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Ricardo Braga-Neto
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Obra completa de Alfred Wallace, cientista que desenvolveu a mesma teoria de Darwin, é publicada na internet
O nome Alfred Russel Wallace (1823-1913) vive longe dos holofotes. Nos livros didáticos das escolas no Brasil, por exemplo, ele se acostumou a ser mencionado como aquele naturalista que, após um surto de febre tropical, enviou a Charles Darwin (1809-1882) a cópia de um ensaio contendo princípios e conclusões bastante similares às que o próprio Darwin vinha elaborando. Temendo deixar escapar a paternidade da teoria da seleção natural, Darwin teria antecipado a publicação das suas ideias. De acordo com os mesmo livros didáticos, aí terminaria – tão repentina e intensa quanto a febre contraída na Malásia – a relevância de Wallace para a ciência.
Mas não falta quem diga que o cientista mereça mais reconhecimento pela sua colaboração à história da biologia. “As contribuições originais de Wallace para a evolução e outros assuntos biológicos são geralmente negligenciadas”, afirma Viviane Arruda do Carmo, autora de uma tese de doutorado sobre o naturalista inglês apresentada na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) no ano passado. Ela lembra que Wallace, para além do episódio com seu bem mais famoso conterrâneo, tem uma extensa lista de obras sobre outros campos do conhecimento. Ele foi um dos pioneiros da biogeografia (ciência que busca explicar as variações encontradas em animais e plantas de acordo com a distribuição geográfica), estudou o uso das cores no reino animal e vegetal que catalogou em suas viagens dezenas de espécies não conhecidas à época, além de ter produzido material significativo para a geografia e geologia.
Na rede – Quem quiser saber mais sobre a vida e obra desse pesquisador inglês tem à sua disposição, desde a última quinta-feira, o domínio Wallace-online.org. A Universidade Nacional de Cingapura digitalizou toda a sua produção científica, num acervo online com 28.000 páginas de documentos históricos e 22.000 imagens, incluindo ensaios, ilustrações, mapas e relatos de viagens.
É possível ter acesso, por exemplo, aos escritos que Wallace redigiu sobre a sua viagem à região da floresta amazônica, entre 1848 e 1852. “Wallace Iniciou sua carreira como naturalista aqui no Brasil”, explica Viviane Arruda do Carmo. Na ocasião, a primeira grande viagem de exploração do naturalista, ele catalogou 110 gêneros de peixes na bacia amazônica, sendo que 35 não eram conhecidos. Além do mais, continua Viviane, Wallace foi o primeiro europeu a subir todo o Rio Negro e a realizar medições de latitude e longitude ao longo do curso d’água.
O Wallace Online é um projeto inspirado no Darwin Online, website da Universidade de Cambridge, na Inglaterra (por sinal, a instituição na qual Darwin realizou seus estudos no século 19). Por trás das duas iniciativas está o doutor John van Wyhe, especialista em história da ciência na Universidade Nacional de Cingapura. “Wallace sempre estará ligado a Darwin porque ele elaborou as mesmas respostas para a maior pergunta na natureza: de onde vêm as espécies? Elas descendem de formas mais antigas e diferentes”, diz van Wyhe ao site de VEJA. A compilação e digitalização da produção de Wallace foram custeadas por uma doação anônima proveniente dos Estados Unidos e chegam a tempo para as celebrações do centenário de morte do naturalista inglês, no ano que vem.
Darwin e Wallace – Alfred Wallace desenvolveu uma explicação para a evolução das espécies quando viveu no arquipélago malaio, viagem que durou oito anos. Em 1858, enquanto sofria de uma febre tropical, ele escreveu o ensaio On the tendency of varieties to depart indefinitely from the original type (“Sobre a tendência das variedades de se afastarem indefinidamente do tipo original”, em tradução livre). O texto continha um princípio geral da natureza, bastante similar ao que Charles Darwin vinha concebendo, segundo o qual apenas uma minoria melhor adaptada das espécies sobrevivera à luta por recursos. O novo site sobre o pesquisador exemplifica: “Por que, por exemplo, um inseto tem a mesma cor que as folhas onde costuma habitar? Porque muitos insetos com cores diferentes nasceram, mas aqueles que podiam ser facilmente identificados foram destruídos por seus predadores.”
