos a resgatar a nossa espiritualidade, não conseguiremos recuperar as nossas sabedorias científicas.
Por isso mesmo é que, quaisquer dizeres para nós hoje se parecem com profecias.
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Estudo com gêmeos revela os efeitos do espaço no nosso DNA
Scott Kelly passou um ano na Estação Espacial Internacional. Seu irmão gêmeo, Mark, ficou na Terra. E a Nasa descobriu o que o espaço fez com seus genes.
Os irmãos Kelly se tornaram astronautas da Nasa, ao mesmo tempo, em 1996 – e, com essa escolha de carreira, acabaram doando a vida inteira para a ciência. Em um experimento inédito chamado de Estudo dos Gêmeos (é claro), 12 universidades se debruçaram sobre os amostras do corpo dos dois para tentar entender como o corpo humano reage ao espaço. E a Nasa acaba de divulgar os primeiros resultados dessa pesquisa.
Scotty Kelly ficou 340 dias na Estação Espacial Internacional. A ideia é que ele permanecesse fora do planeta por um intervalo equivalente à duração de uma missão à Marte. Assim, teríamos uma ideia melhor dos riscos que uma viagem ao Planeta Vermelho traria.
Por sorte, Scott Kelly dividiu o útero e praticamente todo seu DNA com seu irmão Mark Kelly. Mark passou apenas 54 dias no espaço há mais de 10 anos, mas se aposentou para cuidar da esposa (Gabrielle Giffords, política americana que sofreu uma tentativa de assassinato e até hoje lida com as sequelas).
Uma vez que estava na Terra, Mark automaticamente se tornou um “experimento de controle”. Todos os exames, testes e estudos feitos com Scott foram comparados com amostras de Mark para entender o que era normal e o que era efeito da longa exposição ao espaço – já que, em termos de genética, ambos são praticamente idênticos.
Alguns dos efeitos observados por outros astronautas também foram sentidos por Scott: problemas de visão, perda de densidade óssea, dificuldade de circulação e um rostinho inchado (porque a microgravidade não puxa o sangue para as pernas como na Terra).
Mas o Estudo dos Gêmeos é o primeiro a conseguir medir o impacto do espaço no material genético. Com a exposição prolongada à radiação cósmica, os pesquisadores imaginavam impactos significativos no DNA de Scott, comparado ao de Mark – só que a mudança não foi bem a que eles esperavam
O envelhecimento humano é um processo complexo e a ciência ainda não consegue explicá-lo completamente. Mas um dos fatores relacionadosa ele acontece nos nossos cromossomos: conforme os anos passam, as pontinhas dos cromossomos, chamadas de telômeros, vão encurtando.
A tese era que, com o estresse que o corpo sofre no espaço, junto com a radiação, os telômeros de Scott ficassem mais curtos do que o normal para a sua idade. Mas não foi o que aconteceu: enquanto ele estava no espaço, seu telômeros cresceram e ficaram maiores do que os de Mark, na Terra.
Os pesquisadores que fizeram a análise acham que a mudança pode ser atribuída à dieta e ao rígido ritmo de exercícios que Scott seguia na Estação. Mas não pode ser só isso – porque ao chegar na Terra, os telômeros dele voltaram ao tamanho que estavam antes da viagem.
Esse não foi o único mistério genético que a pesquisa observou. A metilação do DNA também mudou. Esse processo acontece quando o corpo adiciona pequenos compostos orgânicos chamados metil a diferentes áreas do DNA. Uma área com grande concentração de metil, acreditam os pesquisadores, geralmente significa que os genes naquela região foram “desativados” pelo próprio corpo.
Esse processo todo diminuiu de ritmo no corpo de Scott, modificando menos genes. No corpo de Mark, ele aumentou. E os cientistas ainda não sabem o motivo.
Por fim, os pesquisadores fizeram o sequenciamento completo do DNA dos dois. Eles variavam pouco em termos genéticos – algumas centenas de mutações individuais, muito normal, mesmo para gêmeos. Só que eles também analisaram o RNA, uma forma mais simples de material genético. E, nesse caso, a diferença na expressão dos genes foi bem maior: mais de 200 mil variações entre os astronautas.
A ideia agora é analisar cada uma dessas mudanças de perto – e descobrir se existe algum gene “espacial”, que tenha sido modificado ou ativado simplesmente pela presença prolongada fora do planeta. O Estudo dos Gêmeos deve ser terminado nos próximos 2 anos – e aí vai dar para saber, com mais certeza, os efeitos duradouros das viagens além-Terra.
A capacidade de sentir prazer, dor e medo não é exclusiva dos seres humanos. Ela é, na verdade, vital para a sobrevivência de seres de várias espécies.
Mas, o que acontece com emoções mais complexas, como a capacidade de sofrer pela perda de um ente querido ou de sentir indignação quando consideramos que fomos injustiçados?
A biologia evolutiva e as ciências do comportamento e do cérebro têm demonstrado que o sistema nervoso dos humanos tem semelhanças impressionantes com o de alguns animais, especialmente de outros mamíferos.
Por isso, não deveria surpreender que o experiente primatólogo e antropólogo espanhol Pablo Herreros garanta que algumas emoções que muitas vezes consideramos exclusivamente humanas não sejam experimentadas apenas pelos homens.Felipe
Uma pessoa com inteligência mediana é capaz de distinguir entre o que é justo e o que não é. Primatas como os macacos-prego também possuem essa capacidade.
Esses mamíferos se negam a cooperar quando sentem que foram tratados injustamente, de acordo com um estudo do Yerkes Primate Center, em Atlanta, nos Estados Unidos.
Os cientistas desse centro executaram um experimento no qual davam pedaços de pepino a um grupo destes macacos em troca de cartões de plástico.
Depois, um dos pesquisadores deu a apenas um dos animais uma uva - alimento que eles preferem ao pepino.
Logo em seguida, os demais se recusaram a continuar colaborando. Alguns até jogaram os pedaços de pepino nos rostos dos cientistas.
a ideia de vingança já passou alguma vez pela cabeça de quase todos os humanos, não há razão para pensar que o mesmo não aconteça com alguns animais.
Aliás, é famoso o episódio registrado na Índia em 2016, quando uma manada de elefantes invadiu a aldeia de Ranchi, no nordeste do país, forçando os moradores a fugirem para sobreviver.
Os elefantes buscavam o corpo de uma fêmea que havia morrido após cair em um canal de irrigação.
Outros animais também se mostraram rancorosos e vingativos com adestradores agressivos.
Os chimpanzés, por exemplo, guardam em seus cérebros quem são seus amigos e seus inimigos. Se um agride o outro, seus companheiros podem se vingar.
3. Amor materno
CRÉDITO,GETTY IMAGES
Legenda da foto,
Como em outras espécies, o sentimento materno das mães primatas já foi demonstrado pela ciência
Os seres humanos que têm filhos tendem a ser amorosos e protetores com eles. De tão conhecida, a frase "Não há amor como o de uma mãe" já até virou clichê.
E, em seu livro, Pablo Herreros compila vários exemplos de amor materno de animais que cuidaram de suas crias com tanta paixão como o faria uma pessoa.
Este foi o caso de Christina, uma chimpanzé da Tanzânia cujo filhote nasceu com uma condição que provoca sintomas similares aos da Síndrome de Down e uma hérnia que o impedia de sentar sozinho.
Pesquisadores da Universidade de Kyoto, no Japão, testemunharam o extremo cuidado desta mãe, que às vezes deixava de comer para cuidar de seu bebê.
A filhote morreu aos dois anos de idade. E na época, Christina não deixou que outros a carregassem, como se soubesse que ninguém poderia fazer isso melhor do que ela.
O caso de uma mãe elefante e sua filha - que foi roubada da manada para ser levada a um campo de trabalho - também mostra esse lado das emoções no mundo animal.
Três anos depois elas se reencontraram após esforços de uma organização conservacionista. As duas ficaram quietas durante uma hora, mas, depois, começaram a unir suas trombas e a se acariciar.
4. Sofrimento por amor
CRÉDITO,GETTY IMAGES
Legenda da foto,
As araras, por exemplo, podem não suportar a perda de um companheiro
Rompimentos amorosos e a perda do parceiro, ou da parceira, são motivos de sofrimento para muita gente.
E Herreros destaca em seu livro como as araras, que são fiéis a seus parceiros a vida inteira, são criaturas especialmente frágeis diante deste tipo de perda.
Por exemplo, se um dos dois morre repentinamente, é difícil para o outro suportar: ele geralmente para de comer e enfraquece.
Alguns chegam a perder tanta força que não conseguem mais se agarrar aos penhascos onde vivem e acabam caindo no vazio, morrendo esmagados contra as rochas.
Uma forma de suicídio por amor?
5. Capacidade de confortar o outro,
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Estudo com gêmeos revela os efeitos do espaço no nosso DNA
Scott Kelly passou um ano na Estação Espacial Internacional. Seu irmão gêmeo, Mark, ficou na Terra. E a Nasa descobriu o que o espaço fez com seus genes.
Os irmãos Kelly se tornaram astronautas da Nasa, ao mesmo tempo, em 1996 – e, com essa escolha de carreira, acabaram doando a vida inteira para a ciência. Em um experimento inédito chamado de Estudo dos Gêmeos (é claro), 12 universidades se debruçaram sobre os amostras do corpo dos dois para tentar entender como o corpo humano reage ao espaço. E a Nasa acaba de divulgar os primeiros resultados dessa pesquisa.
Scotty Kelly ficou 340 dias na Estação Espacial Internacional. A ideia é que ele permanecesse fora do planeta por um intervalo equivalente à duração de uma missão à Marte. Assim, teríamos uma ideia melhor dos riscos que uma viagem ao Planeta Vermelho traria.
Por sorte, Scott Kelly dividiu o útero e praticamente todo seu DNA com seu irmão Mark Kelly. Mark passou apenas 54 dias no espaço há mais de 10 anos, mas se aposentou para cuidar da esposa (Gabrielle Giffords, política americana que sofreu uma tentativa de assassinato e até hoje lida com as sequelas).
Uma vez que estava na Terra, Mark automaticamente se tornou um “experimento de controle”. Todos os exames, testes e estudos feitos com Scott foram comparados com amostras de Mark para entender o que era normal e o que era efeito da longa exposição ao espaço – já que, em termos de genética, ambos são praticamente idênticos.
Alguns dos efeitos observados por outros astronautas também foram sentidos por Scott: problemas de visão, perda de densidade óssea, dificuldade de circulação e um rostinho inchado (porque a microgravidade não puxa o sangue para as pernas como na Terra).
Mas o Estudo dos Gêmeos é o primeiro a conseguir medir o impacto do espaço no material genético. Com a exposição prolongada à radiação cósmica, os pesquisadores imaginavam impactos significativos no DNA de Scott, comparado ao de Mark – só que a mudança não foi bem a que eles esperavam
O envelhecimento humano é um processo complexo e a ciência ainda não consegue explicá-lo completamente. Mas um dos fatores relacionadosa ele acontece nos nossos cromossomos: conforme os anos passam, as pontinhas dos cromossomos, chamadas de telômeros, vão encurtando.
A tese era que, com o estresse que o corpo sofre no espaço, junto com a radiação, os telômeros de Scott ficassem mais curtos do que o normal para a sua idade. Mas não foi o que aconteceu: enquanto ele estava no espaço, seu telômeros cresceram e ficaram maiores do que os de Mark, na Terra.
Os pesquisadores que fizeram a análise acham que a mudança pode ser atribuída à dieta e ao rígido ritmo de exercícios que Scott seguia na Estação. Mas não pode ser só isso – porque ao chegar na Terra, os telômeros dele voltaram ao tamanho que estavam antes da viagem.
Esse não foi o único mistério genético que a pesquisa observou. A metilação do DNA também mudou. Esse processo acontece quando o corpo adiciona pequenos compostos orgânicos chamados metil a diferentes áreas do DNA. Uma área com grande concentração de metil, acreditam os pesquisadores, geralmente significa que os genes naquela região foram “desativados” pelo próprio corpo.
Esse processo todo diminuiu de ritmo no corpo de Scott, modificando menos genes. No corpo de Mark, ele aumentou. E os cientistas ainda não sabem o motivo.
Por fim, os pesquisadores fizeram o sequenciamento completo do DNA dos dois. Eles variavam pouco em termos genéticos – algumas centenas de mutações individuais, muito normal, mesmo para gêmeos. Só que eles também analisaram o RNA, uma forma mais simples de material genético. E, nesse caso, a diferença na expressão dos genes foi bem maior: mais de 200 mil variações entre os astronautas.
A ideia agora é analisar cada uma dessas mudanças de perto – e descobrir se existe algum gene “espacial”, que tenha sido modificado ou ativado simplesmente pela presença prolongada fora do planeta. O Estudo dos Gêmeos deve ser terminado nos próximos 2 anos – e aí vai dar para saber, com mais certeza, os efeitos duradouros das viagens além-Terra.
Ratos, assim como golfinhos, cães e elefantes, entre outros, são capazes de confortar um parceiro que está sofrendo
Não são apenas as pessoas que são capazes de ter empatia e sentir compaixão pelos outros.
Um estudo publicado na revista Science em 2016 demonstrou que animais como ratazanas ou ratos do campo são capazes de perceber quando seus pares estão sofrendo, e de oferecer a eles conforto.
Ao colocar um desses roedores junto com outro altamente estressado, os pesquisadores mostraram que o animal que estava bem era extremamente cuidadoso com o outro, para fazê-lo se sentir melhor.
Quando fazia isso, o cérebro do roedor estressado gerava oxitocina - conhecida como "o hormônio do amor" - que o fazia recuperar a sensação de bem-estar.
Outros estudos mostraram que os chimpanzés confortam vítimas de agressão. Algo semelhante acontece com golfinhos, elefantes e cachorros.
Edson Exs principalmente a temperatura que faz com que a reprodução dos répteis gerem mais elementos machos do que fêmeas... deve ter demorado milhares de anos com todos esses fatores... isso sim é ciência
É merecida a reputação que o naturalista britânico ganhou como um cientista que passou anos viajando e observando o mundo natural. Ele elaborou sua teoria com detalhes e claridade sem precedentes, transformando a forma com que pensamos o mundo.
Mas o jornalista científico Ehsan Masood, que realizou uma série para a BBC chamada Islam and Science (O Islã e a Ciência), diz que é importante recordar outros que contribuíram com a história do pensamento evolutivo.
Criacionismo
Ehsan Masood também destaca que o criacionismo não parecia existir como um movimento significativo no século 9 no Iraque, quando Bagdá e Baçorá eram os principais centros de ensino avançado na civilização islâmica.
"Os cientistas não passavam horas examinando paisagens da Revelação para ver se eram comparáveis com o conhecimento observado no mundo natural", escreveu Masood em artigo sobre Al-Jahiz no jornal britânico The Guardian.
Ao fim, foi também a busca pelo conhecimento que provocou a morte de Al-Jahiz. Conta-se que, aos 92 anos, ele tentou alcançar um livro em uma estante pesada, quando a estrutura desabou, matando-o.
Por Prof. Luana Polon em 05/08/2015 (atualização: 21/05/2020)
O planeta Terra tem 4,53 bilhões de anos. Neste tempo todo, muitas mudanças ocorreram. Estas grandes transformações sofridas pela Terra são divididas em tempos geológicos. Esta escala de tempo, que se preocupa com as mudanças geológicas da Terra, é medida em milhões de anos.
São quatro divisões principais que constituem a escala geológica de tempo: Éon, Era, Período e Época. Dentre estes, o Éon é o que representa a maior porção de tempo, seguido das Eras, Período até chegar às Épocas, que são momentos do tempo geológico a partir da Era Mesozoica.
As Eras geológicas contam a história evolutiva do planeta Terra. São marcadas por características específicas das mudanças pelas quais o planeta passava naquele momento histórico. Elas estão descritas na Tabela Estratigráfica Internacional, onde também são registradas mudanças que possam ocorrer a partir de descobertas científicas.
Índice
Tempo geológico
Há várias formas de definir o tempo, e uma delas é o Tempo geológico. Esta forma de medição do tempo tem como base a história evolutiva do planeta Terra, especialmente em sua estrutura geológica.
Geo se refere a Terra, Logia é o estudo. Assim, a área da ciência que se preocupa com a origem, história, vida e estrutura da Terra é a Geologia. O Tempo geológico diz respeito ao tempo que as principais mudanças no planeta Terra levaram para acontecer. Ele marca os momentos mais importantes pelos quais a Terra passou.
O planeta Terra tem 4,53 bilhões de anos de história. Ao longo deste tempo muitas coisas ocorreram, constituindo as características do planeta atual. Algumas mudanças são facilmente percebidas, como a formação das montanhas terrestres através da orogênese. Houve ainda o surgimento das espécies, a extinção de muitas espécies antes existentes, glaciações, expansão de espécies pelo globo e o próprio surgimento dos hominídeos.
O Tempo geológico é importante porque as grandes mudanças do planeta Terra levaram milhões de anos para ocorrer, através de vários processos endógenos e exógenos, mudanças na composição e na estrutura da Terra. As mudanças nunca param de acontecer no planeta, novas descobertas são feitas, vulcanismos e terremotos acontecem, novas espécies surgem enquanto outras se extinguem. A Terra é dinâmica, tudo muda o tempo todo.
O que são Eras geológicas?
São reconhecidas na Tabela Estratigráfica Internacional quatro Eras terrestres. Estas Eras são subdivisões dos Éons. As Eras geológicas são subdividas em Períodos, que por sua vez são subdivididos em Épocas. Todos estes importantes momentos abrangem os 4,53 bilhões de anos da Terra.
As Eras geológicas são:
Pré-Cambriana;
Paleozoica;
Mesozoica;
Cenozoica.
Destas, apenas a Pré-Cambriana não apresenta divisões. Ela abrange desde os 4.560 milhões de anos aproximadamente até os últimos 545 milhões de anos, quando começa a Era Paleozoica. Esta era se estende por dois Éons, que são o Arqueano e o Proterozoico.
A partir da Era Paleozoica, começa uma divisão em Períodos, e apenas na Era cenozoica é que os Períodos são também divididos em Épocas. Isso ocorre porque as mudanças são mais facilmente detectáveis através de testes científicos.
Principais características das eras geológicas
As Eras geológicas são marcadas por profundas mudanças ou grandes acontecimentos na história evolutiva do planeta Terra. Alguns destes acontecimentos são:
Era Pré-Cambriana
Começa há 4.560 milhões de anos e se estende até os 545 milhões de anos.
Esta é a Era na qual as mudanças ainda estão ocorrendo.
É a Era atual da evolução do planeta Terra.
Tabela das Eras geológicas
Para a Tabela Estratigráfica Internacional existem:
3 Éons: Arqueano, Proterozoico e Fanerozoico.
4 Eras: Pré-Cambriana, Paleozoica, Mesozoica e Cenozoica.
11 Períodos: Cambriano, Ordoviciano, Siluriano, Devoniano, Carbonífero, Permiano, Triássico, Jurássico, Cretáceo, Terciário (Paleogeno e Neogeno) e Quaternário.
7 Épocas: Paleoceno, Eoceno, Oligoceno, Mioceno, Plioceno, Pleistoceno e Holoceno.
Qual é a primeira era geológica?
A primeira Era geológica é a Pré-Cambriana. Esta Era abrange os Éons Arqueano e Proterozoico. Ela não é dividida em Períodos e nem em Épocas. O Pré-Cambriano corresponde ao período de tempo que vai desde a formação da Terra (cerca de 4,53 bilhões de anos) até ao início do Período Cambriano, quando começa a Era Paleozoica.
A Era Pré-Cambriana, nos Éons Arqueano e Proterozoico, é o maior tempo geológico do planeta Terra. É também o tempo sobre o qual se tem menos informações. Sabe-se que é o momento em que houve, a partir do Big Bang, a formação dos oceanos, da Lua, dos minerais, os primórdios da oxigenação e da formação de algumas vidas multicelulares.
Era geológica atual
Atualmente o planeta Terra vive o Éon Fanerozoico, o que ocorre desde os últimos 545 milhões de anos na escala geológica. A Era que a Terra vive atualmente é a Era Cenozoica.
A Era Cenozoica teve início há cerca de 65 milhões de anos. Primeiramente houve um Período chamado de Terciário, o qual era dividido em Paleogeno e Neogeno. Mais recentemente a Era Cenozoica é caracterizada pelo Período Quaternário, o qual teve começo há cerca de 1,8 milhão de anos.
O Quaternário teve uma primeira Época chamada de Pleistoceno. Atualmente vive-se a Época Holoceno. A Época atual teve início há cerca de 0,01 milhão de anos, constituindo o momento mais recente da história evolutiva do planeta Terra.
O Período Terciário, na Era cenozoica, que durou de 65 milhões de anos até 1,8 milhão de anos, é constituído por cinco Épocas, sendo elas do mais antigo ao mais recente:
Paleoceno
Eoceno
Oligoceno
Mioceno
Plioceno.
Já o Período Quaternário, que é o atual dentro da Era Cenozoica, é formado por duas Épocas, sendo elas da mais antiga para mais recente:
Pleistoceno
Holoceno.
Holoceno
É no Holoceno que aconteceu toda a evolução do homem (Foto: depositphotos)
O Holoceno, que é a Época mais recente da história da Terra, corresponde aos acontecimentos na Terra nos últimos 11.000 anos. O Holoceno marca o fim da última grande glaciação – Idade do Gelo – pela qual o planeta Terra passou. Quando formas de vida atuais começaram a emergir e se espalhar pelo planeta.
Foi durante o Holoceno que todas as criações humanas ocorreram, todos os conflitos mundiais, grandes guerras, construções históricas, extinção de civilizações, avanços tecnológicos. Desta forma, o Holoceno é testemunha de toda vida humana moderna, inclusive das formas pelas quais o homem passou a se apropriar da natureza.
No ano de 2018, a União Internacional de Ciências Geológicas (uma das maiores organizações de estudos sobre o planeta Terra) dividiu a Época Holoceno em três subdivisões, sendo elas da mais antiga para a mais nova:
Gronelandês (11,65 mil anos atrás até 8,326 mil anos atrás)
Norte-Gripiano (8,326 mil anos atrás até 4,2 mil anos atrás)
Meghalaiano (4,2 mil anos atrás até o presente).
Era Cenozoica
A Era Cenozoica, que é a Era atual, é marcada pelo aparecimento dos mamíferos no planeta Terra. Sendo que das 28 ordens de mamíferos que surgiram, apenas 16 ainda vivem. Os primeiros onívoros também surgiram neste contexto geológico, os quais são animais que se alimentam de outros animais e também de vegetais.
Ainda nessa Era, mais precisamente no Pleistoceno (primeira Época), houve o período Glacial ou Idade do Gelo, quando ocorreu um congelamento do hemisfério norte do globo. Em escalas menores também ocorreram glaciações no hemisfério sul do globo. Com o Holoceno (segunda Época) marca-se o fim da glaciação e nova expansão de formas de vida pela Terra.