Embora semelhante à ideia chamada por Darwin de “seleção natural”, as conclusões dos dois naturalistas foram alcançadas de forma independente, explica Viviane Arruda do Carmo. Wallace sabia que Darwin, na época um cientista mais velho e bastante respeitado, estava preparando um grande trabalho sobre evolução. Da Malásia, ele enviou uma cópia do seu ensaio pedindo que Darwin o analisasse. Este decidiu encaminhá-lo, junto com um resumo do que viria a ser A origem das espécies (publicado um ano depois), a uma prestigiosa academia de ciências de Londres. Os dois textos foram impressos como uma contribuição conjunta de Darwin e Wallace.
Isso não quer dizer, pondera Viviane, que se deveria reconhecer Wallace como coautor da teoria de seleção natural. “Não foi coautoria e não se pode dizer que Wallace tenha apresentado uma teoria sistematizada da evolução, como fez Darwin. Ele propôs, num ensaio, o mecanismo que foi batizado por Darwin de seleção natural.”
“Wallace sempre deixou claro que Darwin incluiu aspectos nos seus textos que ele não havia pensado.” Em 1889, alguns anos após a morte Darwin, Arthur Wallace publicou um livro intitulado Darwinismo. Nele, o autor organiza as ideias darwinianas — com algumas alterações e atualizações – três décadas após da publicação de A Origem das Espécies.
“Darwin e Wallace elaboraram as mesmas respostas para a maior pergunta da natureza”
John van Wyhe
Historiador e professor do departamento de Ciências Biológicas & História na Universidade Nacional de Cingapura. Fundador e diretor dos projetos Darwin online e Wallace online.
Qual a ligação das ideias de Alfred Wallace com as teorias de Charles Darwin?
Wallace sempre estará ligado a Darwin porque eles elaboraram as mesmas respostas para a maior pergunta na natureza: de onde vêm as espécies? Elas descendem de formas mais antigas e que eram diferentes. Darwin é mais conhecido porque foi o seu livro que convenceu a comunidade científica internacional que a evolução das espécies era um fato.
Qual foi o trabalho desenvolvido por Wallace no Brasil (1848-52)?
Wallace descobriu novas espécies na Amazônia e percebeu que, algumas vezes, rios muito grandes serviam de barreiras naturais para diferentes espécies.
Como você definiria a importância que Wallace teve para a história da ciência?
Wallace é um exemplo inspirador de como uma pessoa comum, sem vantagens de riqueza e privilégio, pode alcançar descobertas inovadoras por meio do trabalho duro e de um pensamento independente.
..Na época de Darwin as mutações e as leis de Mendel não eram conhecidas. Hoje sabemos também que a seleção natural não é o único mecanismo que rege a evolução. A mutação, a deriva genética e a migração de indivíduos também agem para a modificação dos seres vivos ao longo do tempo.16
Gradualismo
O que é Gradualismo?
Ao longo dos anos observa-se um questionamento sobre a origem da vida e como a mesma se transforma. A teoria do gradualismo foi proposta em 1859 pelo naturalista Charles Darwin, sendo esta hipótese formulada em seu livro A origem das espécies. Segundo o gradualismo, a especiação é definida como um processo lento e gradual, que ocorre pelo acúmulo de pequenas mudanças ao longo do tempo. Estas diferenças vão se acumulando, e passam para os seus descendentes, ou seja, as espécies descendem de um ancestral comum e vão sofrendo modificações graduais ao longo do tempo, onde cada geração deixa para a próxima algum tipo de modificação.
Estas mudanças ajudam na adaptação do organismo ao habitat natural, e a manter-se em harmonia com outros seres e o meio ambiente.
Através de um registro fóssil, houve muita discussão, alguns pesquisadores não constataram evidências de mudanças graduais, porém outros questionaram ao relatar que o registro era impreciso e falho, ou seja, nenhuma teoria foi determinada através deste fóssil.