Embora existam controvérsias, acredita-se que os primeiros ancestrais humanos tenham surgido no Pleistoceno, na Era Cenozoica. Alguns dos que foram registrados são o Australopitecos na África do Sul; o Homem de Java e também o Homem de Pequim. Com o surgimento do homem, começam também as transformações antrópicas da natureza, as quais avançam juntamente com o progresso tecnológico.
Não se sabe quando a Era Cenozoica irá ter uma ruptura, dando espaço para outra Era geológica. Talvez para que isso ocorra seja necessário um grande acontecimento a nível planetário, ou quem sabe uma profunda mudança na relação entre os seres vivos e o ambiente no qual vivem e do qual dependem.
Por enquanto, todos os seres humanos que vivem na Terra são fruto do mesmo momento geológico, desde pelo menos os últimos 11.000 anos, quando inicia-se o Holoceno na Era Cenozoica, no âmbito do Período Quaternário.
Antropoceno existe?
Há alguns pesquisadores que defendem que estamos vivendo um novo Período na escala geológica de tempo, o qual seria chamado de Antropoceno. O Período anterior teria ficado para trás no contexto das mudanças ocorridas a partir da Revolução Industrial, ainda na segunda metade do século XVIII. Segundo estes pesquisadores, o rápido crescimento populacional seria um novo agente que deveria ser somado às transformações geológicas.
O Antropoceno não é considerado na Tabela Estratigráfica Internacional, portanto, não é um Período formalmente reconhecido pela comunidade internacional. No entanto, os pesquisadores que defendem a existência do Antropoceno acreditam que, com a Revolução Industrial, houve um aumento massivo da pressão exercida pelas atividades humanas sobre os recursos naturais do planeta, causando intensas transformações na Terra. E isso caracterizaria algo de destaque na escala do tempo geológico.
Há algumas contradições sobre se este novo período de tempo na escala geológica seria um novo Período ou uma nova Época. Algumas pessoas acreditam que o Holoceno pode também ser chamado de Antropoceno, pois foi nesta Época que todas as grandes coisas feitas pela humanidade ocorreram. De qualquer forma, por enquanto esta nomenclatura não é oficialmente utilizada na ciência.
Hadeano, o primeiro Éon
O Hadeano teve como seu limite o início do esfriamento da Terra (Foto: depositphotos)
A divisão dos Éons na escala geológica de tempo pode ser encontrada de algumas maneiras diferentes. Isso porque novas descobertas e reconsiderações na ciência podem ocorrer. Algumas literaturas trazem quatro Éons, sendo eles: Hadeano, Arqueano, Proterozoico e Fanerozoico.
Outras literaturas não apresentam o Hadeano, classificando somente a partir do Arqueano, isso porque o Hadeano seria uma representação do princípio do processo de formação dos planetas do Sistema Solar, ou seja, antes mesmo que a Terra estivesse formada. O Hadeano teria seu limite há aproximadamente 3,85 bilhões de anos, com o surgimento das primeiras rochas (resfriamento da Terra), o que marcaria o começo do Arqueano.
Tempo geológico comparado aos meses do ano
Uma comparação que nos ajuda a termos uma ideia do quão extenso é o tempo geológico é fazendo a relação com os meses de um ano. Veja:
Janeiro: dia 1º – Formação da Terra (4.560 milhões de anos) Março: dia 2 – Mais antigas evidências de vida (3.800 milhões de anos) Junho: dia 14 – Consolidação dos primeiros continentes; termina o Arqueano e inicia o Proterozoico (2.500 milhões de anos) Julho: dia 24 – Primeiros organismos eucarióticos (2.000 milhões de anos) Outubro: dia 12 – Eucariontes começam a se diversificar (1.000 milhões de anos) Novembro: dia 18 – Início da Era Paleozoica; grandes continentes se formando, como Laurásia e Gondwana (450 milhões de anos) Dezembro:
Dia 03 – primeiros répteis (350 milhões de anos)
Dia 12 – Início da Era Mesozoica e do processo de Deriva Continental (248 milhões de anos)
Dia 20 – Início da separação entre América e África (140 milhões de anos)
Dia 26 – Extinção em massa dos dinossauros e outros organismos; fim da Era Mesozoica e início da Era Cenozoica
Dia 31 – às 19:00 e 12 minutos surge o primeiro Homo na África; às 23 horas, 59 minutos e 57 segundos Cabral chega ao Brasil; às 23 horas, 59 minutos e 59 segundos inicia o século XX.
Esquema comparativo: FAIRCHILD, Thomas; TEIXEIRA, Wilson; BABINSKI, Marli (Orgs.). Decifrando a Terra. São Paulo: Oficina de Textos, 2000. p. 588-589 (contracapa). (Texto adaptado).
Neste sentido, este último segundo nesta escala comparativa seria o momento que em a humanidade está vivendo atualmente.
Ou seja, antes do momento atual, o planeta Terra já passou por muitas coisas, eventos gigantescos e que marcaram cada momento histórico. Já houve glaciações, grandes secas, períodos de intensas chuvas, surgimento e extinção de muitas espécies.
Nunca conheceremos todas as espécies de plantas e animais que já viveram no planeta Terra nestes mais de quatro bilhões de anos de história. Isso nos leva a pensar sobre a brevidade da existência do homem no planeta, e em quantas coisas já foram realizadas. Será que o homem poderá ser extinto algum dia, assim como já ocorreu com muitas outras espécies que aqui viveram antes?
Resumo do Conteúdo
Nesse texto você aprendeu que:
A Terra tem mais ou menos 4,53 bilhões de anos.
A história geológica do planeta é dividida segundo os principais acontecimentos registrados.
São Éons da escala geológica de tempo: Arqueano, Proterozoico e Fanerozoico.
São Eras da escala geológica: Pré-Cambriana, Paleozoica, Mesozoica e Cenozoica.
São Períodos da escala geológica: Cambriano, Ordoviciano, Siluriano, Devoniano, Carbonífero, Permiano, Triássico, Jurássico, Cretáceo, Terciário (Paleogeno e Neogeno) e Quaternário.
São Épocas da escala geológica de tempo: Paleoceno, Eoceno, Oligoceno, Mioceno, Plioceno, Pleistoceno e Holoceno.
Exercícios resolvidos
1- Qual o Éon mais antigo?
R: O Hadeano.
2- A Era Pré-Cambriana envolve quais Éons?
R: Arqueano e Proterozoico.
3- Qual a Era mais recente?
R: A Cenozoica.
4- Atualmente vivemos em qual Éon, Era, Período e Época?
R: No Éon Fanerozoico, na Era Cenozoica, no Período Quaternário e na Época Holoceno.
5- O que é a Tabela Estratigráfica Internacional?
R: Onde estão descritos todos os Éons, Eras, Períodos e Épocas, atualizando conforme as descobertas ocorrem.
Novos fósseis mostram como os mamíferos dominaram rapidamente a Terra após a extinção dos dinossauros
Crânios e mandíbulas de mamíferos descobertos no sítio arqueológico de Corral Bluffs, no Colorado. Imagem: HHMI Tangled Bank Studios
Um tesouro absoluto de fósseis raros foi descoberto no centro do Colorado. A coleção revela a impressionante velocidade com que os mamíferos emergiram e se diversificaram após a extinção dos dinossauros.
Uma nova pesquisa publicada nesta quinta-feira (24) na Science descreve milhares de novos fósseis de mamíferos, répteis e plantas recuperados do sítio arqueológico Corral Bluffs, na bacia de Denver, no Colorado. Os fósseis abrangem os 1 milhão de anos que se seguiram à extinção em massa do Cretáceo-Paleogene (KPgE) – um evento que resultou na extinção de dinossauros não aviários. Esses fósseis mostram como nosso planeta e biosfera se recuperaram após a extinção em massa e a rapidez com que os mamíferos foram capazes de dominar os ambientes terrestres.
A chave para essa descoberta foi a busca de concreções – um tipo especial de rocha que se forma em torno de ossos e outros pedaços de matéria orgânica. As concreções tendem a ser ignoradas em favor de outras pistas paleontológicas, mas Tyler Lyson, principal autor do novo estudo e paleontologista do Museu de Natureza e Ciência de Denver, decidiu mudar as coisas ao explorar rochas em Corral Bluffs em 2016.
“Vi essa bola amorfa, feia, de cor branca que parecia um pedaço de pão”, disse Lyson em uma coletiva de imprensa nesta semana. “Usei meu martelo para abri-la e de repente pude ver a seção transversal de um crânio de mamífero olhando para mim.”
O paleontologista Tyler Lyson segurando uma concreção dividida com um crânio de vertebrado dentro. Imagem: HHMI Tangled Bank Studios
Lyson gritou para sua equipe ir dar uma olhada. Após um breve momento de celebração, Ian Miller, um paleobotânico do Museu de Denver e coautor do estudo, pegou outra pedra próxima e a abriu, revelando outro crânio de mamífero. Isso foi repetido várias vezes, e os cientistas perceberam que haviam feito uma descoberta monumental.
“Foi pura alegria”, disse Lyson. “Tudo aconteceu tão rapidamente – você não tem momentos de descoberta como esse na paleontologia com muita frequência”.
No total, os pesquisadores descobriram mais de 1.000 fósseis de vertebrados, 233 plantas e materiais vegetais fossilizados distintos (como esporos) e uma variedade de outros organismos. Incrivelmente, os pesquisadores documentaram 16 novas espécies de mamíferos – tantas que eles ainda precisam descrevê-las, dizendo que futuras pesquisas serão dedicadas ao detalhamento completo das novas descobertas.
Dizer que fósseis desse período são raros seria um eufemismo. E isso é uma pena, porque grande parte da era atual pode ser rastreada até esse momento crítico, quando uma variedade de animais e plantas surgiu e se diversificou na sequência de um evento que destruiu 75% de todas as espécies da Terra. Cerca de 66 milhões de anos atrás, um gigantesco cometa ou asteroide mergulhou na Terra, desencadeando uma extinção em massa que exterminou todos os dinossauros não aviários. Para os mamíferos, no entanto, isso provou ser um evento fortuito, permitindo que eles emergissem da sombra dos dinossauros.
“É análogo encontrar o primeiro capítulo inteiro de um livro, em vez de uma única página”.
A escassez de evidências fósseis tornou difícil para os cientistas estudarem o período de recuperação pós-KPgE. Em particular, a natureza fragmentária dos poucos fósseis existentes, como pedaços quebrados de mandíbulas e pedaços de dentes, não está ligada a nenhuma narrativa coerente sobre esse período de recuperação. É isso que torna essa última descoberta tão especial, pois os fósseis estão fornecendo um registro ininterrupto dos primeiros milhões de anos após a extinção em massa.
Um fóssil de samambaia coletado em Corral Bluffs. Imagem: HHMI Tangled Bank Studios
“Os sítios fósseis geralmente nos dão ‘retratos’ da vida na Terra, preservando espécies de um único ponto no tempo”, escreveu David Grossnickle, biólogo da Universidade de Washington que não estava envolvido com a nova pesquisa, em um e-mail ao Gizmodo. “O que realmente se destaca neste estudo é que ele apresenta um registro fóssil quase contínuo por um período de 1 milhão de anos durante um período crítico da história, capturando o início da Era dos Mamíferos. É análogo encontrar o primeiro capítulo inteiro de um livro em vez de uma única página”.
Ao combinar esses fósseis com um período de tempo específico, os pesquisadores conseguiram reunir três estágios críticos de recuperação pós-extinção e documentar os tipos de animais e plantas que surgiram durante esse período de um milhão de anos. Uma grande vantagem foi a velocidade com que os mamíferos se diversificaram, aumentaram de tamanho e assumiram o comando, ocupando nichos vazios e aproveitando ao máximo as novas espécies de plantas.
Como observam os autores no novo artigo, a diversidade de espécies de mamíferos dobrou a partir de 100.000 anos após o evento de impacto, uma época em que o tamanho máximo do corpo atingia os mesmos níveis observados no final do período Cretáceo. Esses animais não eram maiores que ratos ou guaxinins – pesando cerca de 8 kg – e subsistiam principalmente nos detritos ricos em carbono que restavam da extinção em massa. Dinossauros não-aviários encontraram dificuldades para sobreviver, resultando em seu desaparecimento.
Reconstrução artística de Carsioptychus coarctatus, um mamífero herbívoro que viveu cerca de 300.000 anos após a extinção em massa que destruiu os dinossauros não aviários. Imagem: HHMI Tangled Bank Studios
As coisas realmente começaram a mudar cerca de 300.000 anos após o KPgE. Nessa fase, as samambaias começaram a dominar as paisagens terrestres, possibilitando que os mamíferos herbívoros atingissem tamanhos maiores. O maior desses animais era agora três vezes maior do que antes, pesando mais de 25 kg e atingindo o tamanho de porcos. Exemplos encontrados em Corral Bluffs incluem Carsioptychus coarctatus e Oxolophus, espécies de pequenos herbívoros de quatro patas.
“As plantas são a base dos ecossistemas terrestres”, disse Miller durante a coletiva de imprensa. “Esses mamíferos estavam respondendo a novos tipos de plantas na paisagem”.
700.000 anos após o evento de impacto, os mamíferos ficaram ainda maiores – atingindo o tamanho de lobos modernos. Os mamíferos mais pesados durante esse período pesavam entre 35 a 50 kg. Esses desenvolvimentos coincidiram com o surgimento de legumes e possivelmente nozes – fontes de alimentos ricos em calorias que sustentaram esses animais maiores.
Reconstrução artística de Loxolophus. Imagem: HHMI Tangled Bank Studios
“Uma linha histórica importante é o rápido aumento no tamanho dos mamíferos após o evento de extinção em massa, provavelmente relacionado à evolução de dietas mais herbívoras e ao preenchimento de nichos ecológicos abertos”, disse Grossnickle ao Gizmodo. “A qualidade da preservação fóssil é excelente e os fósseis são acompanhados por um registro completo de informações geológicas e ambientais, o que contribui para uma história evolutiva mais completa da época”.
O paleontólogo David Polly, da Universidade de Indiana, que não participou da nova pesquisa, disse que os fósseis são importantes porque estão nos mostrando como a biosfera voltou ao “normal” (ou seja, semelhante às condições do final do Cretáceo) e as maneiras em que mudou irrevogavelmente.
“Cem mil anos podem parecer muito tempo, mas é muito curto em um período geológico e muito mais rápido que as recuperações de outras extinções”.
“Até certo ponto, o asteroide causou um desequilíbrio no qual houve uma rápida recuperação. Mas, ao mesmo tempo, eles mostram que houve diferenças substanciais nas espécies que compunham os ecossistemas pós-asteroide e que novas especialidades evoluíram após a extinção que nunca havia sido vista antes”, disse Polly em um e-mail ao Gizmodo. “Uma coisa importante que esses fósseis mostram é que, dentro de 100.000 anos, as espécies de plantas e mamíferos eram tão diversas quanto antes do asteroide. Cem mil anos podem parecer muito tempo, mas é muito curto em um período geológico e muito mais rápido que as recuperações de outras extinções”.
Polly disse que a rápida recuperação reforça a hipótese do “desequilíbrio” – a noção de que o ambiente e o ecossistema da Terra permaneceram em grande parte em curso após o asteroide. Ao mesmo tempo, porém, os novos fósseis demonstram que “em 300.000 anos, mamíferos e plantas se tornaram mais diversificados do que antes do impacto” e que, em 700.000 anos, plantas e animais inteiramente novos surgiram. Essas mudanças, disse ele, “mostram que os ecossistemas estavam realmente funcionando de maneira diferente e que existiam novas oportunidades que não estavam disponíveis no Cretáceo”.
Prevendo futuras pesquisas, Lyson disse que gostaria de ter uma melhor noção dos ecossistemas em que cada animal viveu e como esses animais se encaixam em uma árvore da vida evolutiva maior. Quanto a Miller, ele gostaria de descobrir mais evidências fósseis de legumes e nozes para reforçar a associação entre o surgimento dessas plantas e o surgimento de mamíferos.
Se você estiver interessado nesta coleção de fósseis, a pesquisa está planejada para aparecer em um documentário da NOVA, chamado “Rise of the Mammals” (“Ascensão dos Mamíferos”), que está previsto para ser veiculado no canal de TV dos EUA PBS às 21:00 (ET) na quarta-feira, 30 de outubro de 2019.
Este post foi modificado em 25 de outubro de 2019 9:51
Alguns precursores da ideia de evolução adaptativa, por Felipe A. P. L. Costa
Alguns precursores da ideia de evolução adaptativa
Por Felipe A. P. L. Costa [*]
Já foi dito que Darwin e Wallace não foram os primeiros a falar em evolução. Mas eles também não foram os primeiros a pensar em seleção natural. Outros haviam formulado algo parecido antes, ainda que em versão embrionária e de alcance restrito e enviesado. Entre os antecessores, caberia citar aqui ao menos dois: o médico estadunidense William Charles Wells (1757-1817) e o comerciante e silvicultor escocês Patrick Matthew (1790-1874).
Em 1813, em um encontro científico, Wells evocou a ideia de seleção para explicar as diferenças na cor da pele de europeus (pele clara) e africanos (pele escura). (Artigo dele tratando do assunto foi publicado postumamente, em 1817.)
Matthew vislumbrou algo parecido. O trecho a seguir, extraído do seu livro On naval timber and arboriculture (1831, p. 364-5; tradução livre), bem poderia ser atribuído a Darwin ou Wallace:
Há uma lei universal na natureza que tende a tornar cada ser reprodutivo o mais bem ajustado possível às condições a que o seu tipo, ou a matéria assim organizada, está exposto, a qual parece destinada a modelar os poderes físicos e mentais ouinstintivos à mais elevada perfeição, e a prosseguir sem cessar. Esta lei sustenta o leão em sua força, a lebre em sua rapidez e a raposa em sua astúcia. Como a Natureza, em todas as suas modalidades de vida, tem o poder de prosperar muito além do que é necessário para suprir o lugar do que sucumbe à decadência do Tempo, aqueles indivíduos que não possuem a força, rapidez, audácia ou astúcia necessária sucumbirão prematuramente sem sereproduzir – ou a presa aos seus devoradores naturais ouarruinada por uma moléstia, em geral induzida pela má nutrição, o seu lugar sendo ocupado pelos mais perfeitos do seu própriotipo, que estão a pressionar os meios de subsistência [1].
Até 1859, Darwin e Wallace desconheciam esses trabalhos.
Após ler uma resenha da 1ª edição de Sobre a origem das espécies (1859), Matthew escreveu aos editores da revista, reivindicando para si a autoria da ideia de seleção. Darwin prontamente respondeu, dando-lhe o devido crédito e pedindo desculpas por ter ignorado o seu livro – disse que não imaginou que o assunto pudesse ser discutido em um tratado de silvicultura. O nome de Wells emergiu logo depois. A partir da 3ª edição (1861), Darwin acrescentou um registro histórico, citando o nome desses e de outros autores.
O mérito de Darwin e Wallace foi fazer o que ninguém até então havia feito: eles burilaram o conceito, ampliando e aprofundando o seu alcance. O esforço deles viria a culminar com a ideia de que a seleção natural – operando no interior de cada população, geração após geração – estaria a moldar as mudanças adaptativas.
*
Notas
[*] Artigo extraído e adaptado do livro O que é darwinismo (2019), assim como 20 artigos anteriores – ver aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui. (A versão impressa contém ilustrações e referências bibliográficas.) Para detalhes e informações adicionais sobre o livro, inclusive sobre o modo de aquisição por via postal, faça contato com o autor pelo endereço meiterer@hotmail.com. Para conhecer outros artigos e livros, ver aqui.
[1] Compare: “Tiveram então que desaparecer muitas raças de seres vivos que não puderam, reproduzindo-se, dar origem a uma descendência. Todas aquelas que vês se alimentarem das auras vitais, têm, ou a manha, ou a força, ou então a mobilidade que, desde o princípio, protegeram a raça e a conservaram.” […] “A cruel espécie dos leões e as gerações bravias foram guardadas pela força, as raposas pela manha e os veados pela fuga.” – Tito Lucrécio Caro (c. 99 – c. 55 aC) (De rerum natura 5: v. 855-9, 862-3).
* * *
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Anaximandro (610 – 546 aC) era um filósofo jônico que, como todo bom grego, resumiu suas descobertas e ideias sobre o mundo natural em um longo poema chamado “Sobre a Natureza”.
Para muitos cientistas, suas ideias sobre a origem das espécies parecem uma proto-teoria evolucionista. Ele sugeriu que a Terra era formada por uma substância sem forma chamada apéiron. Organismos, como plantas e animais, começaram a aparecer da lama, e os primeiros animais foram os peixes, dos quais os humanos teriam emergido.
Além de seu poema sobre a natureza, ele também fez um dos primeiros mapas do mundo e estudou astronomia. A maior parte de seu trabalho está perdida, e por isto não há como saber quanto de seu poema é baseado em observações do mundo natural, quanto na mitologia da época.
4. Gene Egoísta de Richard Dawkins
Até a década de 1960, os biólogos entendiam a seleção natural mais a termos de indivíduos. Alguns biólogos começaram a sugerir que talvez a seleção natural fosse melhor compreendida em termos de genes. O livro de Dawkins, “O Gene Egoísta”, popularizou esta ideia.
Nesta visão, são os genes que estão em competição com suas cópias ou alelos dentro dos próprios organismos. Segundo Dawkins, não é apropriado pensar a evolução em termos de indivíduos, porque isto pressupõe que os genes estão trabalhando em cooperação e não em competição.
A visão centrada em genes faz sentido à luz da ideia da vida se originando a partir de uma sopa primordial, mas existem muitas objeções à ideia, como a de que algumas populações não fazem intercâmbio de alelos, e que alguns alelos são dependentes de outros para sobrevivência.
Anaximandro (610 – 546 aC) era um filósofo jônico que, como todo bom grego, resumiu suas descobertas e ideias sobre o mundo natural em um longo poema chamado “Sobre a Natureza”.
Para muitos cientistas, suas ideias sobre a origem das espécies parecem uma proto-teoria evolucionista. Ele sugeriu que a Terra era formada por uma substância sem forma chamada apéiron. Organismos, como plantas e animais, começaram a aparecer da lama, e os primeiros animais foram os peixes, dos quais os humanos teriam emergido.
Além de seu poema sobre a natureza, ele também fez um dos primeiros mapas do mundo e estudou astronomia. A maior parte de seu trabalho está perdida, e por isto não há como saber quanto de seu poema é baseado em observações do mundo natural, quanto na mitologia da época.
4. Gene Egoísta de Richard Dawkins
Até a década de 1960, os biólogos entendiam a seleção natural mais a termos de indivíduos. Alguns biólogos começaram a sugerir que talvez a seleção natural fosse melhor compreendida em termos de genes. O livro de Dawkins, “O Gene Egoísta”, popularizou esta ideia.
Nesta visão, são os genes que estão em competição com suas cópias ou alelos dentro dos próprios organismos. Segundo Dawkins, não é apropriado pensar a evolução em termos de indivíduos, porque isto pressupõe que os genes estão trabalhando em cooperação e não em competição.