Com base em argumentos outros pesquisadores acreditam na teoria do equilíbrio pontuado contrário ao gradualismo. Esta outra teoria surgiu em 1.972, proposta por Stephen Jay Gould e Niles Eldrege, que defende que as espécies passam milhares de anos sem sofrerem alterações, e pouco se modificam, ou seja, ficam longos períodos sem modificações significativas, mas de repente as espécies se diversificam rapidamente, ocorrendo grandes transformações,originando as pontuações de mudanças rápidas de equilíbrio constante.
A teoria do gradualismo é influenciadora, porém questionada por alguns cientistas. Há quem concorde com ela, enquanto outros acreditam que grandes mudanças evolutivas ocorrem de maneira rápida, como relata a teoria do equilíbrio pontuado.Estas discussões são benéficas, pois busca dar uma resposta precisa a respeito das características evolutivas, e como os seres vivos se adaptam ao meio como um todo.
Camila Correia
Por que é tão difícil definir o que é vida e o que são seres 'vivos'?
A maioria das pessoas provavelmente não precisa pensar muito para distinguir seres vivos dos "não-vivos". Em tese, é fácil: um humano está vivo, uma rocha, não. A tarefa pode parecer simples, mas é bem mais complexa para cientistas e filósofos, que há milênios ponderam sobre o que faz uma coisa "estar viva".
Grandes intelectuais, como o grego Aristóteles e o cosmólogo americano Carl Sagan, debruçaram-se sobre esse problema, em milênios diferentes, e até hoje não há uma definição que agrade a todos.
Literalmente falando, ainda não temos um significado para vida, e a definição ficou ainda mais difícil nos últimos cem anos. Até o século 19, prevalecia a noção de que a vida era especial graças à presença de uma alma intangível, ou uma "fagulha vital".
Essa definição deu lugar a abordagens mais científicas. A NASA, a agência espacial dos Estados Unidos, por exemplo, define vida como "um sistema químico autossustentável capaz de evolução Darwiniana".
Essa é apenas uma de pelo menos cem definições já propostas para tentar se chegar a um conceito simples que englobe todas as formas de vida. Todas as sugestões focam em algumas atribuições comuns como replicação e metabolismo.
A falta de consenso para se chegar a uma definição reflete a divergência de ideias entre cientistas sobre o que é necessário para se estabelecer que algo "está vivo". Enquanto um químico poderia dizer que a vida se resume a algumas moléculas, um físico talvez considerasse importante incluir na discussão a questão da termodinâmica.
Para se ter uma ideia de por que é tão difícil definir vida, apresentamos um resumo sobre o que pensam alguns dos cientistas que hoje trabalham nessa fronteira que separa coisas "vivas" do restante - e que tenta chegar a um conceito e a um consenso sobre o termo.
Vírus
Nas aulas de biologia, crianças memorizam sete processos necessários para que haja vida: movimento, respiração, sensibilidade, crescimento, reprodução, excreção e nutrição. Mas os processos estão presentes em muitas coisas que nós não classificaríamos como "vivas".
Segundo essa definição, por exemplo, alguns cristais, proteínas infecciosas chamadas de príons e até certos programas de computador estariam "vivos". Nesse sentido, os vírus são um exemplo clássico da dificuldade de estabelecer algo como "vivo" ou "não vivo".
"Eles não são células, não têm metabolismo e são inertes desde que não encontrem uma célula", diz Patrick Forterre, microbiologista do Instituto Pasteur, em Paris, na França.
Muitos cientistas chegaram à conclusão de que os vírus não são vivos. Forterre pensa diferente, mas o cientista relativiza e admite que tudo depende de onde você decide colocar o ponto de corte.
Faltam aos vírus quase todos os atributos que os qualificariam como seres vivos. No entanto, eles possuem informações codificadas em DNA ou RNA (Ácido Desoxirribonucleico e Ácido Ribonucleico).
O DNA é o material genético de todos os organismos celulares e de grande parte dos vírus. O RNA é o material genético de alguns tipos de vírus e, nos organismos celulares, a molécula que dirige as fases da síntese de proteínas. Juntos, DNA e RNA transportam a informação necessária para dirigir a síntese de proteínas e sua replicação.