A visão centrada em genes faz sentido à luz da ideia da vida se originando a partir de uma sopa primordial, mas existem muitas objeções à ideia, como a de que algumas populações não fazem intercâmbio de alelos, e que alguns alelos são dependentes de outros para sobrevivência.
Teoria Neutra da Evolução Molecular”, de Motoo Kimura
Ao mesmo tempo que Dawkins estava fazendo seu trabalho sobre genes egoístas, Motoo Kimura estava sugerindo que algumas mudanças evolutivas a nível molecular não serviam a propósito algum, ou seja, eram simplesmente neutras.
A ideia de Kimura é que, ao mesmo tempo que um animal está adaptado a algum nicho ecológico através da seleção natural, existem mutações dentro da população ou indivíduos que não tem valor adaptativo e também não atrapalham os indivíduos, mas continuam presentes na população devido à deriva genética.
Esta teoria não desconsidera a importância da seleção natural, mas sugere que nem todos os componentes de um organismo são o resultado de seleção natural.
2. “A Luta pela Sobrevivência”, de Al-Jahiz
Al-Jahiz (776-868) era um estudioso islâmico que escreveu sobre muitos assuntos. um de seus livros mais conhecidos é o “Livro dos Animais”, em que ele expressa observações biológicas muito similares à Teoria da Evolução de Darwin.
As ideias de Al-Jahiz são explicadas em três partes, A Luta pela Sobrevivência, A Transformação das Espécies e Fatores Ambientais. Segundo ele, todo indivíduo está, em algum sentido, em luta com outros pela vida. Fatores ambientais ajudam os organismos a gradualmente desenvolver novas características, ao ponto de se tornarem organismos totalmente diferentes, ajudando-os a competir na luta pela sobrevivência.
Se ele não é um precursor de Darwin, pelo menos é de Lamarck. A diferença principal é que era um muçulmano devoto vivendo no Iraque medieval, então ele postulou que Alá era quem dava forma à vida e que Sua vontade era o principal fator de evolução, mais que qualquer outro.
1. “As Leis da Vida Orgânica”, de Erasmus Darwin
Erasmus Darwin
Erasmus Darwin (1731-1802), avô de Charles Darwin, foi um cientista importante do século 18. Além de naturalista e botanista, ele também era médico, filósofo e poeta. Como Anaximandro, ele descreveu suas observações sobre o mundo natural na forma de versos. Observador excepcional, usou uma abordagem integrativa, observando animais domesticados e selvagens, estudando paleontologia, biogeografia, embriologia e anatomia.
A hipótese de Erasmus era que a vida se originara de um único ancestral comum, mas ele teve dificuldades para explicar como as espécies evoluíram. Mesmo sem ter conhecido o trabalho de Lamarck, as suas ideias de “uso e desuso” eram bastante similares à evolução lamarckiana.
Entretanto, Erasmus de certa forma prenunciou (ou será que inspirou?) as ideias de seu neto, ao extrapolar as ideias de “uso e desuso” e sugerir que os animais poderiam mudar como resultado da seleção sexual e competição.
Bônus: “Equilíbrio Pontuado”, de
ideia de equilíbrio pontuado foi sugerida pela primeira vez em 1972. Basicamente, a evolução de Darwin postula um processo gradual de mudanças, em que as espécies vão acumulando novos traços lentamente até que se tornam uma nova espécie.
O equilíbrio pontuado sugere que a vida permanece constante até que, em um período curto de tempo, evolui rapidamente em resposta a algum evento drástico. Muitos consideram esta teoria como um melhoramento da teoria de Darwin, ou uma sucessora dela, uma vez que está mais de acordo com o registro fóssil e também já foi observada em ação. [Listverse]
Em 1838, Darwin leu o trabalho de Thomas Malthus em que o autor fazia relação entre o aumento da população humana e a fome. Segundo Malthus, a população crescia em progressão geométrica, enquanto os alimentos, por sua vez, cresciam em progressão aritmética. Isso com o tempo levaria a população à fome.
Após a leitura, Darwin concluiu que, nas outras populações de seres vivos, o tamanho populacional não aumentava como acontecia com os humanos e que, de alguma forma, o meio impunha um limite nesse crescimento. Segundo Darwin, haveria uma “luta pela sobrevivência” e apenas aqueles com características mais vantajosas poderiam sobreviver e reproduzir-se.
Os indivíduos com características menos vantajosas não sobreviveriam às pressões do meio e, consequentemente, não se reproduziriam. Dessa forma, com o tempo, os indivíduos com essas características desapareceriam. Surgiu aí o conceito de seleção natural, no qual apenas o organismo mais apto é selecionado pelo meio e transmite suas características aos seus descendentes.
Segundo Darwin, depois de várias gerações, características seriam passadas e as espécies ficariam muito distintas daquelas que as originaram. Dessa forma, surgiriam novas espécies de uma maneira direcional, lenta e gradual. Darwin afirmava também que todos os seres vivos sofriam mudanças, sendo assim, todos os organismos existentes no planeta atualmente em algum momento da historia evolutiva compartilharam um ancestral comum.
No ano de 1858, Darwin recebeu uma carta de Wallace, um naturalista inglês. Na carta, o naturalista contava suas ideias, que eram muito parecidas com as conclusões de Darwin. Os dois, então, escreveram um trabalho que foi apresentado em uma reunião da Sociedade Linneana.
Diante das conclusões semelhantes de Wallace, Darwin apressou a publicação de seu trabalho e, em 1859, publicou sua obra mundialmente conhecida: A Origem das Espécies. Nesse livro ele apresentou sua teoria da evolução, na qual dois pontos merecem destaque: a seleção natural e a ancestralidade comum.
O darwinismo, apesar de não conseguir explicar como as mudanças ocorriam nos organismos e como essas eram passadas aos descendentes, influenciou profundamente os evolucionistas de todo o mundo e tornou-se a base da teoria evolutiva moderna.
Durante o processo de evolução das espécies, correntes de pensamentos divergentes propuseram teorias para explicar a formação e perpetuação de novas espécies, através de mecanismos de especiação.
Por volta de 1859 a 1972, vigorava a teoria do Gradualismo, proposta por Charles Darwin, defendendo o acúmulo de pequenas modificações ao longo de várias gerações, portanto um evento lento, condicionado pela transferência hereditária de mudanças no comportamento morfológico e fisiológico do indivíduo.
Contrária a essa corrente, surgiu uma teoria científica formulada após 1972, pelos paleontólogos evolucionistas Stephen Jay Gould e Niles Eldredge, denominada de equilíbrio pontuado (saltacionismo, pontualismo ou teoria dos equilíbrios intermitentes). Segundo essa linha de pensamento, a evolução de uma espécie não ocorre de forma constante, mas alternada em períodos de escassas mudanças, com súbitos saltos que caracterizam alterações estruturais ou orgânicas adaptadas e selecionadas.
Este entendimento, para compreensão da especiação, fundamentou-se em questionamentos acerca da descontinuidade do registro fóssil, conseqüência da não constatação de indícios com relação às mudanças graduais.
Contudo, a verificação intermitente (de tempo em tempo) de espécies fósseis, contidas em extratos sedimentares formados ao longo da escala geológica, demonstrava um contexto evolutivo em que as especiações provavelmente ocorressem em períodos pontuais, ou seja, bem curtos, pelos quais os organismos passavam por mudanças, estabilizados em momento subseqüente (em saltos).
No entanto, várias contestações surgiram, partidas da tendência tradicional Darwinista, visto que o registro fossilífero é impreciso e falho (incompleto).
Publicado porKrukemberghe Divino Kirk da Fonseca Ribeiro
O equilíbrio de Hardy-Weinberg ou princípio de Hardy-Weinberg permite verificar se uma população está evoluindo por meio da avaliação da frequência de um alelo em determinado instante. Se não há mudança nas frequências dos alelos e do genótipo da população ao longo do tempo, diz-se que a população está em equilíbrio de Hardy-Weinberg. Alguns fatores que podem atuar alterando a frequência dos alelos são a seleção natural, mutação, migração e oscilações genéticas.
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A mudança na frequência de um determinado alelo de um gene na população ao longo do tempo pode ser um indício de que esteja ocorrendo evolução. Quando a população não apresenta essa alteração, diz-se que ela está em equilíbrio de Hardy-Weinberg, o qual foi proposto, de forma independente, no ano de 1908, pelo matemático inglês Godfrey Hardy e pelo médico alemão Wilhelm Weinberg.
Uma população encontra-se em equilíbrio de Hardy-Weinberg quando sobre ela apenas estão agindo a segregação mendeliana e a recombinação de alelos – não atuando, assim, outros fatores evolutivos –, e a população não apresenta alteração na frequência de alelos ao longo das gerações.
Uma população em equilíbrio de Hardy-Weinberg não sofre ação de fatores evolutivos.
Para que ocorra o equilíbrio de Hardy-Weinberg, algumas condições são necessárias, como:
A população deve ser suficientemente grande;
Os cruzamentos entre os indivíduos devem ocorrer ao acaso;
Não pode haver ação de fatores evolutivos, como migração e seleção natural;
As taxas de mutação dos genes devem ser equivalentes.
Assim, podemos observar que o equilíbrio de Hardy-Weinberg não ocorre em populações reais, pois essas são constantemente afetadas por diversos fatores evolutivos, como veremos a seguir.
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Fatores que alteram o equilíbrio de Hardy-Weinberg
O equilíbrio de Hardy-Weinberg não ocorre em populações reais, pois elas são afetadas constantemente por fatores que influenciam as frequências alélicas e genotípicas, o que altera o seu equilíbrio. Alterações nas frequências alélicas e genotípicas ao longo do tempo levam à evolução.
As mutações permitem o surgimento de novos alelos nas populações.
Os fatores evolutivos que alteram o equilíbrio de Hardy-Weinberg são:
Migração: a chegada e a saída de indivíduos podem provocar mudanças nas frequências alélicas e genotípicas da população, pois genes estão sendo retirados e introduzidos. Assim, os indivíduos que estão chegando podem apresentar diferentes taxas de determinados genes e afetar as taxas que estavam presentes na população original.
Mutação: ocorrem ao acaso, sendo responsáveis pelo surgimento de novos alelos. Por meio delas, um alelo (A), por exemplo, pode dar origem a um novo alelo (a). Se esse alelo (a) apresentar uma maior viabilidade, ele será transmitido aos descendentes e se tornará mais frequente na população que o alelo (A).
Seleção natural: dentro de uma mesma população, os indivíduos apresentam variações nas suas características herdáveis. Indivíduos que apresentam características mais adequadas ao ambiente tendem a produzir uma maior prole do que aqueles sem essas características, que tendem a ser eliminados.
Oscilação gênica ou deriva genética: são alterações nas taxas de genes que ocorrem ao acaso, não por mutação ou pressão seletiva, em populações pequenas.
As frequências genotípicas dentro de uma população podem ser expressas pelo binômio (p + q)² = 1, que pode ser desenvolvido e representado pela seguinte equação:
p² + 2pq + q² = 1
p = frequência do alelo dominante;
q = frequência do alelo recessivo;
p² = frequência do genótipo homozigoto dominante;
2pq = frequência do genótipo heterozigoto;
q² = frequência do genótipo homozigoto recessivo.
Exemplo de equilíbrio de Hardy-Weinberg
Tomemos como exemplo hipotético uma população com 100 gatos. Dentre eles, 36 são da cor laranja e homozigotos, 48 são da cor laranja e heterozigotos e 16 são da cor cinza e homozigotos. Sabe-se que o gene para a cor laranja (C) é dominante sobre o gene para a cor cinza (c) e que a frequência do gene recessivo na população é de 16%.
Segundo o equilíbrio de Hardy-Weinberg, essa população se cruzará ao acaso e os gametas C e c serão produzidos sempre na mesma proporção, para manter as frequências dos genótipos CC, Cc e cc constantes.
De acordo com a equação p² + 2pq + q² = 1, q é a frequência do alelo recessivo. Segundo o nosso exemplo, q²= 0,16 (16%), assim, q = 0,4. Se p + q = 1, temos:
p + 0,4 = 1
p = 0,6
Diante disso, temos:
Gametas
p(C) = 0,6
q(c) = 0,4
p(C) = 0,6
p² (CC)= 0,36
pq(Cc)= 0,24
q(c) = 0,4
pq(Cc)= 0,24
q²(cc) = 0,16
Ainda de acordo com a equação apresentada (p² + 2pq + q² = 1), teremos a seguinte distribuição de genótipos:
CC = 0,36 = 36%
Cc = 0,48 = 48%
cc = 0,16 = 16%
Exercícios resolvidos
Questão 1 - (UFPI) Numa certa população de africanos, 9% nasceram com anemia falciforme. Qual o percentual da população que possui a vantagem heterozigótica?
a) 9%
b) 19%
c) 42%
d) 81%
e) 91%
Resolução
Alternativa C.
Para responder a essa questão, devemos lembrar que a anemia falciforme é uma doença hemolítica de caráter autossômico recessivo. Vamos usar a letra S para representar os alelos. Assim, tendo a equação p² + 2pq + q² = 1, em que q é a frequência do alelo recessivo, temos, q²= 0,09 (9%), assim, q = 0,3. Se p + q = 1, temos:
p + 0,3 = 1
p = 0,7
Diante disso, teremos:
Gametas
p(S) = 0,7
q(s) = 0,3
p(S) = 0,7
p² (SS)=0,49
pq(Ss)= 0,21
q(s) = 0,3
pq(Ss)= 0,21
q² (ss)= 0,09
Veja a distribuição genotípica:
SS=0,49 = 49%
Ss = 0,42 = 42%
ss= 0,09 = 9%
Assim, o percentual da população que possui a vantagem heterozigótica é de 42%.
Questão 2 - (PUC-SP) Uma população que está em equilíbrio de Hardy-Weinberg é constituída por 2.000 indivíduos. Sabe-se que 320 destes têm uma certa anomalia, determinada por um gene autossômico recessivo. Entre os indivíduos normais dessa população, qual é o número esperado de portadores desse gene recessivo?
a) 960
b) 480
c) 420
d) 320
e) 240
Resolução
Alternativa A.
Para responder a essa questão, devemos inicialmente determinar qual é a frequência de alelos recessivos. Representaremos os alelos com a letra A.
2000 indivíduos – 100% da população
320 indivíduos – X% da população
2000X= 320 . 100
X= 32000/2000
X= 16%
320 indivíduos que apresentam essa anomalia recessiva representam 16% dos 2000 indivíduos presentes na população. De acordo com a equação p² + 2pq + q² = 1, q é a frequência do alelo recessivo. Segundo o nosso exemplo, q²= 0,16 (16%), assim, q = 0,4. Se p + q = 1, temos:
p + 0,4 = 1
p = 0,6
Diante disso, teremos:
Gametas
p(A) = 0,6
q(a) = 0,4
p(A) = 0,6
p² (CC)= 0,36
pq(Cc)= 0,24
q(a) = 0,4
pq(Aa)= 0,24
q²(aa) = 0,16
Ainda de acordo com a equação apresentada, teremos a seguinte distribuição de genótipos:
AA = 0,36 = 36%
Aa = 0,48 = 48%
aa = 0,16 = 16%
Como a anomalia é recessiva, os indivíduos normais devem apresentar ao menos um alelo dominante. Assim, os indivíduos normais que apresentam o gene recessivo representam 48% da população, são os indivíduos heterozigóticos.
2000 indivíduos – 100% da população
X indivíduos – 48% da população
100 . X= 2000 . 48
X= 96.000/100
X= 960 indivíduos
Assim, a população apresenta 960 indivíduos normais com o gene recessivo.
Por Helivania Sardinha dos Santos
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MUTAÇÃO
Mutação é uma alteração que surge no material genético dos organismos. Pode ocorrer naturalmente ou ser induzida....
Pense com quantas espécies de seres vivos você já se deparou na sua vida.
A variedade de seres vivos existentes no nosso planeta fascina o homem há muito tempo. A necessidade de buscar explicações para a sua própria origem, para a origem de todos os outros seres vivos e até mesmo do universo, levou o homem a criar mitos e teorias a esse respeito.
O filósofo grego Aristóteles (384 a.C. - 322 a.C.) afirmava que as espécies surgem por geração espontânea, ou seja, os organismos, como por exemplo, ratos e baratas, podem surgir de uma massa inerte, de uma camisa muito suja e farelo de aveia deixados em um local protegido. A geração espontânea permaneceu a única explicação científica do surgimento das espécies durante séculos.
Em geral, as pessoas acreditavam que cada espécie de ser vivo havia sido criada por Deus (criacionismo) e assim permanecia imutável ao longo dos tempos (fixismo). Essas são teorias em os adeptos de algumas religiões acreditam até os dias de hoje.
Questionando o fixismo
Os biólogos do século 18, porém, começaram a questionar o princípio da imutabilidade das espécies. Georges Louis Leclerc (1707 - 1788), o conde de Buffon, fez um vasto trabalho sobre a história da Terra. A principal importância dessa obra é a de lançar a ideia de mudança das espécies com o tempo - a evolução.
O fato de os homens e alguns animais possuírem órgãos que, pareciam, não ter utilidade alguma levou Buffon a concluir que esse seria um indício da ocorrência de alguma modificação na espécie. Ele chegou a sugerir a existência de um ancestral comum dos mamíferos (homens, macacos e quadrúpedes), mas como era possível ter certeza disso?
Erasmus Darwin (1731-1802), avô do naturalista Charles Darwin, acreditava que as aptidões de um determinado animal eram resultado da organização da matéria da qual era formado. Assim, ao observar a estrutura de um organismo pode-se relacionar, entender, a sua função.
Partindo desse princípio, para Erasmus Darwin, a mudança da estrutura de alguma espécie era devida a transformações no ambiente e seria uma resposta do organismo a essa variação. Quaisquer mudanças ocorridas em um indivíduo seriam transmitidas para a sua prole.
Lamarck e o lamarquismo
Jean-Baptiste Antonie de Monet, cavalheiro de Lamarck (1744-1829) era um naturalista francês que compartilhava da ideia de que a estabilidade das espécies não tinha fundamento. Descreveu exemplos de criação seletiva (feita pelo homem) para fundamentar que as espécies mudam e que a causa dessas mudanças são as condições externas.
Para Lamarck, modificações no ambiente causam alterações nas necessidades dos seres vivos, o que leva a uma alteração de comportamento. Assim são alteradas a utilização e o desenvolvimento dos órgãos de cada indivíduo, o que, ao longo do tempo interfere na forma das espécies.
Sendo assim ele chegou a lei do uso e desuso, segundo a qual os indivíduos perdem características de que não necessitam e desenvolvem as que estão sendo utilizadas. Essa mudança seria transmitida à prole, ou seja, ocorre a transmissão dos caracteres adquiridos. O exemplo mais famoso que ele apresentou foi o seguinte: o pescoço comprido das girafas se desenvolveu à medida em que elas precisaram comer folhas das árvores mais altas.
Seguindo esse raciocínio, os músculos potentes das pernas de um jogador de futebol seriam herdados pelos seus filhos. Essa seria a herança dos caracteres adquiridos, o que evidentemente não ocorre.
Cuvier e Owen
Influenciado pelas ideias de Goethe sobre morfologia, Georges Cuvier (1769-1832) estudou os fósseis. Seus estudos não o conduziram a quaisquer das conclusões de Lamarck. Ele verificou a existência da sucessão de populações animais, bem como a extinção de espécies que tinham existido.
Para ele estas extinções teriam ocorrido porque a Terra havia passado por uma série de catástrofes, assim como o dilúvio. Após cada catástrofe, o repovoamento da Terra era feito pelas espécies remanescentes e pelas espécies novas as quais vinham de partes do mundo que não haviam sido adequadamente exploradas.
Cuvier entendia que um organismo é formado de várias partes complexas que se inter-relacionam e que não podem ser modificadas, pois isso causaria uma desarmonia no indivíduo. Ele não acreditava na evolução orgânica. Para Cuvier, as alterações nos órgãos alterariam a capacidade de sobrevivência de um animal. Porém, ele estabeleceu a extinção como um fato e seus pontos de vista estimularam o interesse de outros pesquisadores pela anatomia comparada e pela paleontologia.
Richard Owen (1804-1892) concentrou seu trabalho basicamente na paleontologia. Ele reconstruiu muitos animais pré-históricos e fez uma imensa investigação sobre os dentes dos mamíferos. Para Owen a matéria viva possuía uma energia organizadora, que direcionava o crescimento dos tecidos e determinava o período de vida do indivíduo e das espécies.
Quando lhe foram apresentados estudos de anatomia comparada, os quais indicavam que crustáceos haviam divergido de seus parentes, Owen atribuiu as semelhanças à "arquétipos" na mente Divina, assim demonstrou a evidência fóssil de uma sequência evolutiva de cavalos como apoio a sua ideia de desenvolvimento a partir de arquétipos.
A teoria de Darwin
Charles Robert Darwin (1809 - 1882), em 1831, foi convidado a participar como naturalista de uma volta de navio ao mundo promovida pela marinha inglesa. A viagem de Darwin, que durou cinco anos, aumentou os conhecimentos práticos do naturalista e serviu para fundamentar sua teoria da evolução.
Consciente das implicações de suas ideias sobre a tese da imutabilidade das espécies, a qual estava diretamente relacionada a preceitos religiosos, Darwin fez um estudo minucioso durante mais de vinte anos, para provar a transformação dos seres vivos. Em 1858, recebeu uma carta de Alfred Russel Wallace (1823-1913), um jovem naturalista na época, solicitando sua avaliação sobre o esboço de seu trabalho, o qual realizara nas ilhas do arquipélago Malaio.
Ao ler a carta Darwin ficou completamente surpreso e escreve a seu amigo Charles Lyell (1797-1875): "Ele (Wallace) não poderia ter feito melhor resumo do meu trabalho desenvolvido nestes últimos 22 anos..." Isso o encorajou a publicar suas ideias. Darwin estabeleceu uma origem comum a todas as espécies, revolucionando a concepção de humanidade e sua relação com as demais espécies do planeta. Foi muito criticado pelas igrejas cristãs e por vários cientistas da época, como já era o previsto.
O oponente mais sério de Darwin foi Richard Owen, pois o livro de Darwin - "A Origem das Espécies" - era uma rejeição implícita da classificação dos mamíferos feita por Owen. Em um debate anual realizado na Associação Britânica, em Oxford, sua obra causou uma grande controvérsia e uma discussão pública foi realizada.
O grande defensor de Darwin (já que este estava ausente), foi Thomas Henry Huxley (1894-1963), que se tornou seu maior advogado. Tempos depois, Huxley estabeleceu que a diferença entre o homem e os grandes símios era menor do que as diferenças entre eles e os primatas menores. Huxley teve papel importante no estabelecimento do ensino de ciências, pois colocou a necessidade de o aluno aplicar o método científico e verificar, sozinho, os conceitos ensinados.
Charlesrles
Charles Darwin é um nome bastante conhecido no meio cientifico por causa da sua teoria de evolução das espécies baseada na evolução natural. Em seu livro "A origem das espécies" ele introduz a ideia de que todos os seres teriam vindo de um ancestral comum, que teria originado várias espécies por meio de seleção natural. Esta teoria de Darwin se tornou a explicação cientifica dominante para a diversidade das espécies na natureza.
Mas, quem é Empédocles? E qual a ligação entre ele e Darwin? Empédocles é um filósofo nascido em Agrigento, atual Itália. Foi um pensador pré-socrático e se destaca por ter criado a corrente pluralista da Filosofia pré-socrática.
Quando a Filosofia surge, muitas pessoas se debruçam ao estudo do surgimento do mundo e seres vivos, e a maioria dessas explicações eram estruturadas em apenas um dos elementos da natureza, como acontece com Tales e a água, Anaxímes e o ar, Xenófanes e a terra e Heráclito e o fogo, os tornando conhecidos como filósofos monistas, porque suas explicações usavam apenas um elemento.
A escola pluralista foi inaugurada por Empédocles, que formula uma teoria que une os quatro elementos da natureza. Ele pensa em duas forças que unem e separam esses elementos, criando assim seres diferentes através das proporções diferentes de cada elemento no processo de união e separação provocado por philia (amor) e neikos (discórdia).
E de onde vem a ideia de que existe relação entre Darwin e Empédocles? Para explicar a origem das espécies, Empédocles construiu uma teoria da evolução a partir da sobrevivência do mais apto.
Quando Aristóteles passa a escrever suas obras, entre as quais destacam-se as sobre Biologia e Física, ele introduz pesquisas que ainda não haviam sido realizadas. Com isso ele ganha bastante notoriedade, o que faz com que a Biologia e a Física modernas partam dos princípios aristotélicos, abandonando totalmente os estudos iniciais de Empédocles. Darwin faz exatamente o oposto, e encontra em Empédocles as raízes que precisava para embasar sua teoria da evolução.
Ambos acreditam que existe uma raiz comum na sobrevivência, um ser vivo do qual todos os outros tenham se originado, até que sobrevivesse apenas o mais apto. Enquanto os exemplos dados por Empédocles são de monstruosidades que aparecem na Mitologia, como o homem com cabeça de boi, o minotauro, Darwin aponta a evolução de um ser aquático, que desenvolve a capacidade de viver em terra, e assim por diante.
Essa união entre o filósofo e o biólogo nos mostra mais uma vez que o conhecimento não é algo isolado. Que todo tipo de conhecimento é válido, e que nada é exclusivo de uma área. A capacidade de conhecer do ser humano é imensa, e é a curiosidade que produz o conhecimento, que é tudo aquilo que descobrimos, seja com tecnologias novas ou já desprezadas. A interação entre o que se sabe gera o que virá.
A palavra evolução foi primeiro usada por Lamarck, designada ao transcorrer dos estágios de desenvolvimento do feto. Darwin somente utilizou a palavra evolução nas suas últimas publicações e preferia a palavra "transmutacionismo" .
Não confunda evolução com progresso ou avanço. Darwin escreveu nos pés de páginas do manuscrito do "Origem das Espécies" o seguinte: Nunca escrever que um organismo é superior ou inferior. Da mesma forma é inapropriado falar de espécies primitivas quando a comparação é feita entre espécies contemporâneas, que existem hoje. Em algumas situações pode-se falar de espécies que apresentam mais características primitivas, isto é, características que existiam no antepassado de grande parte das espécies de hoje.
No passado, Darwin foi em muitas circunstâncias acusado de plágio. Diziam que ele simplesmente sintetizou a idéia de vários cientistas de sua época. Na verdade, Darwin foi inovador e original em sua explanação da História Biológica da Terra, com a defesa de 2 teses em seu primeiro livro:
1- A descendência com modificação; 2 - A seleção natural.
Estas duas teses foram também elaboradas independentemente por Alfred Russel Wallace. Darwin foi incentivado a publicar seu livro a "Origem das espécies por meio da seleção natural" em 1859, após receber uma carta de Wallace expondo as mesmas conclusões. No entanto Darwin concretizou sua teoria com uma série de publicações posteriores, expondo detalhada e concisamente a evolução em vários campos: interações insetos e orquídeas, relações entre plantas e organismos decompositores, famílias de besouros, evolução humana, etc... No entanto, como qualquer cientista, Darwin sofreu influências de vários outros pesquisadores precursores e contemporâneos.
Os seguintes tópicos foram discutidos na teoria de Darwin e tiveram algumas influências:
1] Transmutacionismo (transformação das espécies) Na Grécia antiga, se formulou a idéia de que espécies eram entidades fixas, imutáveis. Platão, observando as variações dentro das espécies, concluiu que estas eram imperfeições, e o imutável seria a essência do organismo, idêntica para todos membros de uma mesma espécie. O essencialismo Platônico foi adotado pelo cristianismo.
A geração espontânea foi também uma hipótese muito popular até a época de Darwin, e até mesmo explorada por Lamarck.
Curvier apresentou uma teoria, o catastrofismo, que buscava explicar a presença de fósseis de animais hora extintos.
Erasmus Darwin (o avô) escreveu alguns ensaios sobre suas teorias transformistas, que foram lidas por Charles Darwin na adolescência, mas que pouco contribuíram para sua teoria evolutiva, já que C. Darwin na época era membro ortodoxo da igreja anglicana e criacionista. No entanto, C. Darwin disse que lembrara de seu avô assim que teve sua primeira idéia de que as espécies pudessem se transformar em outras.
2] Descendência comum (ancestralidade)
Lamarck (1809) apresentou sua teoria, na qual apareciam as primeiras idéias de origem das espécies, mas estas eram restritas a determinados grupos de animais e plantas, que no princípio eram derivados de diferentes eventos de geração espontânea.
Richard Owen utilizou anatomia comparada e introduziu os princípios de Homologia e Analogia. Asas de patos e colibris seriam homólogas, mas no entanto as asas de morcegos e borboletas seriam análogas a estas primeiras.
von Baer (1832) publicou sua "Teoria da Recapitulação" onde o desenvolvimento do embrião recapitulava os estágios anteriores das histórias das espécies. Então os arcos branquiais dos embriões de mamíferos seriam resquícios de sua vida aquática... Ernest Haeckel (após a publicação de Darwin) renovou a "Teoria da Recapitulação" dizendo estar esta totalmente de acordo com os princípios de Darwin, publicando a chamada Lei Biogenética - Ontogenia recapitula a Filogenia
Darwin leu atentamente as obras do grande geologista e criacionista Charles Lyell (1832) a bordo do Beagle. Incorporando a teoria do "uniformitarismo", o qual a Terra estava em constante mudança, Darwin sincronizou a mudança geológica com a biológica, e passou a observar os fósseis como possíveis ancestrais dos organismos modernos.
3] Luta pela existência Este aspecto abordado frequentemente na teoria de Darwin dizia respeito à competição inter e intra espécies. As primeiras idéias sobre o tema veio da leitura do ensaio de Malthus (1838), Principle of Population, onde se falava que em breve o mundo teria mais pessoas do que a quantidade de comida produzida. Se nascessem mais pessoas do que pudessem sobreviver, isto geraria uma alta competição na espécie humana.
4] Seleção natural Lamarck (1809) apontava duas causas para a mudança evolutiva: direcionamento à perfeição (progresso) e capacidade de adaptação do organismo (uso e desuso). A primeira parte foi inteiramente discordante da teoria de Darwin, mas a possibilidade de influência do ambiente na herança foi também evidenciada na obra de Darwin. Na verdade, os mecanismos de herança não eram conhecidos (ver hereditariedade abaixo), e se imaginava que as chamadas gêmulas pudessem captar sinais do ambiente e transferi-los às próximas gerações.
No entanto, Darwin atribuiu como causa principal de mudança evolutiva, a seleção natural, que se baseava na ação do ambiente sobre variações previamente existentes, geradas aleatoriamente.
A seleção natural, parecida com a que Darwin publicara, foi abordada brevemente em alguns ensaios por Patrick Mathew (1831) e Charles Wells (1813), este último trabalhando sobre "raças" humanas. Darwin deu um sentido global, abrangente a todos os organismos, para o papel da Seleção Natural. Além disto, Darwin didaticamente, fez analogias entre os métodos de seleção artificial de animais domésticos e o princípio da seleção natural.
5] Seleção sexual Aparentemente não houve precursores a abordarem este tema, mas Darwin e Wallace exploraram bastante o tópico para explicar a plumagem diferencial de machos e fêmeas em alguns pássaros. No entanto, Wallace não concordava com Darwin a respeito da escolha da fêmea se relacionar com a plumagem mais colorida dos machos, e somente considerava que estas eram selecionadas assim para proporcionar camuflagem.
6] Biogeografia Alguns precursores, tais como Bufon e Gmelin, hipotetizaram múltiplos centros de criação das espécies no mundo e estas eram produto das condições da região onde estas se originavam. Uma série de zoologistas da época de Darwin acreditavam que as espécies se distribuíam a partir de um ponto de origem. Esta distribuição quando interrompida por uma barreira geográfica, levou Darwin a propor um modo de especiação alopátrica. No entanto Darwin parecia dar mais peso aos modos de especiação simpátrica, sem necessidade de isolamento geográfico.
Darwin, assim como Alfred Russel Wallace, utilizaram-se de extensa informação advinda de suas coletas de material biológico de diferentes regiões: América do Sul e Galápagos durante a viagem do Beagle por Charles Darwin (1831-1836) e na Amazônia e Arquipélago Malaio por A.R. Wallace (1844-1858). Os dois independentemente descobriram os princípios de especiação geográfica e seleção natural.
7] Hereditariedade
O princípio das gêmulas de Hipócrates foi reformulado por Darwin com a Pangênese para explicar o mecanismo de herança por mistura de caracteres que poderia envolver algum direcionamento ambiental, tal como Lamarck sugeria. No entanto a maior parte da variabilidade de acordo com Darwin teria uma origem alheia ao ambiente, sendo este apenas o fator direcionador de características relacionadas à adaptabilidade do indivíduo que foram geradas ao acaso.
A Herança por Mistura, uma crença comum na época, dizia que em geral os filhos herdavam caracteres que seriam a média daqueles dos pais. Deste modo a variabilidade ia se perdendo a cada geração como muitos argumentavam, e em contrapartida Darwin sugeria que talvez o ambiente fizesse com que novas variações aparecessem em alguns casos, aumentando a variação que era perdida pela Mistura. No entanto esta variação seria ainda gerada ao acaso e não sendo para um determinado propósito como Lamarck sugeria.
Após a sétima edição do "Origem das espécies" a Pangênese recebeu maior ênfase, o que hoje é visto como resultado da perplexidade de Darwin em não conseguir explicar a hereditariedade e seu papel na Evolução, que apesar de ter sido explicada por Gregor Mendel em 1865, não foi reconhecida e divulgada até o ano de 1900. Para muitos, Darwin se tornou um pouco "Lamarckiano" com o passar dos anos. No entanto, apesar do desconhecimento de Darwin acerca da hereditariedade, os princípios evolutivos e o mecanismo de seleção natural são inteiramente compatíveis com a moderna visão da genética, a qual iniciou a fusão com a Teoria da Evolução em 1930, com estudos de genética das populações na chamada Síntese Evolutiva.
Veja também o ensaio (em inglês) do Talk-origins archive sobre os precursores de Darwin - Clique aqui
Buffon acreditava que os elefantes asiáticos e africanos atuais eram descendentes migratórios dos mamutes siberianos.
Origem espontânea da vida Buffon defendeu que a vida, assim como a Terra, tinha uma história.Buffon argumentou que a vida, assim como a Terra, tinha uma história. Assim como muitos outros pensadores Iluministas, ele pensou que a vida pôde ser gerada espontaneamente sob as condições certas. Buffon afirmou que nos quentes oceanos da Terra primitiva, grandes quantidades de vida foram geradas a partir de matéria desorganizada – foram gerados inclusive grandes animais. Com o tempo, conforme o clima do mundo esfriou, muitos animais migraram aos trópicos. Sua migração dava sentido às descobertas no tempo de Buffon de fósseis de elefantes na Sibéria e na América do Norte, enquanto que elefantes vivos eram apenas encontrados na África e no Sul da Ásia (veja a figura a direita). As espécies siberianas deram origem aos elefantes atuais enquanto que as formas norte-americanas simplesmente se tornaram extintas.
Mudança Através da Migração Segundo Buffon, a vida se originou já dividido em um número de diferentes tipos de "molde interno", uma que organiza a partículas orgânicas que compõem qualquer criatura individual.De acordo com Buffon, a vida se originou já divida em vários tipos distintos – um “molde interno” que organizou as partículas orgânicas que formaram cada criatura individual. Mas durante as migrações, a vida mudou. Conforme as espécies se deslocaram para novos habitats, o suprimento de partículas orgânicas que poderia criar novos indivíduos mudou e as partículas poderiam assim mudar o molde de uma espécie. Buffon estava, em outras palavras, propondo uma espécie de proto-evolução. Mesmo acreditando que esse processo não poderia produzir tipos radicalmente novos de planos corporais, ele alegou que isso poderia contar para a distribuição geográfica de espécies semelhantes a redor do mundo.
As teorias de Buffon foram visionárias, apesar de condenadas, porque elas eram baseadas nas evidências relativamente escassas que os naturalistas do século XVIII tinham a sua disposição. Suas estimativas da idade da Terra acabaram sendo de longe muito jovem e suas noções de mudança biológica não eram baseadas em um mecanismo coerente. Ainda assim suas teorias prenunciaram alguns dos mais importantes desenvolvimentos nas ciências naturais nas décadas que seguintes a sua morte – das descobertas de Cuvier sobre extinções, às provas de que Lyell e outros geólogos acharam acerca da vasta idade da Terra e da própria vida, até a própria teoria da evolução de Darwin. Pode ser verdade que nenhuma única idéia de Buffon tenha resistido ao teste do tempo. Mas seu trabalho ainda era um marco da ciência porque ele pensou sobre a Terra e a vida de forma que poucos tinham pensado anteriormente – tanto a vida quanto a Terra tinha uma história.
horticultor que apresentou o conceito de ;evolução por seleção natural; 27 anos antes de Charles Darwin deveria ser mais conhecido por sua contribuição, defende um artigo publicado no Biological Journal of the Linnean Society. O trabalho afirma que Patrick Matthew merece ser considerado, com Darwin e Alfred Russel Wallace, um dos postuladores da ideia de evolução em larga escala por seleção natural. Patrick Matthew (1790-1874) era um fazendeiro escocês muito interessado em política e agronomia. Ele plantou pomares de maçã e pera em todo o seu estado, em Gourdie Hill, Perthshire, e se tornou adepto de horticultura, silvicultura e agricultura. Enquanto o artigo de Darwin e Wallace de 1858, Sobre a origem das espécies, os consagrou na história da ciência, um livro publicado por Matthew quase três décadas antes ainda é desconhecido. A obra Sobre a madeira naval e arbocultura, de 1831, apresenta melhores práticas de cultivo de árvores para a construção de navios, mas também expande o conceito de seleção natural, afirmando que há uma lei universal na natureza, pela qual cada ser reprodutivo se torna o mais adequado possível à condição em que vive.
Em 1860, Matthew escreveu novamente para apontar os paralelos entre Sobre a origem das espécies e seu livro. O próprio Darwin afirmou, publicamente: ;Eu reconheço livremente que o senhor Matthew antecipou em muitos anos a explicação que ofereci sobre a origem das espécies;. Já Wallace escreveu publicamente em 1879, que ;o senhor Matthew apreendeu a teoria da seleção natural de forma clara e completa, assim como a existência de mais leis obscuras da evolução, muitos anos antes do senhor Darwin e de mim;. Depois, ele declarou Matthew como ;um dos mais originais pensadores da primeira metade do século 19;. Contudo, Wallace e Darwin deixaram claro que suas formulações eram independentes do trabalho de Matthew. ;Ainda que o horticultor não tenha influenciado Darwin e Wallace, seus escritos forneceram um terceiro ponto de referência valoroso sobre a noção de macroevolução por seleção natural;, afirma Michael Weale, criador de um repositório on-line sobre o trabalho de Mattew e autor do estudo publicado no Biological Journal of the Linnean Society. ;Enquanto Darwin e Wallace merecem o reconhecimento por seu trabalho, Matthew, o outsider que deduziu sua ideia como parte de um grande esquema do universo, é o terceiro homem subestimado da história;, afirma Weale, do Departamento de Genética Médica e Molecular do King;s College London.
Mais da metade do seu corpo não é humano
Estima-se que cerca da metade do nosso corpo seja composto de células humanas, mas o restante é uma mistura de bactérias, vírus e fungos que compõem o que é conhecido como microbioma.
Esse microbioma, que é tão particular quanto a impressão digital de cada um, tem influência sobre uma ampla variedade de funções — da digestão ao sistema imunológico.
Você é 43% humano de acordo com as estimativas mais recentes, se contar todas as células", afirmou à BBC em 2018 o professor Rob Knight, da Universidade da Califórnia, em San Diego, nos EUA.
Se pensarmos em termos genéticos, os números são ainda mais surpreendentes. Microbiólogos da escola de medicina da Universidade Harvard e do Joslin Diabetes Center, ambos nos EUA, analisaram o DNA de cerca de 3,5 mil amostras da boca e intestinos.
Os resultados do estudo, publicado neste ano na revista científica Cell Host & Microbe, indicam que havia cerca de 46 milhões de genes bacterianos, sendo 24 milhões no microbioma da boca e 22 milhões no dos intestinos.
3. Estamos repletos de vestígios evolutivos
A evolução é um processo que pode ser muito lento — e alguns de seus vestígios podem permanecer por muito tempo depois que deixam de cumprir uma função.
Um exemplo é o apêndice, que teria desempenhado uma função relacionada à digestão da celulose das plantas em nossos ancestrais.
dentes do siso, que foram úteis para moer alimentos fibrosos, são outro exemplo.
O cóccix também é considerado um vestígio evolutivo, que no passado contribuiu para manter o equilíbrio. É o vestígio de uma cauda que, no caso de embriões humanos, aparece no final da quarta semana de desenvolvimento embrionário e desaparece no início da oitava semana.
E se você fica arrepiado quando sente frio ou medo, isso significa que suas fibras musculares conhecidas como arrectores pilorum (arrector pili, no singular) estão se contraindo involuntariamente, o que provavelmente causará arrepios.
Se você é um animal selvagem, pode ser útil ter os pelos arrepiados, há que assim podem capturar mais ar para reter o calor. Ou você pode parecer maior do que é, o que poderia desencorajar seus predadores.
Mas, no caso dos seres humanos, nossos arrectores pilorum não oferecem nenhum desses benefícios.
4. Nossa espécie surgiu há cerca de 300 mil anos
A história da nossa origem tem mudado constantemente à medida que novos fósseis são descobertos.
"Nossa espécie, Homo sapiens, surgiu na África há pouco mais de 200 mil anos. Alguns pesquisadores acreditam que certos fósseis de um sítio arqueológico no Marrocos (Jebel Irhoud) já pertenciam à nossa espécie. Esses fósseis têm 315 mil anos", explica Bermúdez de Castro.
Independentemente deste debate sobre datas, não se sabe de nenhuma mudança importante no ambiente da África na época do Pleistoceno."
As eras glaciais afetaram o hemisfério norte e tiveram impacto no enfraquecimento da espécie Homo neanderthalensis.
"Mas na África subsaariana e no norte da África o clima não sofreu mudanças significativas. Portanto, nos escapa saber que circunstâncias favoreceram o surgimento dos primeiros hominídeos semelhantes a nós na maior parte de sua anatomia."
"Certos aspectos culturais, como a arte ou o simbolismo, ainda levariam algum tempo para serem consolidados no Homo sapiens. Mas, do ponto de vista da anatomia, os homens africanos de 200 mil anos atrás eram praticamente indistinguíveis de nós."
Atualmente, há muita discussão sobre a possibilidade de ter havido diferentes rotas de expansão do Homo sapiens para fora da África e por dois lugares diferentes: o Levante e o Estreito de Bab El-Mandeb, no Chifre da África.
"Não seria estranho. Os dados não são contraditórios e não afetam o resultado final: agora somos a única espécie de hominídeo do planeta."
5. Não paramos de evoluir
Ainda estamos nos adaptando ao mundo ao nosso redor. Um exemplo é o rápido aumento, nas últimas 100 gerações do Reino Unido, do gene de tolerância à lactose, o açúcar do leite.
Estima-se que há cerca de 11 mil anos, os homens adultos não eram capazes de digerir a lactose.
À medida que os seres humanos começaram a depender da produção de leite em certas regiões para se alimentar, seus corpos se adaptaram para digerir este alimento, que antes era tolerado apenas por crianças.
Em regiões com uma longa tradição de produção de laticínios, como a Europa, a população é muito mais tolerante à lactose do que na Ásia.
"É claro que não deixamos de evoluir e nunca deixaremos, enquanto continuarmos sendo uma espécie na Terra", diz Bermúdez de Castro.
"A própria cultura está influenciando de maneira decisiva a nossa evolução. E essa influência será cada vez mais importante, no momento em que a tecnologia nos permitir manipular com segurança o genoma humano."
"Pode ser que os experimentos de que temos notícia não sejam muito éticos e tenham riscos. Mas, ao longo dos anos, vai ser possível realizar essas manipulações. Se chegarmos a esse ponto, a mudança evolutiva será extremamente rápida", avalia.
Como ficamos sabendo que a teoria estava errada
Qualquer teoria precisa de uma experiência para comprová-la. Foi o que o primo de Darwin, Francis Galton, tentou fazer.
Para provar que gêmulas induziam variação, ele tirou sangue de um coelho e injetou em outro, com a ideia de que a descendência do último iria mostrar traços do primeiro. Em seu ensaio “Darwin e Hereditariedade: A Evolução e a Hipótese de Pangênese”, Gerald Geison escreve: “Estas experiências, como todas as que se seguiram, fracassaram totalmente em confirmar a visão de Darwin”.
“Como resultado”, Geison acrescenta, “pangênese tem sido muitas vezes encarada como uma dessas falhas misteriosas e inexplicáveis de gênio. Talvez porque desejam apresentar apenas a genialidade de Darwin, vários de seus biógrafos deixam de mencionar a teoria”.
Não vejo um bom motivo para apagar esse erro da história de Darwin, já que estar errado é perfeitamente saudável e extremamente comum na ciência. Quando alguém prova que algo está errado, isso é progresso. Dezenas, centenas, talvez milhares de teorias erradas são descartadas para cada uma que é confirmada.
E surge a verdade
Passou-se um tempo até que a verdadeira lógica por trás do que estava acontecendo aparecesse: a genética.
Ela foi descoberta pela primeira vez, curiosamente, por um monge e suas plantas de ervilha na década de 1850. Gregor Mendel percebeu que as plantas filhas não eram simplesmente uma mistura de seus dois pais, como biólogos pensavam naquela época. A descendência de uma planta com ervilhas lisas e outra com ervilhas enrugadas, por exemplo, não seria meio-enrugada, mas ou lisa ou enrugada. Isso é o que agora nos referimos como alelos dominantes e recessivos.
Em 1900, sua pesquisa foi redescoberta por botânicos, dando início a era da genética. Logo, descobrimos que era o DNA que detinha as informações que dão às pessoas seus muitos traços.