Essas estruturas, compartilhadas por todas as criaturas vivas do planeta, permitem que os vírus evoluam e se repliquem --mesmo que, para isso, precisem "sequestrar" a maquinaria de células vivas.
O fato de que os vírus, assim como todas as formas de vida conhecidas, carregam DNA ou RNA, levou alguns cientistas a incluí-los na categoria dos "vivos". Outros sugerem até que os vírus podem trazer pistas que nos ajudariam a compreender como a vida começou.
Nesse caso, a definição de vida deixa de ser um conceito em branco e preto e ganha formas e contornos mais nebulosos. Adotando essa linha de pensamento, alguns cientistas caracterizam os vírus como coisas que existem na "fronteira entre a química e a vida".
Replicação Imperfeita
Os polímeros também poderiam ajudar a identificar se algo é vivo ou não. Eles são materiais que apresentam ligações em cadeia entre átomos de carbono com outros elementos químicos.
A partir desses polímeros --ácidos nucleicos que constituem o DNA, proteínas e polissacarídeos-- é construída praticamente toda a vida, em sua diversidade. "A vida como a conhecemos se baseia em polímeros à base de carbono", disse Jeffrey Bada, do Instituto Scripps de Oceanografia em San Diego, na Califórnia, Estados Unidos.
Bada foi aluno do bioquímico Stanley Miller, um dos cientistas responsáveis pela Experiência Miller-Urrey, que, na década de 50, foi um dos primeiros a explorar a ideia de que a vida surgiria de substâncias químicas não vivas e que é clássica sobre a origem da vida.
Bada recorre ao experimento para demonstrar que, ao simular as condições atmosféricas dos primórdios da formação da Terra, vários compostos orgânicos eram formados espontaneamente.
Mais tarde, ele ainda refez o experimento, provando que uma variedade ainda maior de moléculas biologicamente relevantes é formada quando se lança eletricidade sobre uma mistura de substâncias químicas que, acredita-se, estavam presentes nas origens da Terra.
Mas essas substâncias químicas não estão vivas. Então, o que é necessário para que elas ganhem vida?
A resposta de Bada é surpreendente: "replicação imperfeita de moléculas informacionais teria marcado a origem da vida e da evolução, e assim, a transição da química não viva para a bioquímica".
O início da replicação, e mais especificamente, a replicação com alguns erros, leva à criação de "filhotes" com níveis diferentes de habilidade. Esses filhotes moleculares podem então competir uns com os outros pela sobrevivência. "Isso é, basicamente, a evolução Darwiniana em escala molecular", disse Bada.
Vida Desconhecida
Será que nós perceberíamos a presença de vida em Marte? Tentar adivinhar como seria a vida alienígena é ainda mais complicado. Pesquisadores como Charles Cockell e outros do Centro Britânico de Astrobiologia da Universidade de Edimburgo, na Escócia, usam microrganismos capazes de sobreviver em ambientes extremos como modelos para a vida extraterrestre.
A argumentação é de que a vida em outros planetas pode existir em condições bastante diferentes, mas provavelmente mantenha muitas das características da vida que nós reconheceríamos na Terra. "[Mas] temos de manter a mente aberta para a possibilidade de encontrarmos algo que não se enquadre nessa definição", disse Cockell.
Historicamente, a tentativa de usar apenas nosso conhecimento sobre a vida terrestre para identificar vida alienígena trouxe resultados confusos. A Nasa, por exemplo, achava que tinha uma boa definição para vida quando, em 1976, a nave espacial Vicking 1 conseguiu pousar em Marte, equipada com três equipamentos para "testar a vida".
Um teste em particular pareceu indicar que havia vida em Marte: os índices de dióxido de carbono no solo do planeta eram altos, um indício de que havia micróbios vivendo e respirando na superfície do Planeta Vermelho.
Na verdade, porém, os índices de dióxido de carbono observados pelos pesquisadores são, hoje, quase universalmente atribuídos a um fenômeno bem menos interessante: as oxidações não-biológicas.