Sabemos agora que herdar traços não tem nada a ver com gêmulas se misturando. Nós obtemos nosso DNA, que contém genes, tanto de nossa mãe quanto de nosso pai. Mas estes genes são combinados de forma única em cada concepção, levando a variações mesmo entre irmãos. A variação também pode vir de mutações. Essas mutações, combinadas com embaralhamento genético no momento do nascimento, aumentam as variações e dão origem a evolução: algumas pessoas nascem com características “mutantes” que podem lhes ser úteis e bem adaptadas ao seu ambiente, coisa que melhora suas chances de sobrevivência e reprodução, de forma que ela vai passar esses genes para gerações futuras
Darwin errou?
Autores americanos apontam suspostas falhas na teoria da evolução
por Carlos Nasser
Segundo as melhores teorias atuais sobre a evolução humana, nossos primeiros ancestrais pré-históricos surgiram na África há cerca de 6 milhões de anos. Foram precisos mais de 5 milhões de anos de adaptações para se chegar ao Homo sapiens, cujo aparecimento teria ocorrido entre 100 mil e 200 mil anos atrás. Mas há peças que parecem não se encaixar nesse intrincado quebra-cabeça. Para os americanos Michael Cremo e Richard Thompson, autores do livro A História Secreta da Raça Humana, a conclusão é bastante diferente e radical: a teoria da evolução proposta pelo naturalista britânico Charles Darwin no século 19 está errada e a história dos seres humanos precisa ser rescrita do zero e partindo da premissa de que existimos há muito mais tempo do que imaginávamos.
Várias pistas diferentes são usadas para tentar recompor a história dos animais e plantas que existem ou existiram em nosso planeta. Os fósseis – restos de ossos preservados no meio de sedimentos que, com o passar de milhares de anos, se transformaram em rochas – são algumas das mais importantes. No caso dos seres humanos, é possível encontrar também artefatos, ferramentas e marcas de ações. Acredita-se que o nosso ancestral mais antigo tenha surgido há cerca de 6 milhões de anos. O Homo sapiens, há apenas 100 mil ou 200 mil anos. O que pensar então de um esqueleto e outros restos de ossos com anatomia praticamente igual à de seres humanos modernos encontrados num sítio do período do Plioceno, que pode ter de 1,5 milhão a 5 milhões de anos? Os ossos foram descobertos numa vala na cidade italiana de Castenedolo, ao longo da década de 1860. “Esse é um exemplo bem documentado de restos humanos totalmente anômalos, numa época em que os cientistas supõem que eles seriam impossíveis.”
Outra evidência apontada por ele: em 1849, operários de uma mina de ouro na Califórnia encontraram algumas ferramentas mais avançadas, como pontas de lança e pedras de amolar, em leitos de cascalho localizados dezenas de metros abaixo das rochas. A idade dos cascalhos variava de 9 milhões a 55 milhões de anos. Nessa época, os mamíferos estavam começando a se diferenciar e formar distintas espécies, estando muito longe do surgimento de uma criatura que fosse capaz de fabricar tais ferramentas.
Mas há outros casos mais extremos, como os citados no início do texto. Em 1844, um cordão de ouro foi encontrado a 2,40 metros para dentro de uma rocha, que estava sendo removida por operários em Dorchester, Inglaterra. Em 1985, a pedra teria sido datada como sendo do período Carbonífero Primitivo – entre 320 milhões e 360 milhões de anos de idade. Se para a maioria parece exagero nem sequer considerar que havia alguma criatura capaz de fazer um cordão de ouro nessa época remota, para Cremo e Thompson isso é apenas mais uma evidência subestimada. Quer saber até onde eles chegam? Pois bem. Na África, na década de 1980, foi encontrada uma esfera de metal, perfeitamente redonda, com três listras paralelas sulcadas em baixo-relevo. Ela estava num depósito mineral que teria cerca de 2,8 bilhões de anos. “Na ausência de uma explicação natural, a evidência é misteriosa. Isso deixa aberta a possibilidade de que tenha sido feita por um ser inteligente”, afirmam os autores.
Esses são apenas alguns exemplos descritos no livro de Cremo e Thompson. No total, são 139, com variados níveis de detalhamento. Todos eles conhecidos e estudados pelos cientistas. Mas as conclusões não foram muito animadoras: simplesmente todas as supostas evidências foram refutadas. Os ossos de Castenedolo podem ter sido apenas sepultados num extrato mais antigo. Um teste de datação radioativa utilizando o carbono 14, realizado mais recentemente, deu aos ossos no máximo 958 anos.
Crença versus evidência
Poucos assuntos na história e na ciência são tão polêmicos quanto as origens da nossa espécie. Desde que Darwin contrariou a idéia da criação divina e enquadrou o homem dentro da sua teoria da evolução, a discussão ficou polarizada entre criacionistas de um lado e cientistas de outro – crença contra evidência. Mas para Cremo e Thompson, as diferenças entre eles não são tão gritantes como se poderia supor. Para os autores, os cientistas teriam se apegado tão firmemente à teoria darwiniana que já não consideram nenhuma outra possibilidade, fazendo vista grossa para possíveis evidências que não estejam de acordo com sua “crença”.
Ou seja: segundo os autores, a ciência só não encontra provas de que os seres humanos são muito mais antigos porque os cientistas não querem. “A comunidade científica suprime dados que possam acarretar desconfortos para a imagem da evolução humana que prevalece hoje em dia”, afirmam Cremo e Thompson. “Ficamos conhecendo também a tristeza e a amargura pessoais experimentadas por cientistas que têm o infortúnio de fazer descobertas anômalas.”
Para Cremo e Thompson, não há muita alternativa. Se um pesquisador encontrar algum osso ou outro indício que vá contra a linha evolutiva, ou ele finge que não encontrou nada ou se prepara para todo tipo de represália velada: descrédito dos colegas, ameaças de demissão ou de corte de verbas e exclusão dos periódicos científicos. A teoria da evolução teria se tornado uma questão de fé, ou a ciência não teria capacidade de lidar com novos fatos que contradizem teorias que atualmente são aceitas como verdadeiras. Isso sem falar que, se os casos apresentados no livro forem todos verdadeiros, não é somente a data do surgimento do Homo sapiens que estaria errada. Significaria também que homens modernos e primitivos teriam coexistido, o que quer dizer que não houve evolução de um para outro. Seriam criaturas totalmente distintas, que inclusive estariam coexistindo até hoje. Segundo o livro, basta prestar atenção nos casos de pés-grandes e homens das neves para ver que os humanóides primitivos ainda estão vivos.
Questão de fé hindu?
A questão toda pode ser de fé, dizem os críticos de Cremo e Thompson. Mas a fé a ser discutida seria a dos próprios autores. Ambos fazem parte do Instituto Bhaktivedanta, dedicado ao estudo de crenças hinduístas, baseadas em antigas inscrições feitas em sânscrito. Segundo elas, o ser humano existe desde que a vida surgiu na Terra. O fato não é segredo para ninguém: os autores deixam isso bem claro para o leitor no início do livro. Mas deixa uma pergunta sem resposta no ar: se os cientistas jogam luz apenas nos fatos que os interessariam e ignoram os outros, por que Cremo e Thompson não estariam fazendo o mesmo?
“Todos os achados contraditórios em sítios arqueológicos ocorrem em locais onde materiais de vários períodos geológicos diferentes estão misturados. Por isso, não são confiáveis”, afirma o professor Fabrício Rodrigues dos Santos, pesquisador de evolução humana do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais. Ele chama a atenção para o fato de a paleontologia ser apenas uma das ferramentas no estudo da evolução das espécies. “Todos os estudos com base em DNA – semelhantes a testes de paternidade, mas envolvendo diversas gerações e não apenas pais e filhos – têm mostrado que nossa espécie surgiu há no máximo 200 mil anos”, diz Santos. O surgimento do ancestral comum ao homem e ao macaco, que deu origem às duas espécies, teria ocorrido entre 6 milhões e 10 milhões de anos, sem motivos para dúvidas. “É uma conclusão tirada a partir de análises de DNA pela genética, do estudo das enzimas pela bioquímica, dos sistemas fisiológicos pela fisiologia, da estrutura geral dos ossos e das células pela morfologia, do comportamento pelos psicólogos e dos fósseis pelos paleontólogos.” Ou seja: é muito difícil estar errado com tantas disciplinas diferentes apontando para o mesmo lugar.
E se mesmo assim Darwin estiver errado, a ciência estaria preparada para jogar tudo no lixo e começar de novo? “Uma nova teoria bem fundamentada sempre pode derrubar outra que esteja em vigor, por mais importante que ela seja. É assim que as ciências avançam”, diz Orlando Tambosi, professor de filosofia da Universidade Federal de Santa Catarina. Mas ele ressalta que, de acordo com a filosofia da ciência, se os métodos funcionam e produzem resultados, é sinal de que a teoria está no caminho certo. “Nesse caso, as concorrentes terão de fazer muito esforço, e juntar muitas provas e evidências, para derrubar uma teoria que é aceita pela comunidade dos pesquisadores”, diz Orlando.
Cremo e Thompson não se abalam com afirmações desse tipo. Para eles, os cientistas estão numa cruzada para fazer valer suas ideologias e vão desqualificar qualquer tentativa em contrário. “Defensores da teoria da evolução afirmam que a primeira forma de vida, a ancestral de todas as outras, começou com a mistura de alguns elementos químicos. Mas não conseguem dizer exatamente como e nem reproduzir o fato”, afirma Cremo. Considerando que tenha sido dessa forma, diz ele, a evolução teria sido então conduzida pela seleção natural.
“Consideremos um animal que não possuía um olho desenvolvido, por exemplo. Os evolucionistas dizem que, a partir de sucessivas mudanças genéticas, que foram sendo selecionadas por serem úteis ao animal em seu meio, o olho poderia ir se tornando mais desenvolvido”, diz o autor. “No entanto, ninguém hoje é capaz de detalhar todas as mudanças que trouxeram o ser humano ao patamar que está hoje. Acho justo que os evolucionistas trabalhem em direção a uma explicação nesse sentido, mas, por enquanto, eles não a têm. Isso significa que podemos considerar outras possibilidades.”
O tempo dirá quem tem razão
Quando publicou A Origem das Espécies, em 1859, Charles Darwin afirmou que uma “nova luz será lançada sobre o problema da origem do homem e de sua história”. Com o passar dos anos, o avanço da genética revelou os mecanismos por trás da teoria da seleção natural. Além disso, diversos fósseis com pistas sobre a evolução humana foram sendo encontrados. Cada um forneceu uma peça do grande quebra-cabeça da origem humana, cuja montagem vem demonstrando que as idéias de Darwin estavam corretas – até que se prove o contrário.
Saiba mais
Livros
A história secreta da raça humana
Michael Cremo e Richard Thompson, Aleph, 2004.
Obra que discute descobertas arqueológicas que contrariam a crença dominante sobre a evolução do homem.
A origem das espécies
Charles Darwin, Ediouro, 2004.
Clássico publicado originalmente em 1859 sistematiza as idéias de origem comum para as espécies que vinham sendo defendidas por outros naturalistas.
"Estou em busca da verdade"
O americano Michael Cremo não é arqueólogo. Sua formação é em relações internacionais. “Eu queria explorar o mundo de outra forma, assim como Darwin em sua viagem com o navio Beagle”, conta Cremo. Vivendo atualmente em Los Angeles, ele dedica seu tempo a pesquisas, palestras e edição de livros.
Por que o senhor e Richard Thompson resolveram escrever o livro A História Secreta da Raça Humana?
Somos estudiosos das antigas escrituras sânscritas da Índia. Elas nos contam que humanos têm existido desde o início da vida na Terra. As escrituras de outras tradições espirituais, como o cristianismo, dizem a mesma coisa. Achamos que, se houver alguma verdade nelas, então deve haver provas físicas.
Se a teoria de Darwin sobre a evolução humana tem tantas inconsistências, como ela conseguiu se tornar dominante?
Temos de considerar o que quer dizer “dominante”. Muitas pessoas não aceitam a teoria de Darwin. Há pesquisas do Instituto Gallup que mostram que boa parte dos americanos não acredita nela. A maioria dos cientistas, é claro, a aceita. Mas isso pode acontecer porque em muitos países as idéias alternativas não podem ser ensinadas nas escolas. Se apenas uma teoria é ensinada para os estudantes de ciências, é natural que ela se torne dominante.
Os senhores argumentam no livro que muitos cientistas ignoram as evidências anômalas apenas para manter a teoria da evolução do jeito como está. Isso vai diretamente contra o método científico. Por que eles fariam isso?
De certa maneira, é apenas a natureza humana. Por exemplo, se alguém lhe conta algo sobre uma pessoa que você ama que contraria o que você considera ser verdadeiro sobre ela, você não vai querer acreditar. Você pode até mesmo ficar bravo com quem estiver falando essas coisas. Os cientistas de hoje estão muito apaixonados pela teoria da evolução e é natural que se oponham a quem vai contra ela. Por outro lado, há a questão do poder. Há vários tipos de poder no mundo, e o intelectual é um deles. Quem detém o poder uer mantê-lo. Num nível mais profundo, acredito que muitos cientistas que apóiam a evolução e os pressupostos materialistas envolvidos nela têm uma ideologia, com implicações para a sociedade humana. Os objetivos que nos colocamos a longo prazo são determinados em grande parte a partir das respostas para “quem eu sou?” e “de onde eu vim?”. Com seu monopólio, os evolucionistas estão nos dando respostas bastante materialistas para essas questões. Logo, não é de se espantar que a civilização humana tenha se tornado materialista e absorta no processo de produção e consumo material.
Os senhores dizem que vários cientistas filtram os fatos de acordo com suas crenças. O mesmo poderia ser dito a respeito de idéias de vocês, não?
Não há ciência pura, desprovida de qualquer influência externa. Todo mundo tem um ponto de vista. Em nosso livro, explicamos nosso ponto de vista e esperamos que as pessoas o levem em conta durante a leitura. Os fatos precisam ser avaliados por padrões, certamente, mas é preciso que sua aplicação seja justa, e nós defendemos que os evolucionistas não estão agindo dessa forma.
O senhor se considera um cientista?
Não me vejo nem como cientista nem como religioso. Sou um ser humano procurando a verdade. E qualquer coisa que me ajude a encontrá-la, seja ciência, seja religião, é bem-vinda.
Formulado pelo naturalista britânico Charles Darwin, o gradualismo (ou gradualismo filético) é uma ideia que defende que a evolução se dá por meio de pequenas transformações no decorrer de diversas gerações dos seres vivos, configurando, portanto, um processo evolutivo lento e contínuo.
Darwin propôs essa hipótese em seu livro “A origem das espécies”, lançado em 1859. Até então, predominava o pensamento religioso, segundo o qual todos os seres vivos foram criados pela divindade, com as mesmas características que apresentam hoje. O naturalista, no entanto, acreditava que os seres vivos passavam por mudanças sucessivas de uma geração para outra, e tais mudanças eram responsáveis pelas significativas diferenças entre as espécies.
Após ser formulada, a teoria do gradualismo influenciou o pensamento evolutivo durante muitas décadas, até ser questionada por outros cientistas. O primeiro questionamento acerca do gradualismo surgiu através da análise de fósseis, que não apresentavam uma sequência gradativa de alterações dos mais antigos para os mais recentes, como seria de acordo com a ideia de Darwin. Em poucos casos, existiam, sim, algumas mudanças graduais dos fósseis, porém, a análise mostrava uma grande intermitência, com o surgimento aparentemente repentino de novas variedades ao longo do processo evolutivo.
Para os defensores do gradualismo, os fósseis não mostravam mudanças graduais porque o próprio documentário fóssil é incompleto, visto que a fossilização é um processo relativamente raro, lento e complexo. Para outros, porém, o registro fóssil é verídico e demonstra o que ocorreu efetivamente, ou seja, é um prova de que a evolução não acontece de maneira gradual.
Descobertas contestam hegemonia de Darwin e recuperam Lamarck
Características adquiridas em vida afetam genética e evolução das espécies, escreve professor escocês
Kevin Laland
RESUMO Autor afirma que pesquisas recentes indicam que a evolução das espécies é um fenômeno mais complexo do que se imaginava e não pode ser explicado apenas pela seleção natural. Defensor de uma teoria alternativa (a síntese evolutiva estendida), ele argumenta que a ciência tem dificuldade para incorporar novas ideias.
Ilustração - Carcarah
Quando pesquisadores da Universidade Emory, em Atlanta, treinaram camundongos para sentir medo do cheiro de amêndoas (aplicando choques elétricos acompanhados pelo odor), eles descobriram, consternados, que os filhos e netos desses camundongos temiam espontaneamente o mesmo cheiro. Isso não deveria acontecer.
Gerações de estudantes sempre souberam que é impossível herdar características adquiridas. Um camundongo não deveria nascer com algo que seus pais aprenderam durante a vida, assim como aquele que perde a cauda em um acidente não dá à luz filhotes sem cauda.
Se você não é biólogo, pode ser perdoado por estar confuso com o estado da ciência evolutiva. A biologia evolutiva moderna data de uma síntese que emergiu nas décadas de 1940 a 1960, casando o mecanismo da seleção natural de Charles Darwin com as descobertas de Gregor Mendel sobre como os genes são herdados.
A visão tradicional e ainda dominante reza que as adaptações —desde o cérebro humano até a cauda do pavão— são integral e satisfatoriamente explicadas pela seleção natural (e a subsequente transmissão de características aos descendentes).
Porém, com a chegada de ideias novas vindas da genômica, epigenética e biologia do desenvolvimento, a maioria dos especialistas em evolução concorda que seu campo se encontra em transformação. Boa parte dos novos dados indica que a evolução é algo mais complexo do que presumíamos.
Alguns biólogos evolutivos, entre os quais me incluo, têm pedido uma caracterização mais ampla da teoria evolutiva, conhecida como síntese evolutiva estendida (SEE). Uma questão central é saber se o que ocorre com organismos durante sua vida —seu desenvolvimento— pode exercer papel importante e até agora imprevisto na evolução.
A visão ortodoxa estabelece que processos do desenvolvimento são em grande medida irrelevantes para a evolução, mas a SEE os considera cruciais. Protagonistas com credenciais respeitadas surgem de ambos os lados do debate; professores de universidades tradicionais e membros de academias nacionais discordam completamente quanto aos mecanismos da evolução. Algumas pessoas até se perguntam se há possibilidade de uma revolução.
Em seu livro "Da Natureza Humana" (1978), o biólogo evolutivo Edward O. Wilson afirmou que a cultura humana está presa a uma coleira genética. Foi uma metáfora controversa por duas razões. Primeiro, como veremos, porque também é verdade que a cultura segura os genes em uma coleira. Em segundo lugar, embora deva haver uma propensão genética ao aprendizado cultural, poucas diferenças culturais podem ser explicadas por diferenças genéticas subjacentes.
Mesmo assim, a frase tem potencial explicativo. Imagine uma pessoa (os genes) caminhando enquanto controla um cão forte (a cultura humana). A trajetória (o caminho da evolução) reflete o resultado da disputa entre a pessoa e o cão.
Agora imagine essa pessoa tentando controlar vários cães, presos por coleiras de comprimentos diferentes e puxando em direções distintas. Todos esses puxões representam a influência de fatores do desenvolvimento, incluindo epigenética, anticorpos e hormônios transmitidos pelos pais, além do legado ecológico e da cultura que eles deixam a seus descendentes.
Uma pessoa lutando para passear com os cães é uma boa metáfora para ilustrar como a SEE visualiza o processo adaptativo. Isso requer uma revolução na evolução?
Ilustração de capa da Ilustríssima - Carcarah
REVOLUÇÃO CIENTÍFICA
Antes de podermos oferecer uma resposta, precisamos examinar como funciona a ciência. As melhores autoridades aqui não são biólogos, mas filósofos e historiadores da ciência. O livro "A Estrutura das Revoluções Científicas" (1962), de Thomas Kuhn, popularizou a ideia de que as ciências mudam por meio de revoluções no entendimento. Essas mudanças de paradigma ocorreriam depois de uma crise de confiança na velha teoria, que aconteceria pelo acúmulo de dados conflitantes.
Há também Karl Popper e sua conjectura de que teorias científicas não podem ser comprovadas, mas podem ser falsificadas.
Considere a hipótese "todas as ovelhas são brancas". Popper afirma que nenhuma quantidade de constatações condizentes com a hipótese poderia atestar sua correção, pois nunca estaria descartada a possibilidade de dados conflitantes surgirem no futuro. Inversamente, a observação de uma única ovelha negra desmentiria a hipótese de uma vez por todas. Segundo Popper, cientistas deveriam realizar experimentos críticos com potencial de desmentir suas teorias.
Embora muito difundidas, as ideias de Kuhn e Popper não estão a salvo de controvérsia entre filósofos e historiadores da ciência. O pensamento contemporâneo nesses campos é mais bem captado por Imre Lakatos em "The Methodology of Scientific Research Programmes" (a metodologia de programas de pesquisa científica, 1978): "A história da ciência refuta tanto Popper quanto Kuhn. Examinados de perto, tanto os experimentos cruciais popperianos quanto as revoluções kuhnianas se revelam mitos".
Os argumentos de Popper podem fazer sentido, mas não mostram como a ciência funciona no mundo real. Observações científicas são suscetíveis a erros de medição; pesquisadores são humanos e se apegam às suas teorias; ideias científicas podem ser muito complexas. Tudo isso torna a avaliação de hipóteses científicas uma tarefa confusa.
Em vez de aceitar que nossas hipóteses podem estar erradas, contestamos a metodologia ("a ovelha não é negra —o problema está nos instrumentos") ou a interpretação ("a ovelha só está suja"), ou então adaptamos nossa hipótese ("eu estava falando de raças domesticadas, não de carneiros selvagens"). Lakatos descreve essas modificações ou ressalvas como hipóteses auxiliares; cientistas as propõem para proteger suas ideias principais, evitando que sejam rejeitadas.
Esse tipo de comportamento se manifesta claramente em discussões científicas sobre a evolução.
Considere a ideia de que características adquiridas ao longo da vida podem ser transmitidas para a próxima geração. Ela ganhou força no início do século 19 graças ao biólogo Jean-Baptiste Lamarck, que a usou para explicar a evolução das espécies.
Há muito tempo, porém, entende-se que a hipótese foi desmentida por experimentos —a ponto de, nos círculos evolutivos, o termo "lamarckiano" carregar conotação depreciativa. A ideia mais largamente aceita é a de que as experiências dos pais não afetam as características de sua prole.
EPIGENÉTICA
Só que elas afetam, sim. O modo como os genes se expressam para produzir o fenótipo de um organismo —as características reais que o organismo acaba tendo— é afetado por substâncias químicas que se ligam a eles. Tudo, desde a dieta até a poluição do ar ou o comportamento dos pais, pode influir sobre o acréscimo ou a retirada dessas marcas químicas, que ligam ou desligam genes.
Geralmente, esses acréscimos ditos epigenéticos são removidos durante a produção de espermatozoides e óvulos, mas alguns são transmitidos à próxima geração, junto com os genes. Isso é conhecido como herança epigenética, e mais e mais estudos vêm confirmando que ela de fato ocorre.
Voltemos aos camundongos que têm medo de amêndoas. Foi a herança de uma marca epigenética transmitida nos espermatozoides que levou a nova geração a adquirir um medo herdado.
Em 2011, outro estudo extraordinário relatou que, expostos a um vírus nocivo, alguns vermes reagiram produzindo substâncias químicas que desativaram o vírus. Surpreendentemente, gerações posteriores herdaram epigeneticamente essas substâncias, através de moléculas reguladoras (conhecidas como pequenos RNAs).
Hoje existem centenas de estudos semelhantes, muitos publicados nos periódicos científicos mais prestigiosos. Biólogos debatem se a herança epigenética é lamarckiana ou apenas se assemelha superficialmente a isso, mas não há como fugir do fato de que a herança de características adquiridas ocorre.
Pelo raciocínio de Popper, uma única demonstração experimental de herança epigenética --como uma única ovelha negra-- deveria bastar para convencer os biólogos evolutivos de que ela é possível. A maioria dos biólogos evolutivos, contudo, não correu para mudar suas teorias.
Em vez disso, como Lakatos previu, estamos propondo hipóteses auxiliares que nos permitem conservar as ideias que defendemos há muito tempo. Essas ideias incluem a de que herança epigenética é rara, não afeta características importantes, está sob controle genético e é instável demais para explicar a disseminação de características por meio da seleção.
Infelizmente para os tradicionalistas, nenhuma dessas tentativas de minimizar ou relativizar a importância da herança epigenética parece ser digna de crédito. Hoje é sabido que a herança epigenética está amplamente presente na natureza; mais e mais exemplos aparecem a todo momento.
Ela afeta características funcionalmente importantes como o tamanho de frutos, a época do florescimento e o crescimento de raízes de plantas --e, embora apenas uma pequena parte das variantes epigenéticas seja de natureza adaptativa, isso também é verdade em relação à variação genética, de modo que não chega a ser um argumento para desacreditar a herança epigenética.
Não há mais dúvida de que a herança epigenética nos obriga a enxergar a evolução de outra forma.
CULTURA
A epigenética é apenas parte da história. Através da cultura e da sociedade, todos herdamos conhecimentos e habilidades adquiridos por nossos pais. Os biólogos evolutivos aceitam essa ideia há pelo menos um século, mas até recentemente considerava-se que isso fosse restrito aos humanos.
Essa posição, entretanto, deixou de ser defensável: criaturas de todo o reino animal aprendem socialmente sobre alimentação, predadores, comunicação, migração, escolhas de parceiros e de locais de reprodução. Centenas de estudos experimentais já demonstraram a aprendizagem social em mamíferos, aves, peixes e insetos.
Entre os dados mais convincentes estão estudos em que filhotes de chapim-real foram adotados por chapins-azuis, e vice-versa. Quando foram criadas por outras espécies, essas aves modificaram vários aspectos de seu comportamento para assemelhar-se a seus pais adotivos (incluindo a altura das árvores em que se alimentavam, as presas que buscavam, seus cantos e até sua escolha de parceiro).
Presumia-se que as diferenças comportamentais entre as duas espécies eram genéticas, mas ficou claro que muitas delas constituíam tradições culturais.
As culturas animais podem se conservar por períodos surpreendentemente longos. Resquícios arqueológicos mostram que chimpanzés usam ferramentas de pedra para abrir castanhas há pelo menos 4.300 anos.
No que diz respeito à herança epigenética, porém, seria um equívoco supor que a cultura animal precisa exibir estabilidade como a genética para ter significado evolutivo. Ao longo de uma única temporada de acasalamento podem se desenvolver modismos nas características que os indivíduos acham atraentes em seus parceiros.
Isso já foi demonstrado experimentalmente em moscas de frutas, peixes, aves e mamíferos, e modelos matemáticos mostram que esse "processo de cópia da escolha de parceiros" pode afetar fortemente a seleção sexual. Nessa linha, acredita-se que as variadas e culturalmente aprendidas tradições das orcas na busca de alimentos --em que grupos diferentes se especializam em certos tipos de peixes, focas ou golfinhos-- estejam levando-as a se dividir em várias espécies.
É claro que a cultura chega ao auge em nossa própria espécie, tendo sido fartamente comprovado que os hábitos culturais são fonte importante de seleção natural de nossos genes.
A criação de gado e o consumo de leite geraram a seleção de uma variante genética que aumentou a lactase (enzima que metaboliza leite e derivados), enquanto dietas agrícolas à base de amido favoreceram o aumento da amilase (enzima que decompõe o amido).
Toda essa complexidade não se concilia com uma visão estritamente genética da evolução adaptativa, fato que muitos biólogos reconhecem. Em vez disso, aponta para um processo evolutivo em que genomas (ao longo de centenas de milhares de gerações), modificações epigenéticas e fatores culturais herdados (ao longo de várias, possivelmente dezenas ou centenas de gerações) e efeitos parentais (ao longo de uma só geração) coletivamente influem sobre a adaptação dos organismos.
Esses tipos de herança extragenética conferem aos organismos a flexibilidade de se ajustarem rapidamente aos desafios ambientais, arrastando as mudanças genéticas em sua esteira --um pouco como um bando de cães agitados.
RESISTÊNCIA
Apesar do interesse suscitado por todos os novos dados, é improvável que eles desencadeiem uma revolução na evolução, pela simples razão de que a ciência não funciona assim --ao menos não a ciência evolutiva. Como os experimentos críticos de Popper, as mudanças de paradigma kuhnianas são mais próximas de mitos que da realidade.
Olhando para a história da biologia evolutiva, não se vê nada assemelhado a uma revolução. Mesmo a teoria de Charles Darwin levou cerca de 70 anos para ser amplamente aceita; na virada do século 20, ainda era vista com grande ceticismo. Nas décadas seguintes, novas ideias surgiram, foram avaliadas pela comunidade científica e pouco a pouco integradas ao conhecimento preexistente. A biologia evolutiva se atualizou sem passar por grandes períodos de crise.
A mesma coisa se aplica ao presente. A herança epigenética não desmente a herança genética, mas mostra que esta é apenas um entre vários mecanismos pelos quais características são herdadas.
Não conheço nenhum biólogo que queira rasgar os livros didáticos ou jogar fora a seleção natural. A questão é saber se queremos ampliar nosso entendimento sobre as causas da evolução e se isso modifica nossa visão do processo como um todo. Nesse ponto, o que está acontecendo é ciência normal.
Por que, então, biólogos evolutivos tradicionais se queixam dos radicais evolutivos equivocados que defendem uma mudança de paradigma? Por que jornalistas escrevem artigos sobre cientistas que estariam pedindo uma revolução na biologia evolutiva? Se ninguém de fato quer uma revolução, e se revoluções científicas raramente ocorrem, a que se deve a polêmica?
A resposta a essas perguntas traz um insight fascinante sobre a sociologia da biologia evolutiva.
Revolução na evolução é uma descrição equivocada do que está acontecendo --um mito propagado por uma aliança improvável de evolucionistas conservadores, criacionistas e imprensa. Não duvido que existam alguns radicais evolutivos revolucionários, mas a imensa maioria dos pesquisadores que buscam uma síntese evolutiva estendida é formada por biólogos evolutivos que trabalham duro.
Todos sabemos que o sensacionalismo vende jornais, e artigos anunciando uma grande reviravolta vendem bem. Criacionistas e defensores do design inteligente também alimentam essa impressão exagerando as diferenças de opinião entre evolucionistas e criando a falsa impressão de turbulência no campo da biologia evolutiva.
O que é mais surpreendente é como biólogos conservadores jogam a carta "estamos sendo atacados!" contra seus colegas evolucionistas. Retratar adversários intelectuais como extremistas ou dizer às pessoas que se está sendo atacado são truques retóricos usados desde sempre para ganhar discussões ou conquistar lealdades.
Sempre associei esse tipo de prática à política, não à ciência, mas hoje percebo que fui ingênuo. Os cientistas também têm carreiras e legados em jogo; também lutam por recursos, poder e influência.
Receio que o discurso dos tradicionalistas esteja produzindo efeitos negativos, criando confusão e, sem querer, alimentando o criacionismo pelo fato de fomentar divergências exageradas. Muitos cientistas respeitados sentem a necessidade de uma mudança na biologia evolutiva. Não é possível descartar todos eles como elementos à margem da visão científica majoritária.
SEE
Se a síntese evolutiva estendida não é um chamado por uma revolução na evolução, então o que ela é e por que precisamos dela? Para responder a essas perguntas, precisamos reconhecer um acerto de Kuhn: cada campo científico possui maneiras compartilhadas de pensar, ou quadros conceituais.
A biologia evolutiva não é diferente. Nossos valores e premissas compartilhadas influenciam quais dados coletamos, como os interpretamos e quais fatores são embutidos nas explicações sobre o funcionamento da evolução.
Por isso o pluralismo científico é saudável. Lakatos destacou que quadros conceituais alternativos (diferentes programas de pesquisa) podem ser valiosos pois incentivam o teste de novas hipóteses ou levam a novos insights. Essa é a primeira função da SEE: alimentar ou mesmo abrir novas linhas de pesquisa e maneiras produtivas de pensar.
Um bom exemplo é o viés de desenvolvimento. Considere os peixes ciclídeos da África oriental. Para dezenas ou até centenas de espécies de ciclídeos existentes no lago Maláui existe uma espécie "duplicada", que evoluiu independentemente, no lago Tanganica, com grandes semelhanças no formato corporal e no modo de se alimentar.
Tais semelhanças costumam ser explicadas pela evolução convergente: houve variação genética aleatória, mas condições ambientais semelhantes selecionaram os genes com resultados equivalentes.
Entretanto, o nível extraordinário de evolução paralela visto nesses dois lagos sugere que algo mais pode estar em jogo. E se algumas maneiras de "construir" um peixe forem mais prováveis que outras? E se a variação de características é enviesada em favor de certas soluções? A seleção ainda faria parte da explicação, mas a evolução paralela seria muito mais provável.
Estudos mostram que é possível usar um modelo matemático, baseado em camundongos de laboratório, para prever tamanho e número de dentes em uma amostra de 29 espécies de roedores.
Esses estudos são intrigantes pois ajudam a converter a biologia evolutiva em uma ciência mais previsora. Por que, então, essas ideias receberam, comparativamente, pouca atenção até pouco tempo atrás?
ALTERNATIVAS
Voltamos aos quadros conceituais. Historicamente falando, biólogos evolutivos tratam o viés na variação fenotípica apenas como uma limitação --o modo como os organismos crescem restringe o tipo de características que eles poderão ter.
Foi preciso uma perspectiva diferente (neste caso, a da biologia evolutiva do desenvolvimento, chamada evo devo) para motivar novos experimentos. De um ponto de vista evo devo, os dentes de roedores e os corpos de peixes são como são porque o modo como esses animais crescem aumenta a probabilidade de essas características surgirem. Assim, o viés torna-se um conceito muito mais importante na explicação da evolução.
A síntese evolutiva estendida, ao menos como eu e meus colaboradores a enxergamos, é mais bem vista como um programa de pesquisas alternativo da biologia evolutiva.
Inspirada por descobertas recentes, a SEE parte da premissa de que os processos do desenvolvimento exercem papéis importantes como causas de variações fenotípicas novas (e potencialmente benéficas), como causas de diferenças de adequação dessas variantes e causas de transmissão para descendentes.
Em contraste com a concepção tradicional, na SEE a criatividade na evolução não é atribuída apenas à seleção natural. Esse modo alternativo de pensar está sendo usado para gerar novas hipóteses e traçar novas agendas de pesquisa. Ainda estamos nos primórdios da SEE, mas já há sinais frutíferos.
Se a evolução não se explica só por mudanças nas frequências de genes; se mecanismos antes rejeitados, como a herança de características adquiridas, revelarem ter importância; e se for reconhecido que os organismos enviesam a evolução por meio de desenvolvimento, aprendizagem e outras formas de plasticidade, tudo isso significa que está emergindo um relato radicalmente diferente e profundamente mais rico da evolução?
Ninguém sabe. Mas, do ponto de vista daquela pessoa que leva os cães para caminhar, a evolução está ficando menos parecida com um passeio genético aprazível e mais com uma luta frenética dos genes para acompanhar agitados processos de desenvolvimento.
Kevin Laland é professor de biologia evolutiva e comportamental na Universidade de St. Andrews, na Escócia.
Mamíferos eram notívagos até extinção dos dinossauros, diz estudo
CIÊNCIA |
Quando coexistiam com dinossauros, mamíferos teriam preferido viver escondidos durante o dia para não se tornarem presa fácil. Cientistas recorreram a árvores genealógicas para sustentar teoria.
Somente após a extinção dos dinossauros, há cerca de 65 milhões de anos, é que surgiram os primeiros mamíferos de hábitos diurnos, aponta um estudo publicado nesta segunda-feira (06/11) na revista científica Nature Ecology & Evolution.
"Nós nos baseamos no tempo ativo de mamíferos vivos para reconstruir as fases ativas dos protomamíferos", afirma Roi Maor, ecologista da Universidade de Tel Aviv e coautor do estudo, feito em parceria com a University College London.
"Os primeiros mamíferos começaram a ter hábitos diurnos exatamente após o desaparecimento dos dinossauros", prosseguiu. Antes disso, os mamíferos preferiam viver escondidos durante o dia por medo de se tornarem presas fáceis para os dinossauros, apontam os pesquisadores.
Os pesquisadores classificaram membros de 2.415 espécies vivas entre diurnos, noturnos ou ambos. Foram utilizados dados de elefantes, cangurus e até morcegos, sendo que esses últimos são notívagos ainda hoje. "Tentamos cobrir toda a diversidade de mamíferos", disse Maor.
Com a ajuda de duas árvores genealógicas, os pesquisadores tentaram determinar como os diferentes antepassados se comportavam – se eram ativos durante o dia ou a noite ou ambos.
Viagem de 150 milhões de anos
"Voltamos mais de 150 milhões de anos para trás", disse Maor. "Observamos um padrão muito claro: o de que todos os mamíferos que viveram durante a era dos dinossauros eram noturnos."
Naquela época, teriam vivido sobretudo animais do tamanho de ratos, que comiam insetos e tinham hábitos noturnos. Acredita-se, no entanto, que também havia espécies do tamanho de cães.
Um dos primeiros animais a se tornar diurno foi, segundo Maor, o antepassado do macaco. Já os antepassados dos chamados ungulados (mamíferos de casco), como a vaca ou o camelo, seriam ativos durante o dia e a noite.
Até agora, os cientistas tentavam tirar conclusões sobre hábitos noturnos ou diurnos das espécies a partir das características físicas dos fósseis. Porém, isso é possível sobretudo em tecidos moles, como na retina, por exemplo, algo que geralmente não é preservado em fósseis. É sabido que os macacos de hoje veem cores que são úteis principalmente durante o dia.
Irina Ruf, chefe da seção de mamíferos do Instituto de Pesquisas Senckenberg, em Frankfurt, elogiou o novo método científico. "Os autores tentaram confirmar a hipótese com um método completamente novo", disse. "Trata-se de uma boa publicação que confirma de forma muito plausível o que se supunha."
Ela criticou, no entanto, o fato de os cientistas terem ignorado a hipótese alternativa baseada em achados fósseis. "Estes modelos se baseiam apenas em espécies de mamíferos vivos nos dias de hoje; nenhum fóssil foi levado em consideração", disse Ruf.
Achados fósseis sugerem que os grandes grupos de mamíferos vivos atualmente não têm antepassados mamíferos com mais de 65 milhões de anos. Além disso, segundo tal hipótese, os mamíferos teriam evoluído de maneira incrivelmente rápida, e 65 milhões de anos de evolução seriam curtos demais para a diversidade de mamíferos, aponta Maor. "Eu acho que isso é extremamente improvável."
Apesar de comemorarem os primeiros resultados, os pesquisadores observam que o estudo ainda necessita de árvores genealógicas mais precisas. "É muito difícil provar a teoria, mas nossos resultados a reforçam", disse Maor.
Anaxágoras afirmou que o Universo é composto por sementes que se agregam ou se desagregam por meio de uma inteligência que governa tudo.
Anaxágoras de Clazômenas foi um dos filósofos pré-socráticos pluralistas. Assim como esses, ele estava tentando formular uma nova teoria para o surgimento de todo o Universo, que não recorresse às narrativas mitológicas. Como era um pluralista, assim como Empédocles, Demócrito e Leucipo, Anaxágoras propôs que a origem do Universo estava em vários elementos, e não somente em um.
Os filósofos pluralistas tentaram desfazer a querela, deixada por Parmênides, do imobilismo do Universo, que nunca teria sido criado. Para Parmênides, não há mudança, de fato, no Universo, e o movimento é apenas um erro de nossa percepção. Desse modo, não houve momento de criação. Para Anaxágoras, as sementes que formavam o Universo e seus objetos sãoi infinitas, mas o próprio Universo foi gerado a partir de um momento preciso. O que ficou responsável por agregar as sementes e formar tudo o que existe foi uma inteligência que o filósofo chamou de noûs.
Como os outros pensadores pré-socráticos, não temos muitos dados biográficos de Anaxágoras. Sabe-se que ele nasceu na cidade de Clazômenas, na Jônia, onde teve contato com a Filosofia pré-socrática. Quando adulto, passou a residir em Atenas, levando para lá a Filosofia que se desenvolvia na Jônia. Atenas já vivia, nesse período, o auge de sua democracia.
Anaxágoras conheceu o estadista grego Péricles e, mesmo não podendo participar da atividade democrática por ser estrangeiro, circulou pelos meios políticos. Entretanto, o pensamento do filósofo levou-o a um julgamento e condenação sob a acusação de impiedade e traição aos deuses. A teoria filosófica pré-socrática não estava firmemente ancorada na religião grega. “Historicamente começou com Anaxágoras o processo que Atenas moveu contra a Filosofia e que concluirá, mais tarde, com a condenação à morte de Sócrates.”i
A sua condenação pode estar firmada em sua explicação da ocorrência dos eclipses solares. Anaxágoras foi o primeiro pensador a explicar, da maneira correta, a ocorrência de um eclipse solar, e sua teoria contrariava a existência do deus Apolo, que, na mitologia grega, era quem carregava o Sol. A sua condenação forçou-o a fugir de Atenas, fixando residência na cidade jônica de Lampsacos.
O pensador grego escreveu um livro em prosa, do qual restam apenas fragmentos, em que ele expõe a sua teoria cosmológica. Os historiadores especulam que Anaxágoras deu aulas de Filosofia para Sócrates, estabelecendo a ponte entre a Jônia e Atenas para o caminho da Filosofia ocidental.
Sabe-se que Anaxágoras escreveu uma obra da qual restaram apenas fragmentos pouco conservados. A conservação dos fragmentos é atribuída, principalmente, ao grego antigo Simplício, que viveu no século I d.C. Muitos trechos atribuídos a Anaxágoras aparecem em diálogos platônicos, como Fédon, e em escritos de Aristóteles.
Arché
Como ocorreu na Filosofia de outros pensadores pré-socráticos, o propósito da Filosofia de Anaxágoras era encontrar a origem ou o elemento original de todo o universo, sem recorrer às cosmogonias mitológicas. O filósofo não formulou uma teoria unitária acerca da origem, mas postulou uma teoria pluralista, baseada na existência de vários elementos. Segundo Anaxágoras, a origem de tudo está no que ele chamou de homeomerias, que são basicamente sementes (spérmata, no Grego antigo).
Tentando resolver o problema intelectual deixado por Parmênides, que afirmava que a imobilidade do Universo não permitia a criação ou que a criação limitaria o Universo, Anaxágoras formulou que a origem do Cosmos está assentada em elementos infinitos em número e tempo. Esses elementos (as sementes) sempre existiram e agregam-se por meio de uma força chamada noûs — uma inteligência que governa o tudo.
Ainda de acordo com essa teoria, todos os seres e objetos do mundo são compostos pela junção de todas as homeomerias existentes, de modo que tudo é composto por tudo. O noûs separa apenas os pares opostos que compõem o Universo, mas que não se misturam após estarem prontos, como frio e quente, úmido e seco.
Existem ecos da Filosofia de Anaxágoras no pensamento de Demócrito (e, consequentemente, Leucipo). Os pensadores da escola de Abdera conceberam os átomos (partículas infinitas) como a origem de tudo. Eles também pensaram que cada átomo carrega consigo as características dos objetos que ele compõe. Anaxágoras, por sua vez, acreditava que ashomeomerias que compõem os objetos têm diferentes formatos e que são organizadas, de modo que tudo o que existe é composto por todas as sementes.
O filósofo idealista alemão, do século XVIII, Georg Wilhelm Friedrich Hegel enunciou o seguinte acerca da relação entre Anaxágoras e Demócrito:
A representação de Demócrito é semelhante à de Anaxágoras, na medida em que um infinitamente múltiplo é a origem; mas nele a determinação dos princípios fundamentais aparece de maneira tal que contém aquilo que para o que foi formado não é, absolutamente, o aspecto simples para si. Por exemplo, partículas de carne e de ouro seriam princípios — átomos perfeitamente individualizados, que, através de sua concentração, formam aquilo que aparece como figura.ii
Frases
“Todas as coisas estavam juntas, infinitas ao mesmo tempo em número e em pequenez, porque o pequeno era também infinito.”
“Em cada coisa existe uma porção de cada coisa.”
“Nenhuma delas [as coisas existentes] podia ser distinguida por causa de sua pequenez.”
“Em todas as coisas há uma porção do noûs, e há ainda certas coisas nas quais o noûs está também.”
iKUHNEN, R. F. Em tudo uma porção de tudo. In: SOUZA, J. C. (org.). Pré Socráticos. São Paulo: Nova Cultural, 1996, p. 38.
iiHEGEL, G. W. F. Crítica Moderna. In: SOUZA, J. C. (org.). Pré Socráticos. São Paulo: Nova Cultural, 1996, p. 260.
Tendo atingido a consciência e o conhecimento científico, a espécie humana é a única que pode vir a dominar os genes, em vez de ser dominada por eles. Depende das ciências humanas definir se esse futuro será parecido com o pior dos pesadelos ou com a maior das utopias
18nov2010_17h13
OTAVIO FRIAS FILHO
A lei da natureza é a do egoísmo, seu método é a destruição dos mais fracos, seu propósito é nenhum. Qualquer sentido de compaixão é só uma trégua, que os homens aceitam mal
Um fantasma ronda as ciências humanas: o fantasma do darwinismo. O assédio começou em meados do século passado, nos confins de uma disciplina então incipiente, a etologia, que estuda o comportamento animal. O pressuposto desses pioneiros, zoólogos darwinistas, era que o comportamento contribui para um maior ou menor sucesso evolutivo, sobretudo entre os animais sociais, os que cooperam entre si. Por conseqüência, também os comportamentos devem ter sido “selecionados” em termos evolutivos. Ou seja, teriam predominado ao longo do tempo as condutas que propiciam a seus portadores viver mais e deixar prole mais numerosa.