Os astrobiólogos estão usando essas experiências como aprendizado e apurando os critérios que usam para procurar por alienígenas --uma busca que ainda não obteve êxito e que sugere que os astrobiólogos não devam estreitar demais esses mesmos critérios.
Para Sagan, a visão "carbonocêntrica" da vida alienígena --que ele chamava de "chovinismo do carbono" pode atrapalhar a busca por extraterrestres.
"Algumas pessoas sugerem, por exemplo, que talvez os alienígenas sejam feitos à base de outros solventes [e não de água]", disse Cockell. "Já houve até discussões sobre a possibilidade de que existam organismos extraterrestres inteligentes nas nuvens."
Em 2010, a descoberta de bactérias com DNA contendo arsênico em vez de fósforo (como é padrão) deixou muitos astrobiólogos animados. De lá para cá, embora a descoberta tenha sido questionada, muitos pesquisadores continuam esperançosos de encontrar provas da existência de formas de vida que fujam das regras convencionais.
E em meio a essa discussão, há ainda cientistas trabalhando em formas de vida que não são baseadas em química.
Vida Artificial
A criação de vida artificial - restrita, no passado, ao plano da ficção científica - é hoje um campo bastante estabelecido da Ciência.
Essa área pode envolver, por exemplo, biólogos criando novos organismos em laboratório ao "juntar" partes de duas ou mais formas de vida já existentes ou conceitos ainda mais abstratos de "vida artificial".
Desde a década de 1990, quando o programa de computador Tierra, criado por Thomas Ray, pareceu demonstrar a síntese e a evolução de "formas de vida" digitais, pesquisadores vêm tentando criar programas de computador que realmente simulem a vida - algumas equipes trabalham até na criação de robôs com características similares às da vida convencional.
"A ideia é tentar compreender as propriedades essenciais de todos os sistemas vivos, não apenas os sistemas vivos que por acaso estão presentes na Terra. Temos uma visão mais ampla do que é vida, que ultrapassa aquelas formas que estamos familiarizados", disse o especialista em vida artificial Mark Bedau, do Reed College, em Portland, no estado de Oregon, Estados Unidos.
Ainda assim, muitos pesquisadores trabalhando com vida artificial usam o que sabemos sobre a vida na Terra como base para seus estudos. Bedau disse que os pesquisadores usam o que ele chama de "modelo PMC" (sigla para program, metabolism and container, ou "programa, metabolismo e recipiente", em português). Nesse modelo, por exemplo, o DNA poderia ser um programa e o recipiente, a parede de uma célula.
"É importante notar que isso não é uma definição de vida, apenas uma definição de vida química mínima", acrescentou.
Para os especialistas que pesquisam formas "não químicas" de vida, a tarefa é criar versões desses componentes PMC na forma de programas de computador. "Não acho que haja uma definição exata (de vida), mas precisamos continuar buscando uma", disse Steen Rasmussen, que trabalha na criação de vida artificial na Universidade Southern Denmark, em Odense, na Dinamarca.
Grupos de cientistas em todo o mundo vêm trabalhando em componentes individuais do modelo PMC, criando sistemas que demonstram um ou outro aspecto dele.
Até agora, no entanto, ninguém conseguiu unir todas as partes para formar um tipo de vida sintética que funcione. "É um processo de baixo para cima, construindo (a vida sintética) pedaço por pedaço", explicou.
Talvez as pesquisas nesse campo possam funcionar em uma escala mais ampla, criando formas de vida completamente estranhas às nossas expectativas ou poderiam ainda ajudar a redefinir nosso entendimento sobre o que é vida. Mas, segundo Bedau, os cientistas ainda não chegaram a esse ponto.
"Eles não têm de se preocupar em definir todas as formas de vida, talvez conversem sobre isso quando tomam uma cerveja, mas não precisam incluir (o conceito) em seu trabalho."
Portanto, se até entre os que pesquisam --e constroem-- novas formas de vida não há preocupação em encontrar uma definição universal única, será que os cientistas deveriam deixar a questão de lado por um tempo?
Para a filósofa Carol Cleland, da Universidade Colorado Boulder, no Colorado, nos Estados Unidos, a resposta é sim. Pelo menos por enquanto.
"Se você está tentando fazer uma generalização sobre mamíferos usando uma zebra, que característica você vai escolher?", perguntou Cleland. "Com certeza não serão as glândulas mamárias, porque somente a metade delas tem mamas. As listras parecem ser a escolha óbvia, mas são apenas um acidente, e não o que caracteriza as zebras como mamíferos", disse.
E é a mesma coisa com a vida. Talvez as coisas que pensamos ser essenciais sejam apenas peculiares à vida na Terra. Afinal, tudo --de bactérias a leões-- é derivado de um único ancestral comum, o que significa que no nosso mapa da vida no Universo temos apenas uma única informação.
"O homem tende a fazer definições em termos do que é familiar. Mas a verdade fundamental pode não ser familiar", disse Sagan.
Vida Estranha
Até que tenhamos descoberto e estudado formas alternativas de vida, não poderemos saber se as características que julgamos ser essenciais à vida são mesmo universais.
Criar vida artificial talvez seja uma maneira de explorarmos formas alternativas de vida, mas, pelo menos no curto prazo, a tendência é embutirmos nossas preconcepções sobre sistemas vivos nas vidas que imaginamos dentro do computador.
Para definirmos a vida direito, talvez precisemos encontrar alguns alienígenas. A ironia é que tentativas de chegar a uma definição de vida antes da descoberta desses alienígenas podem tornar a busca por eles ainda mais difícil.
Já pensou que tragédia seria se, em 2020, o novo Mars Rover (veículo não-tripulado que a Nasa pretende colocar no solo de Marte) passasse sem notar por um marciano, simplesmente por não ter sido capaz de perceber que ele era um ser vivo.
"A definição pode, na verdade, atrapalhar a busca por nova vida", diz Cleland. "Nós precisamos nos afastar do nosso conceito atual, para que possamos estar abertos e prontos a descobrir a vida como ainda não conhecemos."
"A replicação imperfeita de moléculas informativas teria marcado a origem da vida e da evolução e, portanto, a transição da química não viva para a bioquímica", diz Bada. O início da replicação, e especificamente a replicação que envolve erros, leva à criação de "descendentes" com diferentes níveis de habilidade. Esses descendentes moleculares podem então competir entre si pela sobrevivência.
Ricardo Braga-Neto é biólogo e especialista em ecologia de fungos da Amazônia.
Darwin é acusado de se apropriar de ideias de Wallace
Ricardo Braga-Neto*
terça-feira, 18 junho 2013 23:20
Fonte: blog Biogeografia da Amazônia.
Considerado como um coadjuvante no descobrimento da Teoria da Evolução, Alfred Russel Wallace pode ter tido um papel muito mais proeminente, sugere um artigo de Roy Davies recentemente publicado na revista Biological Journal of the Linnean Society. Baseado em uma análise cronológica da produção científica de Wallace e Darwin e das correspondências trocadas pelos pesquisadores entre si e outros colegas, Davies questiona o pioneirismo individual de Darwin e sugere que ele pode ter se beneficiado das ideias de Wallace sem o devido reconhecimento e crédito.
Diferentemente de Darwin, Wallace sempre valorizou a importância da geografia na compreensão da diversificação biológica no planeta, sendo considerado o fundador da biogeografia histórica. Em 1848, Wallace partiu em direção à sua primeira grande experiência em uma viagem para a Amazônia brasileira junto com Henry Walter Bates para aprofundar seus estudos em história natural e investigar a origem das espécies. Ele estudou aves, macacos e borboletas em seus habitats naturais e percebeu que barreiras físicas, como os rios da Amazônia, limitavam a distribuição de muitas espécies próximas.
Suposto atraso no correio
‘A Brazilian Forest’, with characteristic Mammalia.
“Os fatos indicam que Darwin foi rapidamente incorporando essas ideias de Wallace, tendo escrito mais de 60 páginas após o conteúdo privilegiado ter chegado pelo correio.”