As espécies sociais existem em vários ramos da natureza. Além das formigas, abelhas, vespas e cupins, o grupo inclui determinados peixes, aves e mamíferos – entre estes, os homens. Não tardou para que extrapolações da etologia fossem aplicadas, de maneira cautelosa e especulativa, à espécie humana. Os próprios etólogos foram os primeiros a ressalvar que, no caso da humanidade, a herança biológica se mescla à cultural, formando um amálgama impenetrável. Por imensa que seja a variação cultural entre os homens, no entanto, para esses autores ela sempre será expressão de uma matriz genética e inconsciente, adquirida de forma evolucionária nos 5 milhões de anos desde que nos destacamos dos símios.
Lançou-se, nas décadas seguintes, uma nova ciência, a sociobiologia, que se propunha a realizar um ambicioso programa: estabelecer a ponte necessária entre cultura e natureza, entre ciências humanas e ciências naturais, para enfim completar o majestoso edifício da razão materialista, tendo a física e a química como alicerces. Seu postulado era o darwinismo – a teoria visionária do século XIX que a ciência contemporânea confirmou integralmente. Seus métodos, o empírico e o matemático. Quanto a seu alvo, por mais que os neodarwinistas evitassem admiti-lo, não poderia deixar de ser as ciências sociais.
Estas reagiram com ultraje à invasão de seu sacrossanto domínio, o da autonomia da cultura. Ignoraram os arrivistas vindos do darwinismo. Quando os cientistas sociais replicaram, foi com a retórica de costume: acusaram os neodarwinistas de fazer ideologia disfarçada em ciência, e explicaram, pacientemente, que o método das ciências humanas não pode ser o mesmo das ciências exatas. Mas não parece que as humanidades se encontrem numa posição invejável, do alto da qual possam distribuir lições. Excetuada a economia, que desfruta de um crescente sucesso mundano e, ao que consta, científico, é perceptível o declínio de sua vitalidade intelectual.
As ciências sociais não se recuperaram do impacto provocado pela dissolução do experimento socialista nos anos 80 e 90. Pois não foi apenas o marxismo, que exerceu um domínio hipnótico sobre o pensamento humanístico no século XX, quem sofreu um xeque-mate com a derrocada do “socialismo real”. Foi atingido também o projeto, acalentado pela sociologia desde o início, de transformar a sociedade segundo critérios de planejamento racional, com vistas a superar a forma iníqua e perdulária de sua organização espontânea, “natural”. Desbancada de sua soberba, a sociologia passou a imitar sua colega, a economia, tomando lições de matemática. Restou incólume a história, isolada em eterna ruminação.
Após começo tão intrépido, foi um duro revés. A origem das ciências sociais é o iluminismo do século XVIII, o vibrante movimento de idéias que pretendeu aplicar a razão científica, tão eficaz nos séculos anteriores para decifrar e manipular a natureza, ao estudo e à reforma da sociedade. Condorcet, o último dos filósofos iluministas, terá sido também o mais explícito nesse sentido. Nos meses em que esteve foragido da ditadura jacobina, pouco antes de morrer na prisão em circunstâncias obscuras, ele escreveu sua última obra, um esboço de reforma das instituições sociais com base no método emprestado às ciências exatas. Adolphe Quetelet propôs em 1835 uma “física social”, que encontraria seu messias em Comte, considerado o fundador da sociologia. Toda fantasia metafísica sobre o homem e a sociedade deveria ser descartada, para dar lugar ao estudo dos fatos estritamente sujeitos à comprovação e mensuração – daí a sua doutrina ter recebido o nome de positivismo.
Mas na sociedade humana as variáveis (para falar em termos científicos) são de tal forma numerosas e entrelaçadas que o método empírico não dá conta de sua complexidade. Um outro movimento de idéias, o romantismo, inspirou a noção alternativa de que às ciências humanas caberia desenvolver um método próprio, o histórico. Do estudo comparativo de diferentes situações geográficas e históricas seria possível inferir certas regularidades, algo semelhante às leis que a ciência discernia no funcionamento da natureza. Mais promissor do que quantificar uma multidão de fatos seria compreender os processos, a relação qualitativa, sempre dinâmica e instável, entre eles.
O século XIX foi pródigo, a partir daí, em teorias sociais baseadas na evolução histórica (o positivismo, inclusive), cada uma a pleitear a sua própria sucessão de estágios, fases e modos de produção, rumo a uma superação constante. Marx e Nietzsche, antagônicos em quase tudo, concordariam quanto a isto: o homem é um animal que não está “pronto”, que ainda está-se fazendo por meio da história.
Mas enquanto as ciências da natureza prosseguiam de proeza em proeza, aumentando a população, a longevidade e o bem-estar humanos em proporção geométrica durante o século XX, os empenhos da ciência social contribuíram para dar forma a conflagrações e massacres de escala também inaudita, sob responsabilidade do totalitarismo socialista e de sua contrapartida, o fascismo. O primeiro foi inspirado no marxismo; o segundo, em parte uma reação histérica ao avanço do socialismo marxista, apropriou-se da tentativa de prescrever certos aspectos da teoria da seleção natural à organização da sociedade: a eugenia e o darwinismo social. O próprio Darwin, porém, havia desautorizado a utilização política de suas idéias. Vamos ver que idéias eram essas, capazes de deflagrar uma controvérsia que nunca termina.
***
Quando Charles Robert Darwin embarcou como naturalista de bordo no navio britânico Beagle, em 1831, a então chamada “transmutação” das espécies já era assunto polêmico na comunidade científica. A descoberta de fósseis de animais desconhecidos solapava a noção tradicional de que todos os seres seriam obra de um único ato de Criação. Surgiam indícios, ao mesmo tempo, de que a Terra seria muito mais antiga do que os seis milênios que lhe eram atribuídos pela exegese da Bíblia.
No mesmo ano em que Darwin nasceu, o francês Jean-Baptiste Lamarck publicou um livro discutindo a tese, que ficou associada a seu nome, segundo a qual o mecanismo da evolução dos seres seria o uso dos órgãos. No famoso exemplo, as girafas se esforçariam para alcançar e comer as folhas na copa das árvores. Desse esforço constante resultariam pescoços mais longos e vigorosos, e essa característica seria transmitida às gerações sucessivas.
Na posição oposta, um autor eclesiástico, William Paley, colocava em circulação a metáfora do relógio, até hoje usada pelos adeptos do criacionismo. Se ao andar numa trilha, diz Paley, alguém encontra um relógio no chão, só pode concluir que algum artífice o projetou. Seria inconcebível que as partes pudessem reunir-se numa coordenação espontânea. Idêntica conclusão seria imposta, pelo relógio da natureza, à vasta multiplicidade de plantas e animais, todos em perfeito funcionamento, concebidos até o mais ínfimo detalhe em maravilhosa harmonia. Darwin havia lido esses escritores quando estudante, para não mencionar seu avô, o filósofo Erasmus Darwin, autor de uma dissertação lamarckiana sobre os seres vivos.
Os cinco anos a bordo do Beagle, numa viagem ao redor mundo pelo hemisfério sul, ampliaram a visão de Darwin tanto sobre a diversidade das formas de vida como sobre as misteriosas conexões entre elas. As origens de sua teoria, no entanto, não se acham em alguma iluminação obtida nas ilhas Galápagos, mas na meditação sobre dois livros influentes e no exame de uma prática habitual entre criadores de espécies domésticas na Europa.
O primeiro desses livros é o Ensaio sobre o Princípio da População, de Thomas Malthus, publicado em 1798. Apresentado como réplica ao otimismo reformador de Condorcet, o estudo parte de uma constatação perturbadora: enquanto a população aumenta em razão geométrica, os meios de subsistência crescem em razão aritmética. O aumento demográfico é contido pela doença, pela guerra e pelo “vício” (sexo não-reprodutivo). Ainda assim, a fecundidade cedo ou tarde multiplica o número de indivíduos até o máximo permitido pelos meios de subsistência. Atingido o limite, a fome se encarrega de frear a progressão. Malthus diz que “essa lei impregna toda a natureza animada”. Ele a chamou de “luta pela existência”.
Cada desenvolvimento dos meios técnicos, ao torná-los mais produtivos, alivia a escassez. Mas por isso mesmo dá livre curso à fecundidade, até que o limiar da fome seja de novo alcançado. Toda tentativa de derrotar a miséria derrota seu intento, ele afirma, pois “nenhum progresso observável foi obtido até agora no sentido de extinguir as paixões entre os sexos”. O melhor controle seria que cada homem fosse precavido o bastante para produzir tão-somente a prole que pudesse sustentar. O surgimento dos modernos anticoncepcionais suspendeu a vigência do princípio de Malthus, ao tornar mais fácil a realização do seu conselho. Sempre que lemos, porém, sobre o esgotamento dos recursos naturais do planeta, deveríamos imaginar o fantasma desse lúgubre autor a sorrir na eternidade.
O outro livro, publicado em 1830, é Princípios da Geologia, de Charles Lyell, considerado o maior geólogo do século, mais tarde amigo de Darwin. O tratado esclarecia fatos intrigantes, a exemplo da descoberta de conchas do mar no cume de cordilheiras. Argumentava que a superfície da Terra vem sendo refeita continuamente, não só por cataclismos capazes de ejetar terrenos submersos e fazer mergulharem antigos planaltos, mas sobretudo pela ação paciente dos ventos, chuvas e marés. Lyell mostrou que pequenas alterações, desde que acumuladas, produzem efeitos portentosos, e ensinou Darwin a pensar em termos de um tempo incomensuravelmente longo.
A terceira fonte intelectual do achado de Darwin não poderia ser mais prosaica. Era antigo o costume, entre criadores de pombos, cães e outros animais domésticos, escolher os exemplares mais aptos para determinados fins, ou que ostentassem algum traço valioso, e promover cruzamentos entre eles, de modo a acentuar, geração após geração, essas características desejáveis. Darwin tornou-se ele mesmo criador de pombos e se correspondeu durante décadas com outros manipuladores de linhagens. Refletiu sobre o que eles já sabiam: que em todas as espécies os indivíduos variam ligeiramente, que as variações são transmitidas à descendência e, tendo sido “selecionadas” durante sucessivas gerações, tornam-se mais agudas.
Aoriginalidade de Darwin foi vislumbrar uma seleção realizada não pelas mãos do homem, mas pelos imperativos do ambiente. A ferocidade da competição pela subsistência, evocada por Malthus, converteria toda pequena variação fortuita, desde que benéfica a seu possuidor, numa vantagem apreciável. Transmitida a descendentes sempre mais numerosos, essa variante acarretaria uma vantagem permanente na competição com os demais, até se tornar universal naquela espécie, quando todos os indivíduos que não a portassem já tivessem desaparecido sem deixar descendência. A acumulação desse processo ao longo de inúmeras gerações daria à luz novas espécies, numa diferenciação crescente entre elas. A natureza podia “esperar” que surgissem, da infinidade de variações entre os indivíduos, aquelas que por acaso se revelassem vantajosas e fadadas, portanto, a se disseminar, pois sua escala de tempo não era humana, conforme Lyell fizera ver, mas geológica.
É uma idéia simples, quase óbvia. Atende com elegância os requisitos científicos de parcimônia e amplitude explicativas. Impõe-se como conseqüência da conjugação de cinco fatores: alta fecundidade, variação individual, competição implacável, transmissão hereditária e tempo – muito tempo. O biólogo T. H. Huxley, mais tarde chamado de “buldogue de Darwin” pelo zelo com que passou a defender a idéia, ao tomar conhecimento dela, teria exclamado: “Que idiota eu fui de não ter pensado nisso antes!” De certa forma, ela deveria ser tão pouco surpreendente quanto a constatação de que a água de um rio assume exatamente a forma do leito e das barrancas. Mas trata-se de uma simplicidade aparente, traiçoeira.
O raciocínio percorrido por Darwin vai contra nossos hábitos mentais ou, mais precisamente, inverte o padrão habitual do pensamento, fazendo “antes” e “depois” trocarem de lugar. Não é que alguma intencionalidade tenha dirigido a organização dos seres vivos: é o resultado gradualmente acumulado que, visto em retrospectiva, parece ter sido intencional. Plantas e animais são como são porque um número incalculável de outras possibilidades se mostrou menos eficiente e pereceu. Basta uma alteração ambiental importante, porém, para que apareçam novas frestas adaptativas, e novas espécies surjam no encalço de seu aproveitamento. Para tornar a idéia mais inteligível, apesar de sua simplicidade (ou por causa dela…), costuma-se recorrer a uma linguagem metafórica, antropomórfica, recheada de “é como se” – é como se os seres “tentassem” se adaptar ao ambiente, é como se as espécies “quisessem” se perpetuar etc. Nosso hábito de atribuir intenções, sentido e finalidades adere à língua, que não consegue se desfazer dele. O primeiro a incidir nesse tipo de linguagem foi o próprio autor, quando batizou o mecanismo com a expressão “seleção natural”, como se algo ou alguém escolhesse entre as variações.
Depois de fazer uma descoberta desse porte, segundo seus cadernos de anotações em setembro de 1838, Darwin ficou 21 anos sem publicá-la. Redigiu um breve manuscrito em 1842, outro em 1844, deu conhecimento do assunto a três amigos, entre eles um incrédulo Lyell – e afundou numa prolongada pesquisa sobre cracas, o minúsculo crustáceo que adere ao casco dos navios. Sobretudo um cientista, Darwin não ignorava que o desafio de toda hipótese atraente é demonstrá-la. E demonstrações cabais eram necessárias no caso de hipótese tão cativante, sem dúvida, pela facilidade com que iluminava num só clarão toda uma vasta esfera de fenômenos, mas ao mesmo tempo tão temerária no que continha de inverossímil, de bizarro, de avesso ao mais elementar senso intuitivo. O naturalista entregou-se a um silencioso trabalho de observação, além de estender uma rede de contatos com colegas, criadores, informantes e coletores de espécimes pelo mundo afora. Preparava um compêndio irrefutável que abrigasse um acúmulo esmagador de provas. Teria prosseguido, não se sabe por quanto tempo, não fosse a carta que recebeu em junho de 1858.
O missivista Alfred Russel Wallace escrevia da ilha de Ternate, na atual Indonésia. Era um jovem naturalista galês que vinha seguindo os passos de Darwin. Também estivera na América do Sul (inclusive no Brasil), lera com atenção os livros de Lyell e de Malthus, conhecia o relato de Darwin sobre a viagem do Beagle e havia escrito um ensaio sobre o problema da evolução. Sem os recursos familiares e o prestígio científico de Darwin, Wallace vivia dos espécimes que coletava nas florestas tropicais e vendia ao mercado europeu. Certo dia, acometido de malária, tremendo de febre numa cabana na selva, teve uma inspiração. Resolveu relatá-la numa carta a Darwin, a quem vendera carcaças de animais.
Ao ler a correspondência, no outro extremo do mundo, Darwin ficou atordoado. O texto era um resumo da teoria da seleção natural, às vezes com o emprego de expressões idênticas. Como Wallace pedia na carta que Darwin a mostrasse para Lyell, caso visse nela algum valor, foi isso o que ele fez, deixando que o geólogo arbitrasse a melindrosa questão. Lyell e outro amigo, o botânico Joseph Hooker, propuseram que um dos manuscritos que Darwin escrevera na década anterior fosse lido juntamente com a missiva de Wallace numa sessão científica. Darwin concordou, Wallace não foi consultado (declarando-se, mais tarde, satisfeito com o acordo de cavalheiros). A leitura ocorreu em 1º de julho de 1858, na Linnean Society, onde foi recebida com indiferença. No ano seguinte Darwin publicava A Origem das Espécies, que produziu impacto imediato. Consta que até a rainha Vitória o leu.
Aurgência fez bem ao livro. O que seria uma caudalosa digressão destinada a especialistas se condensou num volume com cerca de 400 páginas, escrito em linguagem acessível. Como é próprio num autor vitoriano, Darwin adota um andamento circunspecto e judicioso. O argumento se propaga em suaves ondas de persuasão, cautelosamente, como se as evidências forçassem autor e leitor a aceitá-lo quase a contragosto.
A maioria das objeções até hoje apontadas contra a teoria é discutida em detalhe já no livro em que ela é exposta. A formação miraculosa de um órgão complexo como o olho. O fato espantoso de que o favo com cavidades hexagonais é a melhor solução geométrica para armazenar um máximo de mel com um mínimo dispêndio de cera. A dificuldade oferecida por um membro como a asa, que só poderia beneficiar seu portador depois de estar “pronta” para fazê-lo voar. O chocalho da cascavel, que denuncia sua presença para possíveis presas. Darwin contorna essas e outras objeções, não sem antes tê-las enaltecido como dificuldades quase intransponíveis.
As idéias de Darwin foram recebidas com alarme e inquietação, que deram lugar a manifestações de repugnância quando ele as aplicou ao caso específico da espécie humana, em 1871, no livro A Descendência do Homem e a Seleção Sexual. Foi então que o assunto se tornou sensacional e proliferaram as charges em que Darwin aparece com corpo de macaco.
Sempre que pensamos na repulsa ao darwinismo, logo vêm à mente os criacionistas de hoje, com sua necessidade psicológica de manter os cordéis da natureza nas mãos de um senhor barbudo que mora no céu. Não foi essa a reação do público vitoriano, já demasiado esclarecido para dar ouvidos ao fundamentalismo religioso e a interpretações literais das escrituras. É possível ser devoto e darwinista ao mesmo tempo. Deus não precisa pilotar pessoalmente a evolução natural para existir, assim como ninguém espera que Ele se esfalfe para intervir no movimento dos corpos ou nas trocas de energia: basta que tenha criado as leis do universo e se recolhido, como diz o Gênesis, a um merecido repouso. Podendo conviver com a noção de um arquiteto oculto, não é menos verdade que a teoria da seleção natural prescinde dela.
Mas sua implicação devastadora é outra. Ela revela uma natureza que nada tem da concórdia idílica das pastorais, mas que irrompe, como no verso de um poema de Alfred Tennyson, de 1850, “com dentes e garras rubros” de sangue. Sua lei é a do egoísmo desabrido, seu método é a destruição dos mais fracos, seu propósito é nenhum. Toda moralidade, qualquer sentido de compaixão ou renúncia e o próprio cristianismo não passam de tréguas precárias que os homens aceitam mal e cumprem pior, antes de sucumbirem na voragem dos seres.
Se essa é a lei da natureza, por que não haveria de ser também a dos homens? O sistema concebido pelo darwinismo como explicação da natureza foi convertido em doutrina a ser prescrita à sociedade. Inventor da expressão “sobrevivência do mais apto”, tendo chegado ao evolucionismo por um caminho próprio, Herbert Spencer terá sido o primeiro sociólogo a parasitar o darwinismo, sob a desaprovação de Darwin e Huxley, para quem o homem está imerso na cultura, que remodela as pressões da biologia. Vivia-se, entretanto, a fase mais ostensiva do imperialismo. O pensamento europeu era receptivo a teorias que se prestassem a endossar a dominação dos povos “civilizados”, das raças “superiores”, das classes dominantes. À medida que nacionalismo e racismo se combinavam de forma agressiva, as idéias de Darwin seriam convocadas para justificar políticas de mistificação pseudocientífica, expansão territorial e genocídio.
No âmbito científico, persistiam dúvidas. Em 1871, por exemplo, um diletante britânico, Fleeming Jenkin, apresentou certa objeção que preocupou Darwin sobremaneira. Jenkin observava que as características genéticas parecem diluir-se ao longo do tempo. Se uma população de pele clara, digamos, reproduzir-se com outra de pele escura, os descendentes terão pele de cor intermediária. Pelo mesmo motivo, eventuais variações favoráveis que pudessem surgir ao acaso seriam dissolvidas logo nas gerações subseqüentes. Ficava inviabilizado um dos pilares da teoria. Darwin reconheceu que o processo da hereditariedade era uma incógnita. Pelas dúvidas, sempre sustentou que o mecanismo lamarckiano atuaria como força auxiliar da evolução. Quando morreu, em 1882, e foi enterrado na abadia de Westminster, cercado de reconhecimento universal, a seleção natural continuava uma hipótese ainda por comprovar.
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As características genéticas se combinam, mas não se misturam no sentido de resultar uma “média” entre elas. São transmitidas intactas e permanecem distintas na descendência. Foi essa a descoberta do monge austríaco (hoje ele seria tcheco) Gregor Mendel no experimento em que estudou a reprodução de linhagens de ervilhas. Escolheu a planta pelas variações nítidas no aspecto do grão: rugoso ou liso, amarelo ou verde, redondo ou angular. Essas características não se diluíam ao longo dos cruzamentos, e reapareciam a freqüências regulares. Em cada dupla de opções, uma delas era mais freqüente. Mendel traduziu as freqüências em fórmulas matemáticas. Os caracteres mais reincidentes ele chamou de “dominantes”, e de “recessivos” os outros. (No exemplo da cor da pele, o resultado é intermediário porque vários genes contribuem para determinar esse traço físico.)
Embora a experiência de Mendel já estivesse em curso quando Darwin decidiu escrever A Origem das Espécies, a publicação dos resultados permaneceu ignorada até ser redescoberta em 1900, dando origem à genética, a ciência da hereditariedade. Sabe-se hoje que as instruções químicas para construir os seres vivos estão “escritas” nas moléculas de um ácido, o DNA. Cada célula tem no seu núcleo uma cópia do conjunto das instruções, embora só uma mínima parte delas determine a feitura daquele tipo específico de célula. Fitas de DNA estão empacotadas, no núcleo das células, em corpúsculos chamados cromossomos. Na espécie humana, eles são 46.
Conforme revelava os mecanismos de transmissão dos caracteres herdados, em descobertas que se sucederam nas primeiras décadas do século XX, a genética confirmava, ao mesmo tempo, o cerne das teses de Darwin. Aos poucos, a teoria da seleção natural emergiu do limbo científico onde estivera relegada, convertida dessa vez em ciência “dura”, passível de ser comprovada no laboratório e expressa em linguagem algébrica. Muitos tomaram parte nesse trabalho coletivo, mas aos britânicos R.A. Fisher e J.B.S. Haldane e ao russo-americano Theodosius Dobzhansky é atribuída a formulação, nos anos 30 e 40, da chamada “síntese moderna”, demonstrando que são compatíveis os esquemas darwinista e mendeliano, e que sua conciliação matemática é a chave do funcionamento da natureza. É de Haldane, que foi comunista, a famosa resposta para uma pergunta sobre o que a seleção natural revela a respeito da mente de Deus: “Uma paixão desmedida por besouros”.
Toda uma gama de fenômenos, porém, ainda desafiava a teoria. Por que certos pássaros piam para alertar seus companheiros sobre a presença de um predador, correndo o risco de chamar uma perigosa atenção para si mesmos? Por que as abelhas, quando a colméia é ameaçada, desferem ataques suicidas, já que ao picar o intruso seu ferrão acaba decepado e elas morrem? Por que as formigas dedicam toda sua vida e lutam até a morte em prol das irmãs? Comportamentos altruístas são comuns nas espécies sociais, o que pode parecer simpático numa perspectiva moral, mas é embaraçoso do ângulo darwinista. Como o altruísmo tende a prejudicar quem o pratica, deveria ter sido eliminado pela seleção natural.