Após quatro anos na Amazônia, Wallace deixou o Brasil em direção à Europa com espécimes e uma interpretação recém concebida sobre a origem das espécies, mas por um capricho do destino praticamente todo o material coletado se perdeu em um barco afundado em pleno Atlântico. Se o período na Amazônia sugeriu a Wallace a importância dos rios como barreiras na diversificação da biota, foi no sudeste Asiático onde ele levou essas ideias além e desenvolveu sua interpretação sobre a evolução biológica e sua expressão geográfica. Em 1855, Wallace publicou um artigo debatendo a importância da extinção e descendentes com modificação como elementos fundamentais no processo de mudança das espécies ao longo do tempo, que ficou conhecido como ‘Lei de Sarawak‘. No ano seguinte, Wallace publicou um artigo sobre aves discutindo a ideia dos descendentes com modificação, inevitavelmente se firmando como um problema iminente ao pioneirismo de Darwin.
Wallace escreveu poucas cartas para Darwin, mas a análise de Davies ressalta que o conteúdo de duas cartas contendo suas principais ideias tenha sido determinante para Darwin complementar seu trabalho. Os fatos indicam que Darwin foi rapidamente incorporando essas ideias de Wallace, tendo escrito mais de 60 páginas após o conteúdo privilegiado ter chegado pelo correio. Darwin alegou um atraso de 4 meses para a primeira e 2 semanas para a segunda carta de Wallace, mas segundo Davies os registros históricos dos correios na Inglaterra indicam que ele funcionava perfeitamente bem e as chances de um atraso longo e repetido nas duas cartas de Wallace é mínimo. Até então as ideias publicadas por Darwin não eram convincentes, mas a publicação da Origem das Espécies em 1859 mostra que a incorporação dos conceitos apurados por Wallace anos antes foram imprescindíveis para a abrangência da teoria.
*Esse artigo foi originalmente publicado no blog Biogeografia da Amazônia.
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Veja o artigo de Roy Davies na íntegra: “1 July 1858: what Wallace knew; what Lyell thought he knew; what both he and Hooker took on trust; and what Charles Darwin never told them. Biological Journal of the Linnean Society”.
CategoriasColunistas Convidados
TagsAlfred R. Wallace, ciência, darwin, evolução, Teoria da Evolução
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Comentários (1)
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Jair· 58 semanas atrás
Sugiro ler a biografia de Humboldt. Ele influenciou os dois, no quesito biogeografia
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Seleção natural ainda se aplica aos seres humanos
Um novo estudo comprova que a seleção natural, proposta pelo naturalista inglês Charles Darwin no século XIX, ainda se aplica à espécie humana. O artigo foi publicado nesta segunda-feira no periódico PNAS.
Saiba mais
SELEÇÃO NATURAL
A teoria da seleção natural foi formulada pelo naturalista Charles Darwin em seu livro A Origem das Espécies, em 1859. Segundo a teoria, as criaturas mais adaptadas – não necessariamente as mais fortes – conseguem passar adiante suas características, enquanto as menos adaptadas perecem. Ainda segundo essa teoria, todas as criaturas têm um ancestral em comum. Mutações sucessivas foram diferenciando as espécies. As mutações que deixavam os seres mais adaptados prosperavam.
Pesquisadores de diferentes áreas, como medicina, ciências sociais e biologia, ainda não chegaram a um acordo sobre o quanto a seleção natural influenciou a evolução humana depois de adaptações sociais e culturais e a revolução agrícola. Parte dos cientistas considera que alguns aspectos seletivos, como o acesso à comida e influências ambientais, não são tão importantes hoje quanto eram nas sociedades de caçadores-coletores de 10.000 anos atrás.
O estudo realizado na Universidade de Turku (Finlândia), contudo, aponta que a seleção natural ainda se aplica aos seres humanos. Para chegar a essa conclusão, os autores analisaram o registro de 6.000 finlandeses pertencentes a famílias monogâmicas entre 1760 e 1849. Os cientistas determinaram se as mudanças demográficas, culturais e tecnológicas da revolução agrícola reduziram a seleção natural em humanos.