Olivro O Gene Egoísta, de 1976, do inglês Richard Dawkins (reeditado recentemente no Brasil em nova tradução), foi concebido para sustentar que o altruísmo está radicado no “egoísmo” dos genes. O autor se propõe a fazer uma exposição didática do trabalho de quatro biólogos da geração seguinte à de Fisher e Haldane, especialistas em genética populacional a quem o livro é consagrado: os britânicos J. Maynard Smith e W.D. Hamilton, e os americanos G.C. Williams e R.L. Trivers. As descobertas que fizeram, ocultas do público leigo em publicações especializadas, extravasam o problema técnico do altruísmo para desvendar um amplo panorama do comportamento animal naquelas esferas que mais influem no êxito darwiniano, sempre expresso em sobrevivência e fecundidade máximas: agressão, acasalamento, cooperação e dissimulação.
Para esses autores existe, decerto, uma competição entre espécies que ocupam um mesmo nicho e entre indivíduos de uma mesma espécie. Mas o nível básico da competição, aquele no qual se encontra em última análise o gargalo da seleção natural e ao qual todas as demais formas de competição podem ser reduzidas, é o nível dos genes. Se uma espécie é bem-sucedida, se um indivíduo deixa prole saudável e numerosa, tudo o que uma e outro fazem é disseminar mais cópias de seus respectivos genes, na forma de uma quantidade maior de organismos.
Das evidências dessa idéia, Dawkins extrai uma poderosa imagem: os seres vivos são veículos temporários que os genes fabricam e utilizam para se perpetuar no tempo. Mais do que etólogo, Dawkins é um escritor imaginativo, dotado de excepcional talento para a metáfora e a generalização. Os indivíduos, assim como os grupos, são “federações temporárias” de genes. Cada geração é uma partida de baralho na qual os cromossomos são as “mãos” e os genes são as cartas. Baleias, girafas ou seres humanos, somos “gigantescos e desajeitados robôs” construídos por aglomerados de genes para funcionar como seu abrigo provisório. Peixes são “máquinas” de sobreviver na água; macacos, de sobreviver nas árvores. Se vírus e bactérias viajam por meio dos fluidos corporais de um organismo infectado a outro, os genes, que tanto se assemelham a eles, trafegam por meio da reprodução sexuada, ao cabo da qual constroem suas novas moradas, em vez de infectar as que encontram prontas.
Os genes que determinam comportamentos altruístas tendem a se replicar mais, na medida em que “ajudam” suas cópias, contidas nos organismos de parentes, a se replicarem mais também. Esse princípio foi chamado de seleção por parentesco e seu desenvolvimento é atribuído a Hamilton. Outro conceito proposto por esses pesquisadores é o das “estratégias evolutivamente estáveis”. Diante de um predador ou rival, por exemplo, um indivíduo pode adotar atitudes de confrontação, ameaça, fuga ou apaziguamento. Estratégias opostas e complementares podem competir até se ajustarem numa proporção na qual entram em equilíbrio, tornando-se estáveis. Afirmar que uma estratégia é estável significa dizer que ela favorece, mais do que as demais variantes em seu gênero, a reprodução dos organismos que a adotam e, portanto, dos genes que a determinam.
O próprio sexo pode ser tomado como estratégia estável em sentido lato. É a reprodução sexuada que faz girar a loteria genética, assegurando que os indivíduos sejam ligeiramente diversos. Especula-se que a variedade genética seja vantajosa, por sua vez, ao funcionar como uma espécie de seguro coletivo, um estoque de adaptações e proteções imunológicas disponíveis em face de um ambiente que também varia. Além disso, a variação reduz a chance de um gene defeituoso ser idêntico a seu par no cromossomo, circunstância que pode provocar a eclosão de efeitos nocivos, quando não letais, no indivíduo assim formado.
Sendo o novo organismo resultado da fusão de duas células sexuais, seria mais eficiente que uma delas fosse maior, contendo material nutritivo e abrigo para o futuro embrião, e a outra fosse menor e mais móvel. Se algum arranjo é o mais eficiente, a seleção natural cedo ou tarde “encontrará” um caminho para produzi-lo. Em conseqüência, óvulos são mais dispendiosos e por isso mais escassos; espermatozóides são mais baratos e abundantes. Desde a aurora da sexualidade, o investimento por célula reprodutiva realizado pela fêmea é muito maior que o do macho. Aliás, é isso o que a define. Esse desnível se acentua num efeito “bola de neve”: a fêmea arca também com a gestação e, entre os mamíferos, com o aleitamento.
Omacho pode multiplicar seus genes disseminando suas numerosas células sexuais a esmo, ao passo que a fêmea fica restrita a uma fecundação de cada vez. É como se os machos se especializassem em produzir filhotes, as fêmeas em garantir que sobrevivam. As estratégias desenvolvidas pelos dois sexos serão conseqüência dessa especialização e dessa disparidade. Traduzirão o “interesse” da fêmea em aumentar o investimento do macho e o deste em manter e até ampliar o desnível. Seria a “guerra dos sexos” manifesta num plano estatístico e genético. Dawkins se compraz em relatar a contribuição drástica do louva-a-deus macho, cujo investimento consiste em sacrificar seu próprio corpo, ingerido vivo pela fêmea com quem acaba de copular, a fim de nutrir os ovos que seus espermatozóides fecundarão.
Sem chegar a tais extremos, a relação entre parceiros sexuais, segundo Trivers, é sempre de desconfiança e exploração mútuas. Cada lado busca se aproximar do que seria o “ideal” evolutivo: ter o máximo de filhos e deixar a outrem o encargo de cuidá-los. Na natureza, machos abandonam fêmeas que fecundaram, fêmeas dissimulam a verdadeira paternidade de suas ninhadas, machos recém-chegados matam os filhotes da fêmea antes de fecundá-la. Haverá promiscuidade, regime de harém ou monogamia conforme o saldo das condições ambientais (alimento, clima, predadores etc.) recompensar mais esse ou aquele arranjo. Acredita-se que ligações monogâmicas sejam premiadas em espécies nas quais o cuidado com a prole é muito dispendioso em termos de tempo e energia. Em certos tipos de pássaros, o filhote precisa ser alimentado a cada trinta segundos. Não surpreende que a monogamia seja freqüente entre as aves.
A fim de compelir os machos a investir mais, as fêmeas tendem a adotar um comportamento dito “recatado” ou “tímido”. Selecionam pretendentes, criam obstáculos, demandam ser cortejadas mediante complicados rituais, quando não exigem provisão de alimentos ou ninho adequado para a futura prole. Se a fêmea logra obter um investimento maior da parte do macho, ela o torna mais comprometido com o cuidado dos filhotes, o que é benéfico para seus próprios genes. Os machos disputam entre si pelo acesso a seus preciosos óvulos, sendo esse o motivo pelo qual, na maioria das espécies, são fisicamente maiores e mais agressivos que as fêmeas.
Dawkins imagina uma população em que as fêmeas podem assumir comportamento “tímido” ou “rápido”, enquanto os machos podem se conduzir de forma “fiel” ou “conquistadora”. Ele atribui uma pontuação arbitrária, mas plausível em termos de contabilidade evolutiva, a cada combinação possível dessas condutas quando postas em interação. Feitas as simulações, apurou que uma população na qual 5/6 das fêmeas fossem “tímidas” e 5/8 dos machos fossem “fiéis” seria evolutivamente estável. Observe-se que o resultado seria idêntico caso todas as fêmeas fossem “tímidas” 5/6 do tempo e todos os machos “fiéis” 5/8 do tempo… Mais tarde Dawkins, que é dado a reformular opiniões e atulhar seus livros com notas de rodapé, corrigiu-se. Nenhum arranjo seria estável, as proporções flutuariam de maneira intermitente. O comportamento “dos amantes oscila como a lua”, concluiu, tendo o bom senso de acrescentar que “ninguém precisa de equações diferenciais para perceber isso”.
Além daquele derivado do parentesco, Trivers distinguiu um comportamento semelhante que ele chamou de “altruísmo recíproco”. Nesse caso, o investimento realizado no bem-estar de outro indivíduo se dá na expectativa de retribuição. Toda a infinidade de seres que vivem em simbiose, como nós e as bactérias que habitam nosso aparelho gástrico, pratica altruísmo recíproco. Primatas que removem parasitas uns dos outros, também. Para nosso desalento, entretanto, a natureza premia não apenas a violência, mas igualmente a fraude. Os animais evitam o dispêndio e o risco da agressão desnecessária, restringindo-se quando possível à mímica hostil, como notou o austríaco Konrad Lorenz, um dos fundadores da etologia. Mas se o altruísmo recíproco é bom para as duas partes e funciona assim muitas vezes, pode ser ainda melhor para a parte que consiga se beneficiar sem ceder à devida contrapartida. Na sua avareza indiscriminada, a seleção natural incentiva tanto os falsários quanto os que aprendem a desmascará-los.
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Dawkins observa que entre os animais é o macho quem se “enfeita” para despertar a atenção da fêmea, a exemplo da problemática cauda do pavão, que tanta celeuma vem causando entre os evolucionistas desde Darwin e Wallace. Mas na espécie humana acontece o contrário, Dawkins acrescenta casualmente, sem esclarecer o porquê. Como em outros momentos, ele se detém às portas da nossa espécie, alegando que ela escapa a sua especialidade. Nem todos tiveram a mesma atitude.
O mais ambicioso na incursão pelo território das ciências humanas terá sido um entomologista americano, Edward O. Wilson. Considerado um dos maiores mirmecologistas (especialistas em formigas), Wilson dedicou-se a estabelecer, nas últimas décadas do século passado, uma alegada unidade subjacente às espécies sociais, incluído o Homo sapiens, que ele se propunha a ver “pelas lentes de um telescópio”. É insólito que um mirmecologista se aventure a teorizar sobre os humanos, mas a aproximação soa menos despropositada quando lembramos que as formigas são os únicos seres conhecidos a compartilhar conosco a guerra, a escravidão, a agricultura e a pecuária. Espécies vivem de guerrear outras, matar a população adulta e aprisionar as larvas. Levadas ao formigueiro das conquistadoras, serão escravas usadas para cultivar fungos, que alimentam pulgões, por elas ordenhados em benefício das larvas de suas senhoras.
Formigas, entretanto, são autômatos. Por mais complexos que sejam, seus comportamentos são inteiramente “programados” pelos genes. No caso da espécie humana, entre genética e comportamento se interpõe uma espessa camada: a cultura. Wilson a qualifica de “superorganismo” e opina que “a evolução social humana é obviamente mais cultural do que genética”. Seu estilo, límpido e criterioso, desarma prevenções. Ele se revela versado em leituras humanísticas e convida à retomada do projeto iluminista de uma ciência social tão “científica” quanto as disciplinas exatas e naturais. Modestamente, sugeriu uma nova: a sociobiologia, o estudo dos fundamentos genéticos e evolucionários do comportamento nas espécies sociais (depois conhecida também pela denominação mais discreta de psicologia evolutiva).
O leitor terá notado que se trata aqui da velha controvérsia entre natureza e cultura, entre o que é hereditário e o que é aprendido. Como outros trocadilhos memoráveis em inglês, nature/nurture (natureza/criação, educação) é um achado de Shakespeare. Aparece na cena de A Tempestade em que Próspero diz, sobre o “mau selvagem” Calibã, que sua natureza é feita de tal modo que nenhuma criação jamais adere a ela. Wilson discute estratagemas para compreender melhor como natureza e cultura se entrelaçam. A análise estatística em torno do histórico de gêmeos é um desses estratagemas. Gêmeos univitelinos provêm do mesmo óvulo e do mesmo espermatozóide e são, portanto, idênticos do ponto de vista genético. Uma técnica compara o histórico de gêmeos separados no nascimento e que cresceram em ambientes diversos com o de irmãos adotivos que, ao contrário, compartilham a educação, mas não os genes. Foram relatados resultados sugestivos de que o aspecto genético seria mais determinante do que o ambiental. Mas Wilson evita entrar nesse campeonato. Sua concepção do problema, como veremos, é mais complexa.
Outra abordagem havia sido proposta pelo antropólogo americano George P. Murdock, em 1945. Ele listou as características identificadas em todas as sociedades conhecidas até o seu presente, na presunção de que expressassem um estrato imune à variação cultural e que deveriam ter, portanto, fundamento genético. Murdock recolheu 68 práticas que seriam universais. Exemplos: calendário, dança, divisão do trabalho, festas familiares, linguagem, jogos, tabus alimentares, ritos fúnebres, cosmologia, direitos de propriedade, restrições sexuais, cirurgia, comércio, etiqueta social, tabu do incesto. Cabe perguntar se os itens são as impressões digitais do que seria a natureza humana, ou práticas que qualquer espécie ostentaria se chegasse ao nível de autoconsciência que atingimos.
Wilson postula que as raízes do comportamento humano consistem no que ele define como regras epigenéticas. Seriam predisposições inscritas no nível genético, aptidões para agir que podem se desdobrar num gradiente de possibilidades. Na interação com os estímulos do ambiente, porém, algumas dessas possibilidades se desenvolveriam e outras não. Sua forma exterior depende das variações culturais de uma sociedade para outra, mas todas são redutíveis à mesma matriz implantada pela seleção natural no repertório genético da espécie. Nessa ótica, a cultura não seria tanto um acréscimo à natureza, mas sua projeção; menos negação do que desdobramento dela. É como se nossa estrutura genética nos “preparasse” para viver imersos na cultura, da mesma forma que o aparelho fonador nos capacita para a fala. Wilson chama de “co-evolução” o nexo entre as duas esferas.
O tabu do incesto é dado como exemplo de regra epigenética. O incesto é desvantajoso em termos evolutivos porque aumenta a probabilidade de genes recessivos defeituosos ou letais, sendo idênticos no par, prevalecerem no cromossomo e se manifestarem no futuro organismo. Uma prevenção genética contra o incesto seria muito benéfica numa espécie em que é tão dispendiosa a produção de filhotes, caso da nossa. Em 1891, o antropólogo finlandês Edvard Westermarck publicou estudo em que sustentava que existe, nos seres humanos, uma aversão inata ao contato sexual com pessoas que tenham compartilhado da intimidade nos primeiros anos de vida. Wilson compila pesquisas empíricas que teriam comprovado o efeito Westermarck. Se o tabu do incesto está introjetado na “programação” genética, por que a cultura se dá ao trabalho de reiterá-lo? Dawkins responde com a metáfora do dono de um carro equipado com trava antifurto que resolve instalar um alarme como garantia adicional.
Ao contrário do senso intuitivo, que vê na cultura um fator de contenção das nossas inclinações mais arraigadas, alguns autores neodarwinistas parecem concebê-la como reforço delas. Wilson chama de “hipertrofia” essa suposta propensão da cultura a amplificar, até atingir exageros grotescos, as diretrizes implícitas nas regras epigenéticas. Ele pensa na guerra, no patriotismo e no racismo como produtos do “logaritmo” genético que favorece o comportamento de ajudar parentes e defender o bando primitivo contra bandos rivais. Impressionantes por sua maníaca complexidade, os sistemas de parentesco de certas sociedades tribais seriam, da mesma forma, a expressão hipertrofiada do dispositivo antiincesto descoberto por Westermarck.
Um dos livros de E. O. Wilson se chama Sobre a Natureza Humana. É propósito expresso da sociobiologia e dos estudos assemelhados restaurar esse controvertido conceito, como matriz, agora genética e não metafísica, comum a todos os seres humanos, substrato da enorme variação cultural e individual que caracteriza nossa espécie. A questão é explosiva porque serve de divisor de águas no pensamento político moderno. Sob as aparências de divergir a respeito de valores como “igualdade” e “liberdade”, direita e esquerda se definem precisamente pela discordância quanto à existência de uma natureza humana ou ao menos quanto a sua configuração – mais fixa e condicionada pelo elemento inato, segundo o pensamento político de direita, mais plástica e amoldável pela experiência histórica, segundo o de esquerda. Respondendo a críticos, Maynard Smith certa vez perguntou: “O que queriam que fizéssemos, que falsificássemos as equações?” Mas nenhuma pesquisa é neutra a ponto de não implicar uma perspectiva, a seleção de um problema, a escolha de uma hipótese. Embora conduza a descobertas objetivamente verificáveis e seja uma excepcional ferramenta utilitária, a atividade científica não está imune à ilusão ideológica. A história da ciência mostra que em cada época o conflito ideológico se torna encarniçado nas fronteiras do conhecimento, onde especulação e evidência se confundem, ainda mais se um paradigma tradicional está sob ameaça. Muito da concepção legada pelo humanismo acerca de nossa própria espécie é questionado pela psicologia evolutiva. Seria no mínimo prudente atentar para as críticas que são feitas à validade dos métodos que ela emprega. Tais críticas talvez possam ser resumidas a três vertentes principais.
A primeira delas é que as rotas de pesquisa sugeridas pela teoria social darwinista estão bloqueadas, ao menos no estágio atual do conhecimento. Ela promete, por assim dizer, o que não pode entregar. A junção concreta da base genética com o superorganismo cultural se dá no cérebro. Apesar dos avanços recentes da neurologia, o órgão mais complexo da natureza resiste a entregar seus mistérios. Funções cerebrais dependem do concurso simultâneo de diferentes partes do órgão. A própria distinção entre emoção e razão não se sustenta ante a evidência de que os dois processos se interpenetram. A seleção natural terá sido particularmente econômica ao produzir órgão tão dispendioso em consumo energético, de modo que idênticos percursos neuronais servem a finalidades diferentes e várias faculdades estão a cargo dos mesmos tecidos, comprimidos no menor espaço possível.
No flanco da pesquisa genética, a dificuldade é comparável. A noção primitiva de que a cada característica do organismo humano corresponderia um determinado gene é falsa. São raros os genes que isoladamente determinam um traço específico, como é o caso da cor dos olhos. Diversos genes contribuem para formar uma mesma característica; um mesmo gene pode exercer efeitos sobre características diversas. Há genes que ativam ou modificam a ação de outros genes. E a maioria aparentemente não tem função – especula-se que sejam passageiros oportunistas ou antigos vírus que parasitam o conjunto, viajando “de carona” pelas gerações afora. Até o lamarckismo reviveu, agora numa acepção molecular, pois parece haver indícios de que certos genes mudam por influência de estímulos ambientais.
Nem sequer existe consenso sobre o que é um gene. Melhor dizendo: há uma margem de arbitrariedade na definição de onde começa e termina um gene na fita de DNA. O conceito, à semelhança do átomo, foi formulado a priori, antes de sua verificação empírica. Em 1893, o alemão August Weismann sugeriu que a função hereditária seria desempenhada por uma substância enigmática contida no núcleo das células, o “plasma germinativo”. Na década seguinte, um biólogo dinamarquês, Wilhelm Johannsen, calculou que esse plasma haveria de ser composto por unidades básicas, que ele denominou de “genes”. Eram intuições corretas. Uma coisa, porém, é mapear o genoma, outra é entender seu funcionamento e ainda outra é manipular suas instruções. A ciência está longe de resolver esses dois últimos desafios.
Um segundo tipo de crítica focaliza o que poderíamos chamar de “superatribuição”. Dawkins afirma, por exemplo, que deve ser vantajoso voar em bandos, caso contrário as aves não o fariam. Hamilton ofereceu explicação engenhosa para a formação de manadas, bandos e cardumes: quem está nas bordas do grupo corre mais risco de ser atacado por predadores, razão pela qual todos derivam para o centro, dando origem às formações compactas. Mas no caso de organismos mais complexos, como o ser humano, será defensável atribuir todas as características ao benefício evolutivo que terão acarretado? O que dizer da miopia ou da impotência? Como explicar o suicídio, o ascetismo, o celibato? No mínimo, há uma multidão de genes que produzem efeitos benéficos e prejudiciais ao mesmo tempo. O reducionismo darwinista, quando atribui todos os fenômenos sob seu exame à seleção natural, depara com limites explicativos. Como as relações de produção na doutrina marxista e as pulsões do inconsciente na psicanálise, tomada numa chave dogmática a teoria da seleção natural se converte em abracadabra para “solucionar” problemas a golpes de mágica.
Chama atenção, por fim, a trivialidade das descobertas feitas pela psicologia evolutiva. Somos uma espécie moderadamente territorial. Somos dilacerados pelas trações contraditórias de cooperar, ludibriar e retaliar (criamos um sistema jurídico e moral na tentativa de regular essa tensão permanente). Somos solicitados pelas pressões evolutivas que favorecem a monogamia e pelas que induzem à variação genética. Somos sujeitos ao ciúme sexual, porque é vantajoso não desperdiçar investimentos na progênie alheia. Somos agressivos, mas inclinados à negociação para minorar danos. E assim por diante. Não se trata propriamente de revelações. Os sociobiólogos podem alegar que demonstraram, em termos matemáticos, como e por que essas e outras formas de comportamento social se fixaram. Seu método teria fornecido fundamento científico para percepções de senso comum.
Ainda assim, é legítimo que suas conclusões despertem desconfiança, conforme reiteram concepções tão tradicionais a respeito do homem e da sociedade. Com exceção de Fisher e Lorenz, nenhum dos naturalistas e biólogos mencionados neste artigo poderia ser classificado como politicamente reacionário. Darwin era abolicionista, Wallace era socialista, Maynard Smith e Haldane pertenceram ao Partido Comunista, Trivers foi membro do grupo revolucionário Panteras Negras nos anos 70. O darwinismo exala, porém, um odor de fatalidade. Há algo de conformista em sua resignada aceitação de tudo o que existe como resultado ótimo de um longo preparo. Como teoria, exemplifica os aspectos em que o iluminismo anglo-saxão diverge da versão continental: é gradualista, enfatiza antes as linhas de continuidade que as de ruptura, considera que a natureza humana é egoísta e não potencialmente virtuosa. A psicologia evolutiva traz o fatalismo implícito na teoria da seleção natural para muito perto de nós, e seu timbre conservador soa demasiado familiar para não levantar suspeitas.
Talvez as ciências humanas possam reencontrar algo da vitalidade perdida no esforço, que se espera delas, de criticar o assalto intelectual do neo-darwinismo, desde que a refutação não se limite a palavras de ordem. Na expressão do sociólogo americano Lee Ellis, sua disciplina precisa superar a atitude “biofóbica” que a caracteriza, não sem motivos, desde o começo do século XX. Talvez para persuadir de que o panorama descortinado por suas revelações não é tão desolador como parece, os neodarwinistas ressaltam que a espécie humana, tendo atingido a consciência e num passo seguinte o conhecimento científico, é a única que pode vir a dominar os genes, em vez de ser dominada por eles. Tudo indica que, mais cedo ou mais tarde, será tecnicamente possível interferir com segurança no repertório genético e recriá-lo. Depende das ciências humanas e não da biologia definir se esse futuro ainda envolto em névoas será mais parecido com o pior dos pesadelos ou com a maior das utopias.
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