Os cientistas usaram informações detalhadas sobre a condição econômica, nascimento, mortes e casamentos e estudaram quatro estágios da seleção natural: sobrevivência à vida adulta, acesso à procriação, sucesso na procriação e a fertilidade por indivíduo. A pesquisa revelou que a intensidade da seleção natural nas populações era compatível com a seleção em outras espécies.
Por exemplo, quase metade das pessoas morreram antes de completarem 15 anos. Nenhum dos seus genes foram passados para as gerações seguintes, um sinal de que a seleção natural atuou sobre essa população. Dos que conseguiram avançar além da infância, 20% não se casaram e não tiveram filhos. Isso sugere que algumas características impediram alguns indivíduos de conseguir parceiras e passar os genes para a próxima geração.
Apesar de a monogamia ter limitado o potencial da seleção natural, o estudo revelou que todos os pré-requisitos para a seleção natural foram cumpridos. Isso é verdade mesmo para indivíduos mais ricos, que teoricamente teriam recursos para impedir que a seleção natural favorecesse essa ou aquela pessoa. Os mais ricos poderiam, por exemplo, tratar de algum filho doente contratando serviços médicos, evitando que ele morresse antes de chegar à vida adulta. Contudo, o estudo descobriu que as taxas de sobrevivência logo após o nascimento e a fertilidade desempenharam papel mais importante.
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Uma pesquisa realizada na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP) estabeleceu novos limites das espécies de ratos-do-brejo e de sua distribuição geográfica. O estudo reconheceu sete espécies dos roedores, uma a mais do que era conhecido pela ciência, provenientes do Nordeste brasileiro em áreas úmidas na Floresta Atlântica e Caatinga, e descobriu distintas conexões temporais entre as áreas úmidas dos biomas florestais da América do Sul. As conclusões têm implicações para a conservação desses animais e de seus biomas.
A pesquisa foi realizada pela pós-doutoranda Joyce Rodrigues do Prado e pelo professor Alexandre Reis Percequillo, do Departamento de Ciências Biológicas da Esalq-USP e do Programa de Pós-Graduação Interunidades (Esalq-Cena), junto com a professora Lacey Knowles, da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, com apoio da Fapesp.
Os ratos-do-brejo, do gênero Holochilus, são amplamente distribuídos pelos biomas da América do Sul, têm hábito de vida semiaquático, ocupando áreas abertas das planícies tropicais. A especificidade de habitat e hábito faz com que esses roedores se tornem vulneráveis às alterações na paisagem devido às mudanças climáticas e pela ação antrópica. "Essas ações estão transformando as paisagens ocupadas pelos roedores, principalmente devido à expansão da agropecuária e o aumento considerável dos incêndios em uma das nossas maiores planícies alagadas, o Pantanal", afirma Prado.
Segundo a pesquisadora, essas espécies de rato-do-brejo apresentam histórias independentes para cada um dos biomas sul-americanos e a eliminação de uma única espécie poderá representar a perda de importante parte de histórias evolutivas únicas.
"A América do Sul abriga uma fauna única e diversa de mamíferos, mas a origem e a história desses animais nos biomas do continente ainda são pouco conhecidas e seu estado de conservação merece muita atenção em face das drásticas mudanças ambientais das últimas décadas", diz a pós-doutoranda.
O estudo foi o primeiro no país a utilizar métodos genômicos para delimitar espécies de roedores e descrever sua diversidade. Os pesquisadores se basearam no exame de espécimes preservados em diversos museus de história natural e coleções científicas do Brasil, Estados Unidos e Europa. A maioria dos espécimes da nova espécie no Nordeste é resultante de extensos trabalhos de campo realizados pelo Serviço Nacional de Peste (SNP), depositados no Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (MN) na década de 1950.
"O recente incêndio que devastou essa instituição nos privou de importantes e insubstituíveis exibições e coleções. Os museus e coleções brasileiros são testemunhos de nossa história e fornecem um acesso crítico em nossa busca pelo conhecimento de nossa biodiversidade", afirma.
Publicado originalmente pela Agência Fapesp.
Agência Fapesp
*Com informações da Assessoria de Comunicação da Esalq-USP.
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